Epílogo

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MAIO, 2020 

Harry estava de olhos fechados com a cabeça descansando no meu ombro. Abri a pequena janela oval e a claridade me cegou. Entortei o pescoço para enxergar o rosto de Harry e ele tinha apertado os olhos, mas não os aberto. Demorou algumas piscadas para que eu enxergasse nitidamente o céu azul da manhã e olhei para baixo com cuidado para não me mexer e acabar o despertando.

Peguei o celular para tirar uma foto, o relógio registrava quatro horas e doze minutos e contei mais quatro dedos para chegar à conclusão de que eram oito e pouca. Eu liguei o wi-fi que Harry tinha pagado o pacote e deixei que a hora se atualizasse sozinha só para que eu confirmasse que eu não tinha esquecido como fazer uma simples conta de soma.

Por fim, tirei a foto, era só céu e nuvens. Virei a câmera e bati outra foto, uma selfie de Harry com a parte da frente do cabelo preso para cima como uma calopsita, o travesseiro do pescoço servindo de apoio cobria o meu ombro e metade do meu rosto, porque assim eu pareceria apenas meia múmia e não uma múmia completa.

Um bipe soou na cabine e eu olhei para cima, como se precisasse dos olhos para apurar os ouvidos.

"Here is your Capitan speaking, we're expecting to land in Guarulhos Airport in about thirty minutes. It'll be cloudy, and the temperature is currently 66 degrees Fahrenheit. Reminder to keep your seatbelt fastened and enjoy the rest of your flight".

Outro bipe.

"Aqui é o piloto, nós vamos aterrissar no aeroporto de Guarulhos em aproximadamente trinta minutos. O tempo está nublado e a temperatura é de 19 graus celsius. Por favor, mantenha o cinto de segurança afivelado e aproveite o restante do voo".

Harry tinha aberto os olhos agora e eu dobrei o pescoço de novo para vê-lo.

- Você está bem? - Ele levantou a cabeça do meu ombro e me encarou preocupado.

Eu franzi a testa sem entender.

- Sim, por quê?

- Por que você está chorando?! - Levou uma das mãos com cuidado até estar bem próximo dos meus olhos, mas não me tocou.

Eu pisquei, sentindo meu rosto se molhar. Eu não tinha percebido.

- É que ele falou em português.

- Falaram português o voo todo. É sempre assim em voos internacionais, falam inglês e a outra língua. - Harry respondeu sem entender. - O que disseram? - Ele perguntou.

- Que estamos chegando. - Eu encolhi os ombros. - Eu só... Sei lá... Parece surreal toda vez que os ouço falando português. Não consigo acreditar que é real.

O sentimento de morar em outro país só é entendível para quem o sentiu. Eu poderia ficar horas descrevendo e, ainda assim, quem nunca viveu isso não seria capaz de entender por completo. É uma daquelas coisas que você não consegue imaginar como seria.

- Awww. - Harry fez um biquinho e eu o beijei. - Você é tão fofinha.

- Paraaaa. - Eu cobri o rosto com as mãos. - Eu achei que não fosse ficar tão ansiosa, já que vi meus pais em janeiro. - Comentei. - Mas é só um tipo diferente de ansiedade.

- Bem, eu sei exatamente do que você está falando.

Eu nunca tinha sequer me dado conta de que Harry tinha passado por tudo isso quando saiu pelo mundo aos 16 anos de idade; para quem está de fora parece incrível, mas só hoje, depois de fazer o mesmo, eu consigo imaginar como foi um pouquinho do que ele passou.

Mistérios do Destino // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora