As Cartas de Benjamin

13. Martírio

Blake POV

Eu fiquei parado na fachada, vendo as luzes traseiras do carro do Ben desaparecerem na escuridão. Cada parte de mim gritava para correr atrás dele, para consertar o que acabei de fazer, mas eu não conseguia me mover. A culpa e o desespero se misturavam dentro de mim, apertando o nó no meu peito cada vez mais enquanto ele se afastava.

Escolhi a negação, achando que isso resolveria algo, mas só consegui criar uma barreira ainda maior entre nós. Agora, sinto-me prisioneiro do meu próprio silêncio, incapaz de desfazer o estrago que causei. Quero dizer a verdade, abrir-me e confessar o que realmente sinto, mas algo dentro de mim bloqueia as palavras, como se admitir meus sentimentos fosse uma fraqueza, um risco que não estou preparado para enfrentar.

Eu me odeio por isso. Odeio a fraqueza que me impede de ser honesto, odeio o medo que me mantém preso. E, mais do que tudo, odeio o fato de que, na minha tentativa de me proteger, acabei ferindo uma das pessoas que mais amo neste mundo.

Eu tinha em mente que, eu era a droga do cara mais popular da escola, a estrela do time de futebol, e tudo o que isso significa... É como se o mundo estivesse sobre os meus ombros, esperando que eu seja perfeito, que eu seja alguém que eles admiram e seguem. Mas e se descobrissem que... eu gosto de caras? Que eu amo o Ben?

Fiquei enfurecido com esses pensamentos, pus a mão por entre meus fios de cabelo como se quisesse os puxar e arranca-los um por um. O que as pessoas diriam? O que meus amigos pensariam? E se eu perder tudo, o respeito, as oportunidades no esporte... Eu não poderia arriscar. Então, quando Ben me perguntou se eu sentia o mesmo, eu... eu menti. Porque, naquele momento, o medo venceu o que eu realmente sentia. E agora, estou aqui, me odiando por isso, mas sem saber como fazer diferente.

O pensamento de Lucas confessando seus sentimentos por Ben me deixava louco. Como ele ousa? Como ele tem a coragem de fazer o que eu não consegui? Era tão fácil assim pra ele? A raiva me consumia, misturada com um ciúme ardente que eu mal podia controlar. Eu queria procurá-lo, e bater mais nele, fazê-lo entender que Ben é... que Ben é... Mas o quê? Que Ben é meu? Só que ele não é. Porque eu sou covarde demais para assumir isso. E agora Lucas está lá, talvez preenchendo o vazio que eu deixei, enquanto eu fico aqui, me remoendo em arrependimento e ódio.

Como ele pôde dizer aquelas coisas? E se Ben realmente começar a gostar dele? Não, eu não posso permitir que isso aconteça. Eu preciso fazer algo... Mas o quê? Como posso consertar isso sem destruir tudo? A cada segundo que passa, sinto que estou perdendo Ben para ele. E isso é insuportável.

Benjamin POV

Caminhei sobre a fachada da minha casa, os passos eram barulhentos e lerdos, e uma brisa fria me encobria. O futuro parecia uma estrada nebulosa, cheia de incertezas e medos que eu havia tentado ignorar, mas que agora se acumulavam de uma vez só. Eu sempre tive uma tendência a exagerar quando as coisas davam errado, mas desta vez, o drama parecia merecido. O que seria de mim agora? Essa pergunta ecoava incessantemente na minha cabeça, e por mais que eu tentasse, não encontrava uma resposta. Sentia-me completamente perdido, como se estivesse à deriva em um vasto oceano de incertezas, sem nada a que pudesse me agarrar para me manter à tona.

Eu não tinha que pensar em Blake outra vez, ou com sua declaração assassina, isso me faria me afogar mais fundo no mar de sofrimento que crescia dentro de mim, uma fonte de martírio infinito. No entanto, ainda havia Lucas. Ele havia me confessado que gostava de mim, talvez, até me amasse. Era difícil processar isso, especialmente agora, quando tudo parecia tão fora do lugar. Mas havia uma época, lá no quinto ano, em que Lucas era meu sonho, a pessoa que eu mais desejava ao meu lado. Eu costumava fantasiar sobre ele, sonhando acordado com a possibilidade de um dia ele sentir algo por mim. Agora, essa realidade estava à minha frente, mas em vez de me sentir eufórico, eu estava mergulhado em uma mistura de dor e incerteza.