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- Toma.

Josh tomou um pequeno susto quando o sorvete rosa com estrelinhas multicoloridas foi colocado em frente seu rosto.

- O que é isso?

- Um sorvete.

- Por que você tá me dando um sorvete, Tyler?

- Porque sei lá. - Joseph deu uma pausa se encostando nos armários azuis, que cercavam o corredor. - Fui na sorveteria e lembrei de você.

Dun digeriu as palavras lentamente. Por sorte, ainda faltava dez minutos para o sinal tocar e todo o silêncio da escola ser substituído por reclamações ou risadas desnecessariamente altas.

- Lembrou de mim?

- Sim, é o meu pedido de desculpa.

- Você já me pediu desculpa.

- Só quero ter certeza que você me desculpou mesmo.

Joshua bufou. Apoiando seus livros de física contra o armário, pegou o sorvete e deu uma lambida considerável vendo Tyler fazer o mesmo com o de baunilha que derretia lentamente em uma de suas mãos. Suspirou e fechou os olhos ao sentir as estrelinhas derretendo em sua língua fazendo sabores cítricos se misturarem com o chiclete da sobremesa. Percebendo que estava sendo observado, voltou com a expressão irritada dando total atenção as dobradiças enferrujadas da porta a sua frente.

- Eu te desculpo. - a frase sai mais como um resmungo, mas, teve uma pitada de agradecimento.

- Então, estamos bem?

O emo respirou fundo buscando um pouco de calma no meio daquele dia estressante. Estava irritado, confuso e cansado. A presença do outro lhe irritava e não saber o que ele estava escondendo era torturante. Não tinha tempo para joguinhos, queria acabar com aquele pequeno teatro antes de se aproximar mais e perceber que desde o início foi tudo uma grande encenação, porque não, Tyler Joseph nunca olharia para Joshua porque a quatro dias atrás Tyler Joseph nem sabia que Joshua existia.

Porém, havia algo ali. Algo profundo. Estava escondido sob camadas e camadas de ódio e indiferença. Era perigoso e possuía uma pontinha de travessura, como a cor daquela sobremesa deliciosa que continuava a derreter na língua de Josh ou a sensação de estar sendo vigiado - admirado, seria a palavra mais correta - pelo atleta. Não gostava da sensação. Estava sendo assistido, medido. Sabia que se cometesse qualquer erro, por menor que fosse, Tyler espalharia boatos dizendo que ele era um idiota. Entretanto, um calafrio estranho percorria sua espinha ao sentir os olhos castanhos vidrados em si.

- Acho que sim. - Dun sussurra incerto. Se arrependeu em seguida porque porra, era só uma casquinha de sorvete!

- Quer ajuda? - Joseph pergunta, talvez, por pura educação.

- Não precisa.

Ficaram em silêncio. O barulho irritante da porta era o único resquício de som entre os dois e antecedeu o estalo metálico, um pouco abafado, que veio após o emo a empurrar com força fazendo tudo o que estava lá dentro cair em seus pés. Era só o que faltava.

Completamente frustrado, Joshua tapou seu rosto com a mão livre soltando um grunhido de exaustão. Uma merda. Aquilo tudo era uma merda. A palestra de mais cedo, as provas, a escola, Tyler e o sorvete. Só queria sumir de lá, se trancar em seu quarto e chorar de ódio porque tudo estava uma merda. Pronto para abandonar seus materiais ali no chão e ir embora mais cedo, controlou a estranha vontade de chorar e tirou a mão do rosto. Joseph não estava lá. Bem, pelo menos não em pé.

Abaixado ao lado da pilha de livros e cadernos, o moreno juntava os objetos com certa agilidade e os colocava de volta no armário. Não havia nenhum resquício de diversão em seu rosto.

- O que você tá fazendo? - Josh não consegue controlar a voz trêmula, e não se importa se a pergunta soou arrogante.

- Te ajudando.

- Eu não te pedi ajuda.

- Não precisa pedir.

Dun se abaixou e sim, aconteceu o ridículo clichê das mãos se tocando, mas ele não permitiu a troca de olhares ou sorrisos bobos. Afinal de contas, estamos falando de Tyler.

Mesmo realizando o trabalho com apenas duas mãos (cada um com uma por causa dos sorvete etc), em menos de dois minutos conseguiram devolver tudo ao seu devido lugar e graças a Deus não disseram nada durante o processo. Qualquer coisa dita ali deixaria a situação ainda mais parecida com uma comédia romântica.

Após fecharem o armário, o sinal tocou e gradativamente alunos invadiam o corredor com seus rostos cansados, presos em seus próprios universos; alguns mais coloridos que outros.

Não dando tempo de Joshua agradecer ou chamar Joseph de intrometido, um grupo relativamente grande de garotos chamou pelo moreno na porta do colégio, e ele não pensou duas vezes antes de se jogar na multidão de universos deixando o emo para trás.

Greek GodOnde histórias criam vida. Descubra agora