5

60 6 16
                                    

Josh estava com raiva.

Roía o esmalte preto de seu dedo mindinho com raiva, piscava com raiva, respirava com raiva, pensava com raiva.

Se ele soubesse socar alguém, seu alvo obviamente seria Mark e as bochechas coradas do rapaz loiro que permanecia em um silêncio irritante encarando a mesa de plástico.

- Você tá com raiva porque ele te deu um sorvete?

O emo revira os olhos, com raiva.

- Puta que pariu, você é burro!

- Explica direito então caralho!

- É a segunda vez que eu explico essa merda, Mark.

- Explica a terceira.

- Vai se foder. 

O loiro riu o deixando duas vezes mais irritado. Não era tão difícil de entender; ele estava com raiva porque Tyler estava se aproximando e isso era estranho. Uma estranheza excêntrica, mas ainda sim desagradável.

- Eu entendi - Mark admitiu brincando com uma mecha de seu cabelo. -, só não entendi por que você tá com tanta raiva.

- Eu odeio ele.

- Por quê?

Dun abre a boca e a fecha em seguida. Sente toda a saliva que havia em sua língua evaporar com o olhar ansioso que estava recebendo do amigo e engole seco percebendo que não sabia como responder a pergunta. As palavras beliscam seus lábios em busca de liberdade, porém, não conseguia as dizer. Parecia errado formular qualquer frase ou sequer pensar em alguma sentença que envolvesse um motivo plausível para seu sentimento.

Vendo que não conseguiria falar qualquer coisa sem gaguejar, cruza os braços e se afunda mais na cadeira com um bico emburrado.

- Porque sim.

O outro sorriu, vitorioso.

- Por que você não tenta sei lá, ser amigo dele.

- Meu Deus, você não disse isso. - Joshua se encolhe mais, deixando apenas os olhos mocha para fora de seu moletom preto. Não poderia acreditar no que tinha acabado de ouvir.

Não. Com certeza Mark, seu melhor amigo, não sugeriu aquele absurdo. Ele escutou errado. De tanto pensar em Tyler nas últimas vinte e quatro horas começou a criar alucinações envolvendo o moreno. Estava enlouquecendo. Viu sua sanidade escapar de fininho pela grande porta do refeitório e sair correndo até a sorveteria onde se jogou no sorvete de chiclete com estrelinhas multicoloridas, não demorando muito para se afogar na sobremesa tão rosada quanto os lábios de Joseph. Espera, qual a relação da boca dele com isso?

Sim, Josh estava louco e gargalhava alto se afogando na merda do sorvete juntamente com sua racionalidade.

- Qual o problema em ser amigo dele?

- Quantas vezes eu vou precisar repetir que odeio ele?

- Por que você odeia ele?

- Mas que porra!

- Não é difícil responder, Josh. Me dá só um motivo e eu paro de perguntar.

Ok, era fácil, só um motivo entre milhares. Dun poderia falar sobre a voz irritante dele, o sorriso idiota, o hábito estranho de fumar após a aula e até sobre os amigos insuportáveis que vez ou outra olhavam para o emo nos corredores. Mas, por algum motivo, entre tantos argumentos, o garoto só conseguiu pensar em uma memória vaga de Joseph beijando uma garota em alguma festa que Debby o obrigou a ir meses atrás.

- O Tyler é um idiota.

- Você também é e nem por isso eu te odeio.

- É um idiota diferente, tipo... - ótimo Joshua, agora explique que você acha o Joseph idiota só porque o viu beijando alguém. - Esquece.

- Vai dar uma chance pra ele?

- Não.

- Vai sim, você nem conhece ele direito.

Os amigos se olharam. Joshua, ainda emburrado, pegou sua mochila e se levantou. Não iria admitir isso, mas por um breve instante concordou com as palavras de Mark. Talvez se conhecesse melhor o moreno poderia ter a certeza que o odiava com total razão.

Não havia chances daquela aproximação dar certo. Eles eram incompatíveis, completamente opostos; disso o emo tinha certeza.

- Ok, vou tentar não odiar tanto ele - o loiro sorri, comemorando silenciosamente. -, e provar que eu to certo.

Dito isso, o garoto saiu do refeitório se arrependendo amargamente de ter aceito aquela proposta.

Greek GodOnde histórias criam vida. Descubra agora