Greek God

14

Já era mais de meia noite quando Josh grunhiu em frustração mais uma vez, tentando inutilmente se fundir com o colchão para não sair de casa.

Jordan e Abigail estavam em alguma festa do colégio e seu pai havia ido os buscar há mais de uma hora. Ashley estava na casa do namorado, e Laura já estava no seu quinto sono. Sem ninguém para o salvar, o adolescente esconde o rosto no travesseiro ouvindo seu celular vibrar pela terceira vez seguida.

joseph: ja to indo
joseph: vamos de ape
joseph: coloca a roupa mais emo que tiver

josh: o que?

joseph: to quase chegando

Josh bufa frustrado. A luz dos postes era a única iluminação no quarto escuro, e seu banheiro aberto ainda liberava o vapor do banho que ele tomou menos de cinco minutos atrás. Foi o terceiro da noite.

Já estava vestido e perfumado. Os dentes perfeitamente escovados e o cabelo secava naturalmente após uma hidratação minuciosa. Desde que Tyler lhe disse que o destino de ambos era um lugar super secreto, se sentia cada vez mais ansioso e arrependido.

Não sabia o que esperar, e o que não esperar. Não sabia praticamente nada sobre Tyler - exceto que a cada dia que se passava, sentia mais raiva dele e de Mark que o encorajou a fazer aquele acordo de paz inútil.

joseph: cheguei

Lendo a mensagem pela barra de notificação, Joshua engoliu seco, percebendo que, outra vez, ficou absorto nos próprios pensamentos sem ver os minutos passando.

Tomando coragem, se levantou da cama acendendo a luz e calçando um um par de coturnos pretos, no mesmo tom do resto de suas roupas. Se olhando no espelho mais uma vez, arrumou o cropped escuro que mostrava parte de sua cintura e abdômen, colocando uma jaqueta preta e checando mais uma vez o lápis em seus olhos.

Pega as chaves da porta da frente juntamente com seu celular e apaga a luz. Respira fundo antes de abrir a janela, tentando ao máximo não fazer barulho. Na penumbra da noite, enxerga a silhueta preta de Tyler no jardim logo abaixo de seu quarto.

- O que tá fazendo ai? - Joseph pergunta em um tom baixo e confuso. - Vai pela sala.

- Fala baixo porra! - Josh retruca sussurrando , colocando as pernas para fora da janela.

- Vai se fuder! - Tyler sussurra. - Se você cair não vou te ajudar.

Josh ignora o comentário, descendo o telhado com a facilidade de quem já fez aquilo muito mais vezes do que se lembrava. Joseph cruza os braços, observando a cena em silêncio e com um pequeno sorriso que ninguém conseguiria ver no escuro.

- Não precisou ajudar. - Josh responde assim que alcança o chão, parando em frente ao colorido. - Pra onde vamos?

Tyler não responde. Sequer olha para seu rosto; os olhos colados na roupa de Joshua, praticamente mastigando cada centímetro, do pé até a jaqueta. Apesar da pouca claridade causada pela lua cheia, conseguia enxergar perfeitamente os mínimos detalhes do corpo alheio. O coturno brilhando, a calça folgada presa na cintura por um cinto com argolas prateadas e claro, o lápis de olho.

- Você tá muito lindo. - Deixa escapar, praticamente babando.

Josh contém um sorriso tímido, sentindo um formigamento incomum no estômago. Tentando disfarçar, observa o céu estrelado ainda sentindo os olhos em seu quadril.

- O lugar que nós vamos é segredo. - Tyler finalmente fala, um sorriso de canto estampado no rosto. - Já te falei.

Ele começa a se afastar do gramado em direção a calçada, silenciosamente chamando Dun para acompanhá-lo. Vestia um moletom preto estampado com o nome de Ohio, uma touca preta escondendo os cabelos rosados e uma calça preta sem nenhum detalhe. Também estava bonito, Josh se permite pensar antes de se repreender.

Caminhando quietos pelo asfalto, observam a rua sem nenhuma movimentação. Nenhum assunto surge entre os dois, a mente de Joseph ocupada demais pensando se Dun gostaria da surpresa, e a mente de Dun ocupada demais pensando no elogio de minutos atrás.

