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ELISA

Renato voltou para Porto Alegre faz algumas semanas, após aquela noite que ele dormiu na minha casa depois do episódio do assalto e da minha fuga imprudente, ele viajou dois dias depois daquele. Mal pudemos aproveitar o nosso início de namoro, na verdade nós realmente não aproveitamos nada do nosso namoro.

Desde que ele foi embora conversamos todos os dias por ligação, ele me conta sobre como estão agitadas as coisas no grêmio com o término da data fifa e dos campeonato nacionais e internacional. Comigo não é diferente iniciei o trabalho no São Paulo duas semanas atrás e tá sendo tudo uma loucura, eu não sabia o quão afetada a mente dos atletas poderiam ser, eu até imaginava mas não tinha a ideia da real proporção da coisa.

Atletas são xingados mas isso não é o pior, o pior são as ameaças que são direcionadas a eles e seus familiares, o que abala completamente o psicológico do atleta que fica ansioso ao viajar para as partidas e deixar a familia correndo o risco de algum maluco realmente cumprir alguma das ameaças é realmente um horror.

Fora a cobrança a si mesmos,  porque muitos das torcidas pensam que os atletas não se importam quando estão em má fase e pensam que eles estão ali só pelo dinheiro, luxo e fama, essas pessoas esquecem que todos esses atletas estão ali porque sonharam em ser jogador de futebol um dia. Eles estão realizando um sonho que eles e muitos outros garotos também sonham, então claro que eles não vão estar satisfeitos em estar em uma má fase.

O Renato me contou que as coisas no grêmio também não estão nada fáceis mas que ele está fazendo o possível e o impossível para manter o grêmio na parte de cima da tabela e nas competências de mata-mata.

Apesar das circunstâncias e de todo o trabalho estamos nos acostumando bem a esse relacionamento a distância, sexta feira é feriado, no caso, amanhã, eu vou viajar para Porto Alegre , para passar o final de semana com o Renato mas ele não sabe ainda, pretendo fazer uma baita surpresa, eu estou me sentindo ansiosa pra caramba, não vejo a hora de estar em seus braços novamente.

Agora eu tô saindo do CT do São Paulo depois demais um dia de trabalho, mas com o sentimento gratificante de estar fazendo o que eu gosto, no lugar que eu amo e que se tornou minha segunda casa.

Decido passar no meu restaurante favorito para comprar algo pra levar pra casa, pois só quero chegar em casa tomar um banho e descansar. Adoraria que esse lugar tivesse um serviço de delivery, que tipo de restaurante não tem serviço de delivery hoje em dia? Entendo que é uma restaurante refinado e é pra experiência se melhor mas eu não quero saber de experiência nenhuma quando tô cansada só quero comer e pronto. Podia pedir algo mais simples no delivery? É claro que poderia mas o meu espírito de burguesa não permite.

Finalmente chego no restaurante e faço meu pedido, vou para o bar enquanto espero ficar pronto, peço um Aperol ao barman que logo me serve o drink, degusto enquanto olho algumas coisas relacionadas ao trabalho no celular.

Fico tão distraída no celular que nel percebo uma figura se sentar ao meu lado e ficar me encarando.

_Olá doutora. - Júlio César diz baixo me fazendo tomar um leve susto e então sorri.

_ Que merda, Júlio César, não precisa chegar me assustando desse jeito. -Digo colocando a mão no peito e logo me recompondo.

_Que boquinha suja em doutora, me desculpe não foi minha intenção te assustar. -Ele diz com um sorriso gentil.

_Tudo bem, eu estava distraída mesmo e não precisa me chamar de doutora, você não é mais meu paciente e eu não estou no meu local de trabalho. - Digo e volto a tomar um gole do meu drink, imagino a cena que o Renato faria se visse isso agora, incrível como tudo que faço ou penso, acaba indo em direção ao Renato impressionante como ele me invadiu não só o meu coração mas também a minha mente.

_Entendi Elisa, o que faz aqui sozinha? Não me diga que estava me esperando. -Ele diz fazendo graça que pra mim não teve graça nenhuma.

_ Não se preocupe, eu jamais diria algo assim, estou esperando o meu pedido pra ir pra casa, apenas isso. - Digo e finalizo o meu drink.

_Nossa, você tem sempre uma resposta na ponta da língua, onde está aquela doutora doce e amável que me atendeu tão bem na minha primeira consulta? - Ele pergunta e apoia o cotovelo na bancada do bar e logo sem seguida a cabeça na mão.

_Está lá no consultório, ou melhor está lá no CT, aqui na sua frente tem apenas uma Elisa faminta e cansada de um longo dia de trabalho. - Digo e suspiro demonstrando meu cansaço.

_ Imagino, porque decidiu trabalhar lá e sair da clínica? - Ele pergunta absolutamente do nada.

_ O salário era melhor e de alguma forma estou ajudando o meu clube de coração, então realmente não havia motivos para eu não ir e eu tô amando a experiência.  -Digo e é verdade, trabalhar no São Paulo e saber que tô fazendo parte dessa nova história que vem sendo construída me deixa revigorada.

_ Você fala com muita paixão do seu time, seus olhos até ganham um brilho diferente, ganham mais vida. -Ele diz me encarando e eu infelizmente coro com vergonha.

_Ah é claro, eu amo o São Paulo desde que me entendo por gente. E você torce para qual time? - Pergunto deixando a curiosidade me vencer.

_ Hum... É, Corinthians.  - Ele diz e dar um sorriso amarelo.

_Por isso que sua vida tá uma merda. - Digo e logo percebo que falei em voz alta, merda.

_Você acha? -Ele pergunta me olhando atentamente.

_Claro que não, olha... eu não... eu... eu não quis dizer que sua vida é uma merda, eu... melhor eu calar minha boca. - Digo e passo o ziper invisível na boca.

_ Mas você tá certa, minha vida é realmente uma merda. -Ele diz nim sorriso fraco circulando a borda copo com os dedos.

_ Você deveria continuar com o seu acompanhamento, vai te fazer bem, vai te ajudar a entender todos esses seus sentimentos. - Digo e logo o garçom vem o com uma sacola pra mim que suponho que seja o meu pedio e então eu a pego e pago.

_ Mas você não está mais lá. -Ele diz me olhando.

_Mas tem outros médicos melhores e mais experientes que eu. -Eu digo na tentativa de fazer ele mudar de ideia.

_ Mas eu quero você.  -Ele diz me olhando profundamente e eu engulo em seco.

_ Isso é impossível, Júlio.  Agora se me der licença tenho que ir embora, boa noite. -Digo e ele se levanta para me cumprimentar.

_Boa noite, doutora. Foi um prazer revê-la espero que aconteça mais vezes. - Ele diz e eu assinto, me levanto e vou embora o deixando para trás.

Chego em casa finalmente exausta, por sorte já deixei minhas malas prontas desde ontem, pois imaginei que chegaria assim hoje.

Tomo um bom banho relaxante, visto um pijama confortável, esquento meu jantar no microondas e como. Após isso escovo os dentes e vou me deitar, sentindo a ansiedade  para encontrar com renato novamente, então pensando nisso eu logo adormeço.

Amor em campo [RENATO GAÚCHO]Onde histórias criam vida. Descubra agora