TYLER XINGAVA UM PADRE pela janela do carro de seu pai naquela manhã chuvosa de sexta-feira.
Calado e pensativo, o pré adolescente de 12 anos descontava toda sua frustração na pobre autoridade religiosa que gesticulava para Chris, em um assunto aparentemente muito sério e inadiável. Estavam a poucos metros, ainda no salão do internato que, por sorte, manteve suas enormes portas de madeira abertas para Tyler ver seu responsável lá dentro.
— O que acha que eles estão conversando? — A figura de Blurryface surge ao lado do garoto, também muito interessada no diálogo.
Tyler deu de ombros, seus olhos castanhos lentamente acompanhando a queda das gotas de chuva pelo vidro. Seus dedos inquietos brincavam distraidamente com algumas mexas de seu cabelo castanho.
— O padre deve tá falando mal de mim. — Conclui em um murmúrio emburrado.
— A gente podia ter colocado fogo na bíblia no meio do pátio. — Blurryface diz. — Ou inverter todas as cruzes do internato até sermos expulsos. O que acha?
— Muito trabalhoso. — Tyler disse em um suspiro cansado. Não costumava ser bagunceiro, mas talvez aquele padre merecesse uma punição. — Fingir de possuído em uma das aulas dele parece ser uma boa ideia.
— Ainda bem que Deus não existe. — Blurryface conclui para si mesmo.
Ambos ficam em silêncio, a mente de Tyler ainda um pouco adormecida pelo despertar repentino de seu pai indo buscá-lo embaixo de uma tempestade pouco depois do sol nascer.
Se espreguiçando no banco, o garoto cruzou os braços buscando algum conforto no terno infantil feito sob medida para seu corpo. Blurryface, no entanto, não usava nenhuma roupa comprida, além de uma calça preta escura, uma blusa branca sem estampa e uma touca vermelha. Tyler se perguntava se ele conseguia sentir frio, calor, fome ou sede.
— Você tá fodido. — Blurryface diz risonho fazendo Tyler levantar os olhos até a figura de seu pai já ao lado do carro. — Ainda bem que não sou você.
Em um passe de mágica, Blurryface abriu a porta e desapareceu na tempestade. Tyler engoliu seco ao ver a expressão dura de seu pai se sentando no banco da frente em um silêncio mortal.
O homem permaneceu calado dando partida no veículo. As gotas de água pareciam mais densas agora, caindo na lataria do veículo com força. Seu coração se apertou em angústia quando começaram a deixar a área do internato.
— Tudo bem, pai? — Perguntou inseguro.
Chris coçou a garganta. Pelo banco de trás, Tyler pôde ver o maxilar travado do pai em um claro sinal de tensão.
— O seu avô morreu, filho. — Chris anunciou sem rodeios. Os olhos de Tyler se arregalaram. — Vamos até o enterro hoje à tarde e na segunda-feira você volta pra cá.
Tyler não teve reação alguma. Em uma quietude triste, abaixou a cabeça e se encolheu no banco como se aquilo fosse o suficiente para o consolar.
— Por que a mamãe não veio? — Perguntou.
— Ela está doente. — Chris disse, claramente mentindo. — Muito doente. Mas está com saudades.
— Ah.
Ele gostava de seu avô. Amava muito. Também estava com saudade de casa.
Blurryface o consolava dizendo que logo logo aquele inferno iria acabar, que logo logo ambos estariam correndo pelas escadarias de casa brincando e rindo.
VOCÊ ESTÁ LENDO
mine.
Fanfiction" [...] E é só então, no auge da minha introspecção doentia, que eu percebo que sou capaz de qualquer coisa para ver Joshua Dun feliz. Mesmo que isso signifique ferir alguém - ou a mim mesmo." [dark romance]