- Seus irmãos também foram na festa de Halloween do colégio? - Tyler quebra o silêncio chutando uma pedrinha. - Jay quase matou minha mãe de tanta insistência pra ir.

Pelo canto dos olhos, Josh o vê pegando um cigarro do bolso de sua calça e levando até os lábios. Pela forma que as mãos buscam o isqueiro quase desesperadas, supõe que ele está ansioso.

- Era pra irmos pegar doces, mas minha mãe disse que é importante eles começarem a fazer isso com os amigos. - Comenta dando de ombros. - Não sabia que tinha um irmão pequeno.

Tyler traga profundamente, apreciando o gosto da nicotina na boca antes de responder.

- Tenho o Jay, de dez anos.

Josh concorda calado. Continuam o trajeto em silêncio, deixando Tyler tragar o cigarro lentamente e apagar a bituca com a sola do sapato ao chegarem em uma garagem aleatória de uma casa aleatória.

- É aqui? - Dun pergunta analisando a casa perfeitamente comum.

- Espera só um pouco. - Tyler responde se abaixando para entrar na garagem rapidamente, como se conhecesse o caminho. - Pode vir.

- Tyler, de quem é essa casa?

- Vem logo.

- Tyler nós estamos invadindo uma casa.

- Joshua. - A mão de Tyler passa por baixo da porta, a palma aberta em direção ao adolescente. - Você não confia em mim?

★★

- Tyler Joseph! - Josh chama, batendo o pé no chão como uma criança birrenta. - Esse lugar é ilegal?

Tyler para de andar, se virando para cima com uma expressão confusa no rosto.

- Por que eu traria você pra um lugar ilegal, Dun?

- Sei lá, pra traficar meus órgãos?

Estavam na garagem da casa misteriosa. Ou melhor, na escada localizada no canto da garagem, no chão. Um tipo de porão muito bem escondido, com uma escada larga e visivelmente segura. Um ruído grave tremia os degraus enquanto eles desciam em direção ao breu completo.

- Ninguém vai querer os órgãos de um adolescente que fuma maconha.

- Todo mundo fuma maconha.

- Mas acho que ninguém quer comprar órgãos de alguém assim. - Tyler refuta. - Ou quer?

Josh pensa sobre a questão, observando o rapaz se virar novamente e continuar descendo. Não tem ideia de onde está se enfiando, mas alguma coisa o tranquiliza. No escuro, consegue enxergar um tipo de porta enorme com uma fresta de luz escapando por baixo dela. Um cheiro abafado domina suas narinas.

- Bem vindo ao destino final. - Tyler fala abrindo a porta.

Em um segundo estavam numa escada assustadora, e no outro em um tipo de salão particular cheio de adolescentes pulando ao som de uma música baixa que sai de caixas de som em um pequeno palco improvisado. A iluminação amarelada é calma e tranquila, mostrando paredes decoradas com inúmeros quadros de bandas - das quais nem mesmo Josh conhecia.

- Isso é um bar? - Pergunta assim que adentram completamente o ambiente e Tyler fecha a porta atrás deles.

- É um bar secreto de um amigo. - O colorido explica parecendo mais ansioso do que antes. - Normalmente alguns adolescentes vêm aqui no fim de semana pra beber e cantar. Estão dando essa festa por conta do Halloween, e achei que você iria gostar.

Na frente deles, metros de distância, um grande balcão com várias garrafas de bebidas se estende por toda a extensão do salão. No canto esquerdo, duas portas indicavam o banheiro feminino e masculino. Apesar de subterrâneo, o ambiente era muito gelado, nada claustrofóbico.

Entre as pessoas que dançavam, Josh reparou que todas usavam roupas pretas e maquiagens fortes, a maioria sendo casais lgbt fantasiados de personagens comuns.

Não entende o motivo de Joseph frequentar um lugar assim, mas se sente muito confortável e nem um pouco deslocado. Ele se sente feliz.

- Eu adorei, Tyler.