Capítulo um:
Às vezes o passado te persegue, suas escolhas, coisas que você falou sem pensar ou só disse porque achou que era a única forma de sobreviver, se proteger de si mesma, ou de alguém. Tem vezes que você já está tão dentro do fundo do poço pelo peso das ações que mesmo no fundo, bem no fundo, você não concordasse, mas que mesmo assim fazia sem pestanejar por estar tão envolvida a ponto de achar que a única escolha é continuar nesse ciclo vicioso, por ter sido desde pequena inserida nesse sistema Anita achava que essa era a única opção, continuar um ciclo que para si nem sentido faz, se é que um dia chegou a fazer. E quando teve a oportunidade de se livrar de uma parte desse fardo que a muito carregava, agarrou a chance que a vida estava lhe dando, como se ela dependesse disso.
––Na minha casa em meia hora, escrivã.
Mas, infelizmente, já era tarde demais para isso.
Minutos mais tarde quando a antiga escrivã da polícia cruzou a porta da casa da delegada e encontrou seu corpo caído no chão com um ferimento na cabeça soube que havia chegado tarde demais, mais uma vez, os papéis remexidos em cima da mesa só ajudavam a comprovar isso.
–– Mas que merda Anita. –– Verônica correu até o corpo da loira se ajoelhando ao lado conferindo seu pulso, porém como o esperado não havia mais nada, nada mais além do coração da própria escrivã que agora batia tão forte que estava lhe deixando surda.
Talvez o destino estivesse sendo generoso com a delegada, livrando-a do peso que carregava nas costas todos os dias, fazendo-a pagar por tudo o que já fez, mesmo que no fundo ela não passasse de mais uma vítima, porque era isso que a temida delegada Anita Berlinger era, mais uma vítima desse cruel esquema, que no fim nunca quis fazer parte, mas aprendeu e se acostumou a fazer.
Despertando dos pensamentos a escrivã pega o celular discando o agora tão conhecido número da delegada da delegacia da mulher, talvez o pessoal de Glória conseguisse pegar as imagens das câmeras de segurança e ver quem tinha entrado e feito isso com a loira, por mais que soubesse que quem tinha feito isso fosse Matias, Verônica só precisava provar que o missionário esteve ali antes dela.
–– Alô?
–– Vem pra casa da Anita agora e pega as imagens das câmeras.
Tempos depois a delegada cruza a porta encontrando uma Anita ainda caída e uma Verônica andando desesperadamente de um lado para o outro.
–– Mas que porra Verônica.
–– Eu sei, ela tinha me ligado, estava disposta a ajudar, eu sinto isso, mas alguém chegou antes, você sabe quem né?
–– O Matias, ou alguém do esquema dele.
–– Acho que não, se fosse só alguém do esquema Anita teria revidado e conseguido se salvar, só pode ter sido o Matias, ela deve ter travado quando o viu, ou abaixou por um mínimo de tempo a guarda ou até os dois ao mesmo tempo. –– Verônica se aproxima novamente da loira mas não sente pulsação alguma.
–– Doutora, conseguimos as imagens que você solicitou, acho que a senhora não vai gostar nada do que vai ver. –– E como o esperado as câmeras só mostravam a escrivã entrando na casa e tempos depois a delegada chegando junto de uma viatura, tudo antes disso era a mais pura tranquilidade, nada anormal.
–– Vão te culpar pela morte dela Verônica, você sabe disso.
–– Que porra! Glória, a gente dá um passo pra frente e esses filhos da puta nos jogam trinta pra trás. –– A escrivã passa as mãos pelos cabelos curtos os puxando para trás.
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Maybe there are colors in my life
FanfictionVerônica nunca imaginou querer tanto que o que ocorreu com Anita mudasse, que o falecimento da delegada não passasse de uma invenção da sua cabeça, mas, infelizmente a delegada tinha morrido, era um fato, ou parecia ser um. Agora a escrivã terá que...