20. Would you wanna stay, if I were to say?

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JANEIRO, 2019

Um mês e meio atrás 

Eu nunca pensei muito sobre a morte.

É claro que pessoas sempre morrem, o tempo todo. E a gente vê sobre isso o tempo todo também, na tv, na internet, nos jornais..., mas eu nunca me deixei pensar mais do que o normal momentâneo quando sabemos da morte de alguém. Até André morrer.

Perder meu irmão foi a pior coisa que aconteceu na minha vida.

Era o meu aniversário de 25 anos. E eu só conseguia pensar que poucos dias atrás completava um ano que ele se foi.

As pessoas lidam com o luto de maneiras diferentes. Droga, uma mesma pessoa lida com vários lutos de formas diferentes. Eu lidei. Me lembro de anos atrás quando meu avô morreu, ou aquela tia que eu adorava. Em cada uma dessas vezes eu agi diferente, eu fui uma pessoa diferente.

Mas nada me preparou para perder meu irmão. Acho nada nunca nos prepara para perder alguém. Cada vez é como se fosse a primeira.

E tudo bem não estar preparado.

Tudo bem ser como o Louis, que foi para a balada com a irmã uns dias depois da morte da mãe. Ele estava destruído, dava para ver na cara dele. Mas ele fez o possível para que pudesse superar, ou suportar, ou talvez só tentar não morrer por dentro também.

E tudo bem ser como eu, que de forma alguma quero socializar ou fazer qualquer tipo de comemoração ao meu aniversário.

Era uma sexta-feira e eu não pretendia ficar em casa deixando que tudo isso me corroesse de dentro para fora. O trabalho me esperava. E trabalhar era o que eu queria.

Mas é claro que eu seria ingênua se acreditasse que Lucy simplesmente aceitaria que eu não queria fazer nada.

Ela tinha me mandado uma mensagem dizendo que se atrasaria e que eu deveria ir almoçar sozinha porque ela chegaria só depois que o almoço parasse de ser servido. Logo hoje, eu pensei. Henry também não poderia almoçar comigo, tinha uma reunião com um cliente e Jane tinha um treinamento. Okay. Eu almoço sozinha.

Foi o que fiz.

Estranhei o refeitório vazio de pessoas conhecidas. Estava cheio, como sempre, mas daquela sensação de estar ao redor de milhares de pessoas e, ainda assim, sozinho.

Talvez fosse porque eu fui um pouco mais tarde, inconscientemente esperando que Lucy chegaria em algum momento, mais cedo do que previu, dizendo que deu tudo certo com o que quer que fosse que a estava atrasando. Mas não aconteceu.

E foi então que voltei para trabalhar, já que não tinha ninguém para conversar e me fazer gastar o curto tempo do almoço. Eu abri a porta da minha sala, só para descobrir que todos estavam lá dentro. Todo mundo do escritório, os gerentes, Henry e seus vendedores, Lucy e Jane. Era por volta das uma da tarde. Eu nem sabia que tanta gente gostava de mim assim.

De repente fiquei feliz por Lucy não ter me escutado. Ela nunca escuta.

Havia alguns balões pregados num quadro que eu usava para traçar rotas, esquemas ou deixar recados para os motoristas e mecânicos. Meu monitor também tinha alguns balões pregados e a minha mesa e de Lucy tinham sido juntadas e formavam uma só, com bolo, salgados e refrigerante, no melhor estilo brasileiro.

- Meu Deus! Onde você arrumou coxinha? - Eu perguntei à Lucy enquanto a abraçava.

- Campbell quem comprou. - Ela sussurrou de volta no meu ouvido e, quando nos soltamos, eu olhei para Henry do outro lado da sala, com um copo na mão, ria de alguma coisa que o sr. Cooper tinha lhe dito.

Mistérios do Destino // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora