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"I don't mind when you play with my head
I flip around, play with yours instead"

★★

O líquido gelado escorre pela garganta de Josh como um tipo de gota milagrosa da vida. Por pouquíssimos instantes, ele fecha os olhos em um alívio involuntário. Água, a bebida essencial de toda a história da humanidade.

- Eu fiz minha primeira tatuagem escondido dos meus pais, com 14 anos. - Tyler diz bebericando sua garrafa de cerveja. - Por pouco não apanhei.

- Por que escondido? - Josh pergunta com mais interesse do que gostaria.

- Eles são extremamente religiosos.- Tyler dá de ombros. - Hoje em dia não quero fazer mais nenhuma tatuagem.

Estavam sentados nos bancos do balcão desde o começo da madrugada, frente a frente. Não se levantaram para ir ao banheiro, tampouco dançar. Seus joelhos estavam encostados, fazendo pequenos calafrios percorrerem a coxa de Joseph todas as vezes que Josh se mexia.

Os adolescentes continuavam pulando e se divertindo sem atrapalhar a conversa dos dois - será que todos eram silenciosos, ou eles que não estavam interessados em prestar atenção no barulho? O ar impregnava na pele de qualquer pessoa parada, e pouco a pouco mais clientes do bar iam surgindo pela porta.

No palco improvisado a poucos metros dos dois, uma banda animada tocava ao vivo em um pequeno show improvisado. A playlist variava entre rocks clássicos e pop da década de 80. Apesar de todo seu foco estar em Tyler, Josh conseguia prestar atenção na voz do talentoso vocalista e principalmente na bateria frenética que tocava de acordo com a música.

Se sentia confortável em meio tantas pessoas, pela primeira vez em muito tempo. Não que ele se importasse com sua aparência, com quem estava, tampouco com o julgamento alheio. É só que, entre ficar em casa, com seus livros e filmes, ou ir para reuniões de amigos - e festas -, ele preferia ficar sozinho. Culpa da ansiedade, talvez.

- Meus pais também eram religiosos ao extremo. - Dun diz, uma tentativa inconsciente de tentar ser empático com o desconforto alheio. - Eu dava aulas de catequese.

Tyler ri, e sorri. E Josh admira seus dentes levemente falhados como se fosse a coisa mais adorável do mundo - e talvez realmente fosse.

- Joshua Dun, o emo gay mais famoso da escola. - Ele brinca, levando um tapa na coxa como resposta. - Nem adianta me bater, isso é cômico!

Joshua ri sem mostrar os dentes, se esforçando ao máximo para parecer ofendido. Por instantes o pensamento de que sua mão permanece na coxa de Tyler domina sua mente, mas ele não a tira de lá.

Por trás da garrafa verde de cerveja que vai até os lábios do colorido novamente, duas íris castanhas encaram Josh com um tom de curiosidade. Josh sente vontade de sorrir. A mão permanece no mesmo lugar.

- Tenho certeza que você já fez algo contraditório na sua vida. - Ele brinca por fim, dando outro gole em sua água. - Você não pode ser esse cara super badboy o tempo todo.

- Você me acha badboy, Josh?

A pergunta soa maliciosa. A música que entra por seus ouvidos é alta, sendo alguma clássica do Nirvana. A mão de Josh queima na pele de Tyler por baixo da calça, perigosamente posicionada com os dedos abertos cobrindo uma boa parte da coxa.

- Talvez eu ache. - No mesmo nível de malícia, Joshua responde. - E daí?

Seu cérebro o condena. Se não tivesse bebido apenas água durante aquelas horas, poderia jurar a si mesmo que estava bêbado, chapado. No fundo, sentia que sua embriaguez não era álcool, muito menos maconha.

Tyler sorri, como sempre faz ao flertar com garotas no corredor da escola. Com um movimento sutil, passa a língua entre os lábios e respira profundamente.

- Eu canto na igreja, às vezes. - Diz como uma confissão. - Também sou ótimo com instrumentos de corda e piano.

Josh arregala os olhos, finalmente descendo sua palma até o joelho de Tyler. Se olham; Tyler envergonhado e Josh indecifrável.

Os papéis nunca se inverteram tanto.

- Nunca iria imaginar isso de você . - Josh observa. Por segundos, consegue ver um sorriso tímido iluminando o rosto de Joseph. - Parece mentira.

- É, eu canto. - O colorido diz dando de ombros. - Desde pequeno, na verdade.

- Por que não consigo acreditar em você?

- Meu rosto de transudo não te deixa enxergar meu lado "menininho inocente de família"?

Joshua ri do comentário, ignorando a primeira parte da frase. Deus, aquele filho da puta era tão cínico e convencido. Tão atraente e cheiroso...

- Não, só não dá pra acreditar. - Coçando a garganta tentando de afastar da voz irritante em sua cabeça, Josh responde.

- Como você quer que eu prove, Jish? - Tyler questiona com um típico sorriso presunçoso.

Joshua finge pensar, avaliando o bar ao seu redor com uma expressão sapeca. O barman atrás do balcão onde estavam conversa distraidamente com outro rapaz que carrega uma bandeira lgbt nas costas, e o resto das pessoas parecem avulsas a presença dos dois.

- Canta no palco. - Josh fala por fim. - Faz um show pra mim.

Tyler pensa, tentando analisar se há ironia em sua voz. Não identifica nada além de sinceridade e expectativa.

- Tá falando sério?

- Eu sempre falo sério.

Se olham; as pupilas percorrendo centímetros dos olhos até as bocas rosadas.

- Você sabe tocar baixo? - Tyler indaga.

- Por que a pergunta? - Josh retruca com rapidez. - Vai desistir?

Joseph quer avançar nos lábios do cacheado. Quer sentir a língua macia responsável por tantas implicâncias e palavras de ódio durante aqueles meses de amizade. Ele pensa nisso enquanto Josh o encara risonho. Pensa nisso enquanto o assiste beber água em um bar especial de um amigo de infância. Pensa nisso enquanto o vê bêbado cantarolando em uma pista de skate no centro de seu bairro. Pensa nisso todas as vezes que olha o buraco do piercing na boca naturalmente rosada.

Tyler pensa nisso toda vez que o vê. Mas nunca tomaria iniciativa para algo assim, porque, afinal, Josh odeia ele. Com todas as forças.

E, com todas as forças, Tyler se levanta agarrando o pulso de Josh para fora do balcão em milésimos de segundos.

- Seu desafio foi aceito. - Ele diz arrastando o cacheado que não esboça reação alguma a não ser surpresa. - Mas eu quero fazer uma aposta.

Josh recupera seu equilíbrio, parando na pista de dança com o pulso ainda preso na palma grande de Tyler.

- E por que eu vou te acompanhar até lá?

- Porque somos amigos, e se você não me acompanhar eu te faço uma serenata super brega e melosa-

- Tá, tá! - Joshua resmunga. - Qual a aposta?

Tyler hesita. Mordendo a parte interna de sua bochecha, pensa em recuar. Pensa em manter seu segredo guardado a sete chaves. Mas se não for agora, quando será?

- Se eu cantar uma música que você gosta, você me dá um beijo. - Contra os ruídos, ele fala encarando a blusa de Josh para não olhar as malditas íris mocha. - Se eu perder, você pode se distanciar de mim.

Greek GodOnde histórias criam vida. Descubra agora