PRÓLOGO

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24 de agosto, de 1985
Ponto novo, Monte Cristo.

As duas irmãs envolveram seus corpos num abraço carente e necessitado. Desde pequenas foram unidas, e aquela situação, mesmo sendo necessária para uma, doía para a outra.

Vera e Maria vinham de uma família reconhecida, cheia de tantas coisas materiais, mas ainda vazia do pleno amor. Vera era a irmã mais velha de Maria. Madura para sua idade e de coração nobre. Maria era alegre, livre e de bons pensamentos, seus olhos extremamente azulados e intensos, mantinha atenção de qualquer um que a visse mesmo sendo de uma certa distância.

Pela decisão de seu coração, e da sua mais pura paixão, Maria tomou a coragem de ir partir, mas não sem antes se despedir de sua irmã.

- Tem certeza de que você quer ir mesmo, Maria? - perguntou-lhe Vera, acalentando com a palma de sua mão o rosto de sua irmã.

- A mais plena possível - sorriu - Mesmo que tenhamos que nos separar, você sabe que será o melhor para mim.

Vera fungou.

- Não fique triste, Vera. Eu não irei te esquecer! - disse Maria - Lhe mandarei cartas.

- Mandará mesmo?

- Sim, fique tranquila.

Elas se abraçaram mais uma vez, e em meio ao abraço o calor abrasador do ônibus chegou próximo as duas. Vera apertou a irmã contra si, na expectativa de que sua força não permitisse a ida dela.

- Eu te que ir - Maria sussurrou - Meu ônibus chegou...

Vera apertou os olhos, com força. Contendo a si mesma, e para que as lágrimas não descessem naquele momento.

- Não esqueça que eu te amo - pediu Maria, já distante.

- Também lhe peço isso, lhe imploro!

- Você está marcada dentro do meu coração, para sempre minha irmã!

- Você também, Maria... Seja feliz!

Os grupos de pessoas ao longe, as quais também iriam se locomover para fora da cidade, passaram a se aproximar para entrar no automóvel alaranjado que estava esperando de portas abertas. Vera olhou uma última vez para sua irmã, antes dela se misturar com a pequena multidão.

Os olhos de Maria foram a procura do acento que daria para ver ainda sua irmã do lado de fora. Ela não hesitou assim que o achou. Suas mãos espalharam-se pelo vidro, o coração apertou dentro do peito.

Mas já era tarde demais.

Vera permaneceu aonde estava, com as mãos unidas encima do peito dolorido, enquanto seus olhos esverdeados vislumbraram a distância que sua irmã tomou dentro do grande automóvel. Ela desejou dentro de si mesma que não fosse esquecida por Maria, que não se tornasse um fantasma ou simplesmente alguém que carregava o mesmo sangue, que o seu.

Simplesmente, Você | Livro I Onde histórias criam vida. Descubra agora