6. Nova Vida

32 4 0
                                    

Ainda encolhido no sofá com as pernas cruzadas, dei-lhes a oportunidade de dizerem o que queriam para mim, finalmente. E tudo bem se falassem em uníssono como fizeram na varanda. Permaneci em silêncio, aguardando-os. Blake estava ao meu lado, com os olhos baixos e os braços cruzados. Embora eu tivesse certeza do motivo, ainda era difícil decifrar o que realmente o fez reagir daquela forma tão evidente. Eu estava mais assustado do que quando vi meu primeiro filme de terror. Já era certo que as cartas prejudicariam nossa relação daqui para frente, mesmo que não acontecesse, ainda teria um impacto significativo. E não se aplicava apenas para Blake, mas com todos os quatro. Embora nossa relação não fosse tão gratificante, havia uma pequena conexão simples entre nós. Blake não prestava atenção em mim, o que achei estranho, pois ele se manteu me observando continuamente quando eu estava prestes a desmaiar. Talvez estivesse perdido em pensamentos, refletindo seriamente, e eu não o julguei, afinal, quem não reagiria assim ao receber uma carta de amor inesperada de uma pessoa próxima?

Em pé na minha frente, Christopher inspirou um pouco de ar, ele estava se preparando para falar.

— Então, Benjamin, já que parece estar melhor agora eu vou falar... sobre a carta. É... Como já deve ter percebido, nos anos todos que já estudamos juntos, eu não sou... — ele parou de falar, gesticulou para que eu entendesse o que queria dizer.

Gay, você não é gay, eu sei — adivinhei, os olhos caídos. Desse fato em específico eu já tinha certeza.

— Exato. Mas não tenho nada contra, você sabe né? Ainda te vejo como meu colega e a carta não vai mudar nada entre a gente.

Colega. Não me entristeci com esse título que ele me dera, seria até melhor que fôssemos apenas colegas diante de tudo que ocorreu.

— Ok — assegurei, minhas sobrancelhas se ergueram.

Do outro lado, Elliot apertou os olhos com os dedos, sofrendo com a fala antecedente de Christopher.

— Benjamin, eu... fiquei muito surpreso com a carta e um pouco feliz também, nunca tinha recebido nada do tipo — Lucas agora estava participando, olhando para a carta. — Eu gosto muito de você, mas, como amigo, desde o quinto ano. Não consigo te ver de outra forma, pode me entender?

— Sim, eu entendo.

Por que isso doeu tanto? Doeu mais do que eu esperava, embora tenha me preparado antes para senti-la. Senti como se meu estômago estivesse girando dentro de mim e estava prestes a escorregar pela minha laringe e pular pela boca. Quanta mais eu fitava o seu olhar, mais me afogava numa parcela do sofrimento que aparecia como uma enchente dentro de mim. Fitei o tapete felpudo de novo.

Ainda evitando contatos visuais, senti a vibração da expiração de Elliot espalhando-se pelo ar.

— Quero falar com você outra hora. A sós. Pode ser? — perguntou Elliot, ele colocou as mãos por trás das costas; sem dúvidas era uma mania que ele tinha.

Franzi a testa levemente. Tentei imaginar o porquê da sua solicitação, agora não seria a melhor hora e a mais adequada para falarmos sobre?

— Claro — acenti e sorri com os lábios.

— Tudo bem. Eu já vou pra casa, tenho algumas atividades de amanhã pra fazer. Vejo você na aula — despediu-se Elliot, por fim.

Depois, ele lançou-me um sorriso fatal, seu rosto era tão adorável que parecia me desmanchar todas as vezes em que eu fosse audacioso em observá-lo.

— Tchau — acenei languidamente, ainda pávido, sem acrescentar um discurso de despedida o qual o mesmo fizera; foi para o meu bem.

— Até mais, pessoal — ele acenou na direção de Lucas e Christopher, e eles o responderam.

As Cartas de BenjaminOnde histórias criam vida. Descubra agora