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Sentada na janela de madeira, Mavi apertou seus braços que estavam cruzados e pesando contra seu peito. Sua mente estava longe, como todo o dia, pensando apenas naquele que tinha partido e doía tanto em seu coração.

Passos se aproximando de seu corpo a fez olhar na direção em que vieram, logo a dona dos mesmos teve o seu rosto iluminado pela luz que emanava da vela em sua mão.

- Mavi? - ela estendeu sua mão livre, a parando em seu braço. - Pensei que já estivesse na cama.

- Ah, não. Antonella... eu acabei não conseguindo dormir.

- Eu te entendo... ainda pensando muito no Genésio, não é?

- Não tem como não ser ele... eu já nem sei se um dia vou conseguir ver mais a vida como antes.

- Ah, minha pequena. Não pense dessa forma.

- É impossível não pensar quando você é totalmente diferente de uma pessoa que você sabe que é forte. A Nina mesmo, que é a sua neta, ela é forte. Ela permanece mesmo quando o mundo parece desabar - deu de ombros - Já eu? Sempre estou propensa a sofrer e a me lamentar, dói tanto que chego a pensar que nunca vou poder passar por isso.

- Nunca mais na sua vida volte a dizer isso! - a repreendeu - Você apenas tem um coração dócil, bom. Claro que você vai sofrer com uma perda. Todos nós sofremos. Ainda mais quando amamos mais do que podemos amar.

-... mas eu só queria ser forte, Antonella. Eu só queria levantar a cabeça e seguir. Mas tudo está tão confuso, doído... está impossível.

- Não, não - Antonella a puxou para seu peito, a envolvendo com seus braços logo em seguida - Você já está sendo muito forte. Você está lutando a cada segundo, está ao lado das crianças as dando atenção, não está permitindo que elas vejam como você realmente está. Isso é ser mais forte do que você pode... tem pessoas que te amam e querem ver você bem. Queremos te ver bem, essa menina sempre alegre e disposta para enfrentar a vida.

Mavi suspirou, encolhendo-se.

- E pelo tanto que eu conheci o Genésio. Eu sei muito bem que, se ele estivesse aqui e agora. Ele estaria dizendo que não devíamos chorar por ele e que ele ficaria com muita raiva por isso.

Mavi deu uma pequena risada, já com a garganta apertada.

- Sim. Ele diria...

- Então... Temos que viver por ele. Você tem que amar, viver e colocar em prática tudo o que ele te ensinou. Você é boa, e isso com certeza foi o que ele te ensinou a ser.

- Sim, com certeza. Sem ele, eu nunca seria quem eu sou. Por mais que as vezes eu seja boba demais ou, bruta demais, ou até ignorante, lá no fundo... e-eu sou uma boa pessoa.

- Claro, meu amor. Claro. Quem te conhece, quem tem o privilégio de saber quem é você, ganha praticamente uma amizade cheia de alegria e fidelidade. A Nina sempre disse bem sobre você, o quanto ela te considera uma irmã, o quanto fica feliz em te ver... Se a Nina apresenta-se assim em relação à sua pessoa, imagina as outras? - a apertou contra si - Mavi, você é muito especial. Você é única e é insubstituível... Não deixe quem você realmente é, morrer dentro de você. Essa dor, essa perca é algo que ninguém vai poder substituir. Mas você não pode deixar ela dominar e determinar como vai ser seu futuro.

-... e será que, eu vou conseguir ter um futuro sem os conselhos e o amor do Genésio? Do paizinho que eu ganhei da vida?

- Mas é claro que sim... Pense no amor dele, no quanto ele desejaria que você estivesse pelo menos com um sorrisinho no rosto - se afastou, para olhar em seus olhos - O quanto ele desejaria ver esses olhinhos brilhando, cheios de vida e fé.

Mavi soltou o ar com força. Olhou para o lado pensando nas palavras e calor emanado da mulher que a acolheu tão bem. A olhou mais uma vez, a abraçando com força.

- Obrigada por tudo, Antonella. Obrigada por estar nesse momento, me dando um abraço tão forte e falando palavras tão bonitas que eu nunca, nunca vou me esquecer!

- É apenas a demonstração do carinho que eu sinto por você, tudo o que eu mais quero é te ver de cabeça erguida - confessou - Genésio até não pode mais estar aqui em físico, mas está morando dentro dos nossos corações, onde nem a morte e nem qualquer outra pessoa poderá tirar.

Mavi assentiu, agarrando aquelas palavras como se fosse a sua tábua de salvação em meio a escuridão da tempestade em que estava vivenciando.

- Nunca esqueça quem você é, nunca esqueça de que a sua vida vale muito.

Olhando mais uma vez para as horas no relógio em seu pulso, Vera soltou um pequena suspiro, afastando as mechas claras do seu cabelo, para trás. Ela estava com uma roupa simples para aquela manhã, mas ainda assim. Seus óculos escuros, que até então cobriam seus olhos, a deram a possibilidade de ver seu irmão chegando aos poucos, parando ao seu lado no carro.

- Esperando alguém? - ele perguntou.

- Estou sim. Eu e a Lúcia iremos ver a Maria - contou, sorridente - Ela ficou bem animada quando eu falei da nossa irmã, e eu achei uma boa ideia levá-la para a conhecer.

- Vejo isso como uma boa ideia, também.

- Você não vai querer ir conosco?

- Não, não. Ontem eu já tinha ido e fiquei por um bom tempo.

- Pela tarde?

- No final dela.

- Ah...

- E eu confesso que fiquei admirado com uma coisa - comentou, passando a dar leves batidinhas em seu queixo com a ponta do dedo.

- E o que foi?

- A nossa irmã, ela segurava um tecido como se ele fosse tudo o que tivesse de mais precioso, além da pequena boneca.

Vera levantou as sobrancelhas, mesmo tendo pela ciência do que se tratava o tal pano.

- Foi você quem deu a ela? - questionou Ramón.

- Sim, mas na verdade... eu devolvi.

- Devolveu?

- Aquele tecido que ela estava segurando, quando você a foi ver, se trata da manta da filhinha dela.

Ramón se viu incrédulo ao escutar aquilo da sua irmã.

- Está falando sério?

- Por que eu mentiria ou brincaria com algo tão sério como esse?

- É que... eu não sabia que você a tinha guardado por tanto tempo, Vera.

- O meu amor pela minha irmã, e pela criança que ela trouxe ao mundo, conseguiu ser bem maior. Eu não iria jogar fora um tesouro como aquele. Eu guardei junto com as fotos em que Maria me mandou pelas cartas.

-... nossa - suspirou - Isso é estranho mas ao mesmo tempo... - demorou seus olhos por um momento em sua irmã -... você ainda acha que poderemos achar essa menina?

Vera soltou um longo suspiro, virando-se para ficar em frente ao seu irmão, enquanto cruzou seus braços.

- Isso é o que está mais se tornando presente na minha cabeça, Ramón. A Maria vem dando resultados depois de anos e... eu não sei mas, talvez por isso, Deus ou o próprio destino, trate de trazer a nossa sobrinha de volta... meu coração sempre está voltado a ela, e não foram poucas as vezes que eu peguei a mim mesma pensando nela, em como ela poderia e deveria estar.

Ramón esticou sua mão para tocar a de Vera.

- Se tudo der certo, ela vai voltar.

Vera sorriu, cobrindo mais a mão de seu irmão, e contente por ele não desacreditar do que tinha dito e dizer algo tão forte.

- Vamos ter fé.

Simplesmente, Você | Livro I Onde histórias criam vida. Descubra agora