7. Químicas

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Infelizmente, já era segunda-feira, marcando o início de uma nova semana que prometia surpresas inéditas, mas não do tipo agradável como as de um aniversário planejado sem que você soubesse. Eram surpresas misteriosas, gerando uma ansiedade constante. Os últimos três dias foram repletos de eventos, tanto traumáticos quanto positivos, e, de maneira surpreendente, nada do que aconteceu conseguiu me abalar completamente. Isso é notável, considerando que eu nunca estive acostumado a sentir alívio e serenidade por tanto tempo - uma simples matéria difícil de entender já era suficiente para me deixar completamente fora de si, algo bastante incomum para mim.

Acordei cedo nesta manhã, pois precisava me preparar para ir à escola. Hoje, minha turma terá uma aula prática de Química no laboratório sobre soluções, minhas aulas preferidas, o que diminuiu minha tensão em ter que ir.

Meu maior receio e uma das principais razões para considerar ficar em casa era a possibilidade de encontrar meus quatro pretendentes. Passei a noite inteira pensando no dia de hoje, questionando se seria uma boa ideia comparecer à aula, mas não havia justificativa para fugir. Convenci-me de que, mais cedo ou mais tarde, o universo conspiraria contra mim e me obrigaria a enfrentar a situação da qual estava tentando escapar. E notei que seria uma experiência pior que enfrentá-la a qualquer momento, partindo de minha disposição em combatê-la; não queria que isso se transformasse naqueles tipos de pesadelos, onde você corre incansavelmente de algo lhe perseguindo e não consegue se mexer ou gritar por ajuda.

Entretanto, eu estava cheio de expectativas para encontrar Blake na aula, mais que os outros três - totalmente mais que os outros. E então, vivenciar novamente a sensação depois de ver seu sorriso abrindo-se, a oitava maravilha do mundo. Talvez fosse por isso que eu parecia mais apegado a escola do que antes, por isso comecei uma guerra entre minhas ideias quando indesejadamente preferi ficar deitado o dia inteiro em minha cama.

Papai fez panquecas para o café da manhã e as recheou com Nutella para mim e Andrew levarmos para a escola, não demoramos muito para sair, apenas abracei o papai e o desejei um bom dia quando nos entregou as panquecas guardadas dentro de um vasilhame. Também foi uma surpresa para mim o fato de nosso trajeto ter sido mais tranquilo que há uns dias atrás, consegui controlar aquele solavanco violento como se eu tivesse maestria, mas Andrew continuava fechando os olhos quando eu fazia as curvas nas esquinas.

Como todos os dias, passei na casa de Makena para levá-la junto comigo, e depois deixei Andrew em sua escola e partimos para a nossa logo em seguida.

Tudo parecia tão normal na escola, e estava normal, mas ainda parecia um pouco diferente em meu universo particular. Até os sons, embora familiares, pareciam ecoar com uma leve distorção nos corredores. Era como se uma capa invisível estivesse me encobrindo, fazendo com que tudo em volta fosse de modo figurado moldado com uma nova textura.

Estávamos caminhando pelo corredor quando Robbie me fez uma pergunta inusitada.

- Ainda não contou pra Makena sobre ontem?

- O que? O que aconteceu? Você passou mal de novo? - ela agarrou meu ombro preocupada.

- N-não, eu estou bem.

- Não vai acreditar, ele escreveu cartas de amor pros quatro - Robbie começou. - e escondeu elas numa caixa debaixo da cama dele. Mas daí, o Andrew achou essa caixa e enviou as cartas pra todos eles. E ontem, do nada, todos eles apareceram na porta do Benjamin a tarde pra falar das cartas que receberam. Eu estava lá. Acredita que ele passou mal e quase desmaiou? Mas conseguimos ajudar ele a tempo e ficou tudo bem. Inclusive, o Blake conversou com ele a sós quando todo mundo saiu, disse pra ele que ia pensar sobre a carta - ele concluiu, por fim, atirando seus olhos para mim enquanto sorria.

As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora