14. Triângulo

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— Amigo? O que foi aquilo? Você acabou com a raça daquela cobra. Viu como todo mundo ficou impressionado? Devia ter visto a cara do... Blake. Ele te deu um fora? Mesmo?

Robbie tagarelou quando me encontrou no banheiro masculino. Eu estava com as mãos apoiadas na pia, olhando para baixo, pensativo. Eu mal registrei as palavras dele enquanto ele entrava no banheiro, ainda perdido nos meus próprios pensamentos. Minhas mãos apoiadas na pia estavam frias, e eu me forçava a respirar fundo, tentando processar tudo o que havia acontecido. O confronto com Scarlett, a admissão pública dos meus sentimentos, a reação de Blake... Era como se tudo estivesse acontecendo rápido demais, e eu estava lutando para acompanhar.

Olhando para baixo, observei o reflexo borrado das luzes no espelho. Minha mente estava um ciclone de emoções conflitantes: alívio por ter enfrentado Scarlett, culpa por ter exposto meus sentimentos, e um profundo medo de como as coisas seriam a partir de agora. 

Eu não sabia o que fazer a seguir, ou como deveria me sentir. Parte de mim queria acreditar que, de alguma forma, tudo aquilo poderia levar a algo positivo, mas outra parte estava aterrorizada com as possíveis consequências. E quanto ao Blake? Ele estava feliz, impressionado? Ou talvez... arrependido? 

Dispersei meus pensamentos quando sacudi a cabeça, e me virei para Robbie que agora estava mais próximo de mim, respondendo sua pergunta:

— Sim... ele disse que... não sentia a mesma coisa por mim, ontem, na festa do Charlie —  contei a ele enquanto me abraçava. Eu não queria chorar pela milésima vez, mas não consegui segurar. — Eu me senti tão... idiota, de ter acreditado que talvez ele sentia alguma coisa por mim. 

Robbie fez um biquinho. — Oh, amigo, vem aqui — ele me puxou para um abraço. 

Robbie me segurou firme, e eu senti o conforto imediato de sua presença. Ele sempre soube como estar ali nos momentos em que eu mais precisava, e agora não era diferente.

— Eu sei que dói, e você tem todo o direito de se sentir assim. Mas não se culpe por ter acreditado, tá? Ter esperança não faz de você um idiota. Eu já passei por isso, mais do que posso imaginar. Ser gay nunca vai ser tão fácil assim.

Eu absorvi suas palavras, derramando lágrimas em seu ombro, senti uma mistura de conforto e tristeza. Era como se Robbie estivesse me mostrando que havia uma luz no fim do túnel, mesmo que o caminho fosse difícil. E então, ele me afastou, ainda com as mãos em ambos meus braços, segurando-me.

— E quer saber o que é mais importante? Que você não perca a fé em quem você é e no que você merece. Você é incrível, Benjamin, e um dia alguém vai enxergar isso e te amar do jeito que você merece ser amado. E olha, eu fiquei impressionado com o que fez hoje, nunca te vi daquele jeito, fiquei até assustado — ele soltou uma risadinha nervosa ao lembrar da minha atitude mais cedo. 

Não pude evitar de soltar um pequeno sorriso. Sequei as lágrimas. Eu me senti mais leve, como se um grande peso escorresse como água corrente de meus ombros. 

Mas ainda havia algo que tinha que contar a ele: sobre Lucas e Elliot. Sua reação já seria previsível, ele iria surtar, com certeza. Me preparei emocionalmente.

— Também... nesse final de semana, o Lucas e o Elliot disseram que gostam de mim, mas... — cruzei os braços, vendo sua boca se abrir a medida que eu ia falando. — Eu tô tão confuso que nem tive tempo de ficar feliz, ou, de pensar no que eu ia fazer com eles depois.

Os olhos de Robbie estavam arregalados, e eu podia ver a incredulidade tomando conta de seu rosto. Ele piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar o que eu acabara de dizer. — Espera, o quê?! — ele finalmente exclamou, a voz meio esganiçada. — Lucas e o Elliot? Os dois... disseram que gostam de você? Ao mesmo tempo?

As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora