1. Crush(s)

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— Benjamin! Acorda! — fortes batidas estrondearam ao outro lado da porta. Andrew gritava com sua voz fina e abafada. — Já são sete horas, você tem que me deixar na escola.

Virei todo o meu corpo sobre a cama de modo que ficasse de frente para a porta.

— Ah — gemi roucamente. — Já tô indo — levantei-me da cama vagarosamente e me espreguicei. Em seguida, recolhi meus óculos acima do criado-mudo branco e os coloquei. Os olhos cerrados por conta da luz amarelada adentrando pela janela.

Eu estava sonolento demais para perceber o quanto eu estava atrasado. Passei reto pelo despertador o qual cintilava o horário em vermelho neon e fui pegar minhas roupas jogadas sobre a escrivaninha. Verifiquei embaixo de minha cama, como todas as manhãs, se minha caixa ainda se mantivera no mesmo lugar. Ela estava lá, majestosa e secreta como sempre queria que estivesse, o vermelho brilhante esbanjando-se pelo piso.

Levantei-me e peguei meu celular no canto da escrivaninha, notei as duas mensagens em meu WhatsApp, e era o Robbie, então verifiquei.

Rob 💕: Mia e Christopher terminaram! Acabei de descobrir. Agora é sua chance de ir pra cima 🥳🏳️‍🌈

Rob 💕: Ah. Você fez os exercícios de Física? Makena não quis me passar as últimas duas respostas :(

Você: O Christopher não é gay, Robbie.
Vou te enviar uma foto das respostas 🙂

Enviei-lhe uma única foto da folha e desliguei o celular, o jogando sobre a cama logo depois.

Após terminar minhas necessidades no banheiro coloquei meu moletom branco e uma calça jeans azul-marinho. O par de tênis All-Star branco e desbotado estava jogado no canto, então eu o calcei como única opção. Preparei minha mochila rapidamente a abarrotando com os livros que talvez fosse usar na aula de Biologia. A imagem dos pinguins adoráveis como o ursinho branco de Andrew agora estava desfigurada, eu os introduzi com tanta força que seria estranho se não terminassem danificados. Já preparado, peguei meu celular sobre a cama.

— Vamos logo, Benjamin! — Andrew berrou mais uma vez, mas antes que ele continuasse eu abri a porta com ímpeto. — Ah, finalmente — eu o empurrei apressadamente para o primeiro andar.

Andrew era um típico irmão mais novo que enchia sua paciência até que você explodisse, mas eu o amava na medida do possível. Aliás, era ele que sempre esteve todas as noites que eu resolvia externar mais um de meus fracassos amorosos. Seus concelhos tão inteligentes e certeiros quanto os de Robbie. Ainda era impressionante como era sua perspicácia e conhecimento com apenas doze anos de idade.

Meu pai, Jordan, estava criando mais um desastre na cozinha. O cheiro de queimado continuava envolvendo todo o primeiro andar.

— Bom dia, Benjamin! — meu pai cantarolou enquanto verificava a panela quase em chamas. Remexeu-a e depois teve tempo de sorrir para mim.

— Papai, nunca vai aprender a cozinhar? Jamais pensei que diria isso, mas, eu prefiro quando o Benjamin cozinha — disse Andrew, sua sobrancelha erguida. Depois ele agarrou seu lanche num pacote e correu para fora.

— Andrew te elogiou em alguma coisa, Benjamin — disse meu pai, desamarrando o avental verde musgo manchado estranhamente por uma cor amarronzada.

Meu pai era uma das pessoas mais especiais que já estiveram em minha vida. Sempre dizendo que quando eu dizia que o amava era o mesmo de "quero sair com seu carro", mas, eu era sincero demais para que pudesse me aproveitar rudemente de seus bens materiais e os usasse descaradamente. E eu mal sabia dirigir corretamente. Quanto a minha mãe, sempre fomos um pouco distantes, meu pai e ela são separados a dez anos, tempo o bastante para que afetasse mais o Andrew do que eu. Sempre a visitavamos aos fim de anos em Orlando. Possivelmente irei vê-la antes de minha formatura.

As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora