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Estrelas explodem atrás dos olhos, planetas se fundem com o contato de pele. As bocas formam um perigoso buraco negro sugando cada palavra, cada ofensa, cada elogio e frases desconexas. As respirações se misturam em uma só, e os sorrisos brilham mais que o próprio Sol.

★★

O mundo se silenciou por um tempo. O salão ficou vazio, deserto. A banda parou de tocar, se calando de repente. As bebidas evaporaram das garrafas, dos copos. Os banheiros se esvaziaram, a garagem fechou. Josh parou de respirar por um momento, e caiu em um abismo.

Os olhos de Tyler são perdição, ele conclui ainda incrédulo com a frase que saiu da garganta alheia. A voz provocante ainda reverbera por seus ouvidos, o frio na barriga se espalha para as bochechas em um tom avermelhado.

- Por que 'tá fazendo isso? - É a única coisa que consegue perguntar.

Tyler hesita, de novo. Um comportamento antes raro, já estava se tornando rotineiro. Com coragem, encara Josh nos olhos.

- Porque eu quero muito, muito te beijar. - Em um sussurro, ele fala. - Porque eu gosto de você.

O abismo parece sem fim, profundo e gélido. O frio da barriga se transforma em um tipo indesejado de medo. Josh não quer sentir isso, não quer passar por isso. A mão em seu pulso queima a cada respiração, o ar se tornando pesado demais para inspirar

- E-Entendi. - Gaguejando, Josh concorda. Josh não costuma gaguejar. Nunca. - Combinado, então.

- Ótimo! - Com um sorriso aliviado de orelha a orelha, Tyler continua puxando seu pulso até a beirada do palco. - Segura pra mim, por favor?

Em um piscar de olhos, Joseph está sem moletom. Sem camisa. A peça de roupa está estendida em direção a Josh, que a segura sem conseguir disfarçar maneira descarada que encara o abdômen do colorido.

Ele quer ir embora, mas ao mesmo tempo quer ver até onde essa idiotice vai. As palavras de segundos atrás ainda ecoam em seu cérebro como um sinal vermelho, uma enorme e barulhenta sirene vermelha anunciando uma tragédia imensurável.

Sente falta do aperto em seu pulso, e abraça o moletom contra o próprio peito. O nervosismo é insuportável; seu coração palpitando em uma velocidade quase preocupante. O que está acontecendo com ele, afinal?

Beijar Tyler não seria ruim. Muito pelo contrário.

- Lá vamos nós, baby. - Joseph fala com seu típico tom presunçoso antes de subir no palco.

Ele conversa com os membros da banda, tendo certeza de que a escolha da música foi perfeita, de que a apresentação seria perfeita. Apreensivo, vai até o microfone do vocalista e dá uma piscadela confiante para Josh.

Ajeita o microfone e pendura uma guitarra preta em um dos ombros, os dentes praticamente mastigando seu lábio inferior de tanta ansiedade. Respirando fundo, fecha os olhos e reza para que tudo dê certo, para que consiga beijar Josh.

Reza para que Josh goste dele, pelo menos um pouquinho.

Reza para que eles nunca se afastem.

- UM, DOIS, TRÊS, QUATRO! - o baterista fantasiado de Frankenstein grita batendo as baquetas acima da cabeça.

Ele sintoniza a guitarra, logo começando a tocar, seus dedos segurando firme a paleta que dança entre cordas e notas. Em milésimos, o baterista o acompanha, juntamente com o baixista vestido de zumbi.

- Well, if you wanted honesty that's all you had to say - A voz rouca de Tyler canta, arrepiando Josh instantâneamente. - I never want to let you down or have you go, it's better off this way.

O queixo do cacheado cai, o frio na barriga explode em um sorriso incrédulo. Seus olhos mocha são focados na boca rosa colada no microfone, pequenas gotículas de suor escorrendo pela pele bronzeada de seu abdômen iluminado por luzes artificiais.

