16. O Beijo

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Fui dormir com essa sensação estranha me envolvendo, um peso no peito que parecia só aumentar. Quanto mais eu pensava em Blake e em como ainda desejava tê-lo ao meu lado, mais a culpa se aprofundava, como se cada pensamento fosse uma faca cravada no coração de Lucas. Era horrível. A imagem de Lucas, tão gentil, tão amoroso, sendo ferido por meus próprios sentimentos, me atormentava.

Eu me virei na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas não havia como escapar da inquietação que me consumia. A cama parecia grande demais, fria demais, e meus pensamentos não paravam de girar em círculos, semelhante a um carrossel. Cada vez que fechava os olhos, era como se visse a dor que estava causando a Lucas, mesmo sem querer. Era como se estivesse traindo alguém que não merecia nada além do melhor de mim.

E, no entanto, o desejo por Blake ainda estava lá, inabalável, insistente e quase infinito. Como eu podia me sentir assim? Como podia querer uma coisa e, ao mesmo tempo, saber que isso estava destruindo outra pessoa? Era uma guerra interna, uma batalha entre o que eu sentia e o que sabia que era o certo.

A culpa, o arrependimento, o desejo — tudo se misturava em um único recipiente dentro de mim, e isso me deixou ainda mais exausto. Eu queria fazer a coisa certa, mas o que seria isso? Abrir mão de Blake e tentar seguir em frente com Lucas? Ou ser honesto sobre meus sentimentos, mesmo que isso significasse machucar alguém que se importava tanto comigo?

Essas perguntas me dominaram até que, finalmente, o sono me venceu, mas mesmo enquanto eu caía na escuridão, a sensação de culpa e confusão permaneceu, como uma sombra amedrontadora que me acompanhava o tempo todo. 

Era sábado, até que enfim, e eu estava cansado. E não era um cansaço do dia a dia, já que nem sequer apareci na escola essa semana, era um cansaço mental, e eu não queria me lembrar disso. 

Na tarde, para tentar aliviar um pouco esse fardo, chamei Andrew para assistir a um filme de terror no meu quarto. Ele e papai prepararam hambúrgueres para o lanche, e Andrew trouxe um prato para mim, entrando no quarto com um sorriso acolhedor e os braços carregados de comida. Ele havia trazido também grandes copos que continham Coca-Cola dentro.

Enquanto Andrew ajeitava os travesseiros e colocava o filme para rodar, eu me encolhi na cama, tentando afastar os pensamentos que insistiam em me perseguir. O cheiro dos hambúrgueres frescos enchia o quarto, e me animou uma parcela.

O filme se desenrolava na tela, e eu tentava me concentrar nas cenas de terror, mas minha mente insistia em voltar para os acontecimentos da semana. A atmosfera do filme deveria ser sufocante e assustadora, mas, na verdade, parecia apenas uma distração superficial para a tempestade de pensamentos que fervilhava dentro de mim.

Dei uma mordida no lanche, tentando saborear a carne junto da salada, mas o gosto parecia distante, quase inexistente. Andrew, porém, parecia mais atento a mim do que ao filme. Eu o vi me lançar olhares furtivos, sua preocupação evidente, mesmo que ele tentasse disfarçar.

Finalmente, depois de um susto particularmente intenso no filme, Andrew pausou a reprodução e se virou para mim, com uma expressão séria.

— Benji, você tá bem mesmo? — ele perguntou, a voz carregada de preocupação. — Sei que não foi pra escola a semana toda, achou que poderia me enganar? Você nunca fez isso. Deve estar acontecendo alguma coisa.

Meu coração disparou num susto, o efeito de sua pergunta inesperada. Decidi fingir que não havia nada. — Eu tô bem, Andrew. Não fui pra escola por que... sei lá... minha frequência tá intacta, então decidi que essa semana eu ficaria em casa. 

Ele franziu a testa e fez uma expressão de desconfiança.

— Ah — ele resmungou. — Já te disseram que é um péssimo mentiroso? Tenta se esforçar na próxima vez. Vai, me diz o que tá acontecendo... Eu já sei que é por causa do Blake, mas por que você tá tão diferente?

As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora