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Joshua respirou aliviado quando finalmente se sentou na mesa mais afastada do refeitório. Havia esperado a manhã toda para colocar seus fones de ouvido e ignorar o mundo barulhento que, naquele início de tarde ensolarado de quinta-feira, parecia mil vezes mais escandaloso que o normal.

Fechando os olhos, esparramou o corpo na cadeira de plástico ficando um pouco mais confortável. Se não fosse os vinte minutos de almoço ele tiraria um cochilo para tentar recuperar uma noite de sono, mas não poderia arriscar perder a aula de matemática só porque estava cansado.

Em uma tentativa falha de manter-se acordado pelos próximos dezoito minutos, começou a cutucar o esmalte preto em suas unhas curtas, vez ou outra parava para bater os dedos na superfície gelada de mármore seguindo o ritmo da música. Não funcionou.

Já começando a ficar irritado pela queimação atrás de seus olhos, Dun os abriu. Foi uma péssima ideia, as luzes artificiais do local fizeram a ardência aumentar ainda mais.

Ele poderia sair da escola para comprar um energético e faria isso, se ao menos tivesse dinheiro. Por milésimos cogitou a possibilidade de ir até a sala dos professores pedir uma xícara de café porém desistiu em seguida pois a bebida não durava muito tempo entre os educadores.

Desistindo de continuar nessa realidade, fechou os olhos novamente - deixando as mãos paradas, dessa vez. Rapidamente ficou perdido em suas pálpebras ilustradas com pensamentos e histórias, um pequeno universo inexplorado do qual pertencia somente a Josh e sua infinita imaginação. Entre galáxias planetárias, manteve a respiração lenta e contínua. Tinha medo de perder o pouco de oxigênio que o restava ali, no vácuo do espaço criado por sua própria mente distorcida. Só Deus sabe o quanto era difícil encontrar o caminho de volta para a sanidade.

A princípio parecia estar funcionando, porque, os meteoritos vagando entre planetas gasosos, o mantinham em estado de alerta como se a qualquer momento uma enorme colisão fosse acontecer e logo o rapaz percebeu que estava lentamente viajando para além da Via Láctea.

Um local tomado por exoplanetas e gatinhos dormindo em luas feitas de queijo sugava Dun a cada meteoro que cruzava seu caminho. Mesmo sem perceber, o sono já estava relaxando o corpo do rapaz e os murmúrios externos que insistiam em invadir seus ouvidos eram apenas uma indesejável lembrança. Ele estava quase alcançando uma linda nebulosa quando um pedaço de rocha - ou melhor, alguém - caiu em sua superfície.

Resmungando baixinho, Joshua tirou os fones e fez uma careta assim que enxergou novamente as luzes brancas. Logo uma garota de batom vermelho tomou seu campo de visão.

- Vamos na praia amanhã. - Debby avisa se sentando em frente ao rapaz.

- Pra quê? - ainda atordoado pelo impacto, o emo coça os olhos com a parte externa das mãos.

- Porque veja bem - Deborah pegou uma maçã de algum lugar e a mordeu. -, você é meu amigo, e preciso de você comigo amanhã.

Tentando não sair de perto da nebulosa, Josh pensou por alguns segundos enquanto pausava a música que ainda estava tocando.

- A Jenna aceitou sair com você?

Ryan não respondeu. Sentindo um rubor em suas bochechas, olhou para atrás, apenas verificando se alguém tinha escutado.

- É quase isso.

- E por que eu preciso ir com você?

- Porque sei lá, vai que eu tenho um treco na frente dela ou desisto no meio do caminho.

- Eu não vou. - o garoto responde olhando distraidamente algum ponto aleatório do refeitório.

Ainda estava preso na extensão da Via Láctea quando o avistou sentado no centro do lugar, completamente cercado de garotas e com aquele sorriso idiota que nunca saía de seu rosto. Foi como um buraco negro absorvendo a luz das estrelas; em um segundo Dun estava relaxado e no outro a raiva foi para cada célula de seu organismo, se alastrando em uma velocidade impressionante.

A mudança repentina de humor foi obviamente causada por ele, o responsável pelo seu ódio diário e o garoto mais cafajeste que o emo já vira naquela escola: Tyler Joseph.

Se Dun pudesse escolher entre dez aulas seguidas de matemática ou a presença de Tyler Joseph naquele colégio, não hesitaria em resolver exercícios de trigonometria o dia todo.

Insuportável. Tyler era insuportável. Sempre com seu nariz arrebitado e topete castanho flertando com as garotas nos corredores ou dando risadas escandalosas com seu grupo idiota de amigos - se é que podemos chamar aquilo de amigos.

Ninguém entendia o porquê daquele sentimento que insistia em crescer a cada vez que o sorriso brilhante de Joseph aparecia, a única coisa que se sabia é que não era recíproco, afinal de contas, como o grandioso Tyler Joseph saberia da existência de um emo problemático e irrelevante igual Joshua Dun?

Bom, naquela quinta-feira foi diferente.

Enquanto Josh encarava descaradamente o rosto do líder do time de basquete, recebeu um olhar dele. Olhar que permaneceu por mais de cinco segundos e terminou com um sorriso ladino dado pelo moreno.

Dun franziu a testa voltando a atenção para Deborah que o olhava desentendida.

- Por que não?

- Porque se a Jenna vai, com certeza o Joseph também vai.

Dessa vez a garota quem franziu a testa.

- E...?

Ele olhou cautelosamente o rapaz sorridente a poucos metros dali. Não aguentava ver aquelas íris castanhas por tempo demais, por isso desviou o olhar antes que fosse tarde.

- E eu odeio o Tyler Joseph.

Greek GodOnde histórias criam vida. Descubra agora