No palco, o coração de Tyler salta na garganta tentando não desafinar a voz. Ao ver o sorriso brilhante de Dun, sorri junto sentindo a vibração dos instrumentos se espalhar por todo seu corpo.

- I'm not okay. - Grita, fechando os olhos para ouvir as vozes o acompanhando por todo o porão.  - You wear me out!

Josh se vê hipnotizado, completamente focado na voz e nos gestos de Tyler. É viciante; suas tatuagens acompanham o movimento dos músculos conforme se contraem, seus dedos passeiam pela guitarra com naturalidade. Deus, que pecado.

A música continua, mais alta e frenética. Todos no recinto se concentram na voz forte de Tyler ecoando por caixas de som, e todos cantam em um coro de vozes diferentes.

Josh não pensa em nada, não sente nada. O que há é apenas Tyler Joseph.

Tyler Joseph sorrindo. Tyler Joseph suando. Tyler Joseph sem camisa tocando guitarra. Tyler Joseph cantando sua música favorita em um porão.

Tyler Joseph quer lhe beijar. Isso não é um sonho.

- JOSH, ESSA É PRA VOCÊ! - Tyler grita, chamando novamente a atenção do mais velho, e em menos de um segundo está ao lado do rapaz, no chão.

Os jovens ao redor deles vibram e cantam, extasiados com o pequeno show, mas nenhum dos dois parece se importar com isso.

- Eu mereço agora? - Joseph sussurra contra a pequena multidão que canta a ponte da música. Seu cabelo rosa escorre por sua testa e seu peito é tomado por suor.

As íris castanhas se fundem com as mochas, derretendo e se entrelaçando, brilhantes e entorpecidas. As pupilas dilatadas, a respiração pesada. Tanto desejo.

Josh encara o corpo alheio sem nenhuma vergonha. Admira, analisa. Se sente sortudo por poder olhar tudo isso, e se aproxima sem nenhuma cautela.

- Você acha? - Pergunta no mesmo tom, a malícia escorrendo em sua voz e formando um sorriso.

Tyler não responde. Ao invés disso, agarra a nuca do mais baixo, e, com a vontade de quem deseja aquilo por tempo demais, beija Joshua Dun.

Estrelas explodem atrás dos olhos, planetas se fundem com o contato de pele. As bocas formam um perigoso buraco negro sugando cada palavra, cada ofensa, cada elogio e frases desconexas. As respirações se misturam em uma só, e os sorrisos brilham mais do que o próprio Sol.

Josh suspira, incrédulo e feliz. Seu corpo inteiro adormece quando sente a língua de Tyler invadir sua boca, o gosto de cerveja e cigarro se misturando com sua saliva em uma sintonia perfeita. Os dedos enrolados nos cabelos de sua nuca puxam e brincam, e é impossível se separar do corpo alheio.

Sua mente tenta condenar, o arrependimento tentando se libertar da mão de Tyler. O coração, no entanto, guia a mão de Josh até a bochecha do colorido, acariciando levemente o local enquanto as línguas dançam em harmonia.

No momento exato do solo de guitarra, Tyler se afasta sorridente e começa a tocar novamente. Sem subir de volta ao palco, sem deixar Dun sozinho. Sem quebrar a troca de olhares.

Toca como se fosse fácil, como se controlasse as cordas e notas, a própria melodia. A plateia grita e dança, a banda atrás deles acompanhando a voz rouca que, agora, canta sem microfone.

Josh se sente em um sonho, um daqueles que não se deve acordar. Encarando Tyler nos olhos, começa a cantar junto com o resto dos jovens e sorri, como se não houvesse um amanhã ou uma preocupação. Apenas os dois e a música.

Quando a banda para de tocar e todos gritam, ovacionando a apresentação, Tyler ri, e Josh sorri.

E por longos minutos, não existe mais nada no mundo que pudesse causar alguma angústia.

Greek GodOnde histórias criam vida. Descubra agora