Epílogo

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O amor é uma sensação linda, linda demais para existir, parece até uma fantasia. E eu estava mais feliz do que nunca quando Blake disse tudo aquilo para mim, que me amava profundamente, era só isso que eu precisava ouvir. Uma grande cachoeira cristalina parecia se encher dentro de mim, quase que transbordando; uma sensação que muito tempo desejei para ter, mesmo que só por alguns segundos, alguns minutos, algumas horas, mas parecia que era para sempre. Igualzinho a frase clássica que se é dita no final de alguns contos de princesas. "E eles viveram felizes para sempre". 

Cada segundo parecia se esticar, como se o tempo parasse para que pudéssemos aproveitar esse momento eterno juntos. Não era só uma declaração de amor, era uma promessa silenciosa, uma certeza de que, ao lado dele, eu podia ser quem eu realmente era. E, embora parecesse o final de um conto de fadas, eu sabia que para nós, aquele era apenas o começo. O começo de algo verdadeiro, algo que eu estava disposto a viver intensamente, como se o "felizes para sempre" estivesse finalmente ao nosso alcance.

Nós já estávamos em minha casa, nos abraçando na varanda, um gesto entre nós que por mim poderia ser infinito. Era um de meus sonhos mais comuns, o qual já citei uma vez. Onde eu o envolvia com tanta força que eu poderia jurar que nossos corpos eram únicos. Agora, tudo era real. Seu doce aroma era realmente apaixonante. E dessa vez, ele também me abraçava, deixando-me encolher por completo em seu peito onde eu poderia ficar por horas sem me cansar. E felizmente, eu não saía dali quando meus olhos se abriam, nem voltava ao cubículo cinza e azul o qual era meu quarto. Eu apenas me deixava sentir com muita intensidade, soltando meu ar leve sobre seu peito robusto, também sentindo a sua respiração.

Ele me soltou, infelizmente, ainda estava gravado em seu olhos um grande olhar significativo. — Não queria ter que te dar "boa noite". Queria ficar aqui a noite inteira com você em meus braços — disse ele com um tom brincalhão, fazendo um biquinho.

— Não sabia que era tão grudento.

— O quê? — ele soltou uma risada baixa. — Você com certeza é mais grudento que eu.

— Ah, eu não sou não. Tudo isso começou por que sentou do meu lado no dia da aula de laboratório de Química. 

— Não, nada disso. Foi você quem me escreveu uma carta de amor.

— É... meio que tinha me esquecido desse detalhe. Eu admito, sou mais grudento que você.

— Eu venci — ele sorriu, a feição manhosa. E eu me prendi nela.

Isso está acontecendo mesmo? Blake era real? O que estou vivendo é mesmo real? Ponderei, quase me beliscando.

Ele me agarrou pela cintura, o que me fez corar imediatamente, fez também meu coração disparar. Talvez fosse levar tempo para me acostumar com toda essa proximidade. Ter seu rosto perfeito tão próximo assim ainda era novidade para mim. — Brownies semana que vem. Ainda se lembra, né? Foi uma tortura ter ficado sem eles semana passada — ele disse com um sorriso leve.

Eu sorri de volta, tentando controlar a batida acelerada do meu coração. — Deixa comigo. Vai ter seus deliciosos brownies semana que vem. Tem alguma sugestão de qual barra de chocolate posso pôr em cima?

Ele franziu a testa, pensativo por um momento. — Ah... pode ser aquela que você usou, era um tal de... Milka Oreo, né? Eu achei uma delícia.

— Exato. Tudo bem, então. Vou fazê-lo com muito carinho — respondi, tentando transmitir a felicidade que sentia naquele momento em cada palavra.

— Não se preocupa em perder esse corpinho perfeito de jogador? Depois de comer brownies toda semana? 

— Esse é o menor de meu problemas, amor... Posso te chamar de "amor"? 

O apelido que Blake me dera me pegou de surpresa, e por um instante meu coração parou. Amor? A palavra ecoou na minha cabeça, ela parecia tão carregada de um sentimento singular. Eu não estava preparado para ouvir aquilo tão cedo, e senti meu corpo enrijecer. Era estranho, talvez porque sempre achei esses apelidos um tanto bregas, mas vindo de Blake... parecia diferente, parecia certo.

Pisquei algumas vezes, tentando processar tudo, e senti um leve calor subir pelas minhas bochechas. Ele percebeu minha hesitação, e por um segundo achei que ele fosse recuar, mas ao olhar para seus olhos, eu vi apenas carinho.

— C-claro — acabei respondendo, minha voz um pouco vacilante. — Só... acho meio brega, mas se você gosta, tá tudo bem.

Blake riu, aquele riso leve e contagiante que sempre me fazia sentir mais tranquilo.

— Eu prometo não exagerar, então — ele disse, me puxando um pouco mais para perto, como se quisesse reforçar que, brega ou não, aquilo era real.

E então, ele me beijou outra vez.

O beijo que se seguiu foi suave e reconfortante, um lembrete de que todo o amor que ele havia expressado não era apenas um sonho, mas uma realidade palpável. Seus lábios tocaram os meus com uma ternura que parecia dissipar qualquer dúvida remanescente, transformando o momento em algo ainda mais real e significativo.

Eu ainda estava imerso em uma sensação de surrealidade, como se tudo aquilo pudesse desaparecer a qualquer instante, como se eu pudesse acordar a qualquer momento e perceber que tudo não passara de um sonho. Mas o beijo de Blake era uma confirmação concreta de que estávamos ali, juntos, e que todo o amor que ele havia prometido era real.

Aquela noite estava repleta de promessas silenciosas e de um amor tão profundo que parecia preencher cada espaço do meu ser. Cada toque, cada olhar, era uma prova de que estávamos exatamente onde deveríamos estar, e que, apesar da estranheza da situação, tudo se encaixava perfeitamente.

Depois, ele desconectou nossos lábios lentamente, sua feição parecia surreal. — Boa noite, Ben.

Suspirei, o ar estava leve. — Boa noite, Blake. Eu te amo.

— Também te amo.

Ele estava indo embora, soltando lentamente a minha mão, como se não fosse de seu desejo soltá-la. 

Blake começou a se afastar, mas seu olhar permaneceu fixo em mim por um momento, como se quisesse guardar cada detalhe daquela noite em sua memória. Cada passo que ele dava parecia hesitante, como se estivesse relutante em deixar aquele momento especial para trás. A noite estava silenciosa, e o som de seus passos se misturava com a brisa suave que passava pela fachada.

Quando ele finalmente entrou no carro e fechou a porta, olhei para ele, esperando um último gesto ou um último olhar. E então, ele acenou para mim através da janela, um sorriso sereno no rosto. O carro se afastou lentamente, e eu fiquei ali, de pé, sentindo uma mistura de felicidade e saudade, esperando o momento em que estaríamos juntos novamente.

A noite voltou a ser tranquila, mas agora havia uma nova sensação de contentamento no ar. Eu continuei ali por um tempo, absorvendo cada momento, cada palavra, cada toque, como se tentasse guardar essa noite especial em cada parte de mim.

Depois, entrei para dentro e fechei a porta devagar, evitando qualquer tipo de barulho. 

Me encostei na porta, sorrindo, ainda sentindo os lábios de Blake em contato com os meus.

As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora