Prólogo - Wherever you are is the place I belong

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                                                                                   MARÇO, 2019
                                                                                    Atualmente

-... E eu vou tirar férias por duas semanas, viajar para casa dos meus pais, visitar alguns familiares, essas coisas, sabe? A minha intenção é descansar, passear em lugares que eu costumava ir, ver meus amigos, fazer coisas mais tranquilas... - Parei de falar porque estava repetindo o que ia fazer, comecei a me atropelar nas palavras. Eu oficialmente estava gaguejando.

Era o que eu dizia para convencê-lo e talvez convencer a mim mesma, mas a verdade é que eu queria muito que ele fosse viajar comigo, mas não tinha as palavras certas e nem havia recebido uma brecha na conversa para fazer o convite.

- Eu vou sentir sua falta, darling... - Ouvi Harry pronunciar essa confissão mais uma vez.

A única pessoa que eu queria enganar era a mim mesma. Como pode alguém tentar convencer-se e enganar-se ao mesmo tempo? Fato é que estávamos conversando há alguns minutos sobre as minhas férias e eu já tinha recebido várias indiretas e brechas como essa. Eu estava mesmo era com medo de convidá-lo e ouvir o seu "não", porque sabia que, além de diversos outros fatores, ele talvez nem pudesse ir. Talvez todos esses diversos fatores se unificassem em um só motivo que me impedia de dizer tudo o que eu sentia. Era como se ouvir o seu "não" para a viagem, fosse também uma rejeição para todos esses sentimentos. Afinal, tínhamos uma amizade tão... sensacional, que vinha com o bônus de poder beijá-lo, dormir abraçada, de ser confortada e poder o procurar de madrugada depois da balada quando eu não tinha arrumado ninguém para ser o sexo casual da noite... o que eu menos queria na vida era perder tudo isso.

- ... Quando você voltar, podemos ir naquele restaurante em Nova York que você queria, vemos um dia mais tranquilo e eu posso... não sei! A gente dá um jeito de não ser visto, tudo bem se nos vierem também, né? Até porque estaríamos só jantando e podemos convidar alguns amigos para amenizar... - Ele dizia calmamente enquanto eu divagava em meus pensamentos, não prestando muita atenção no que ele estava dizendo. Àquela altura da conversa e pela quantidade de vezes que tocamos no assunto da minha viagem, eu já estava sentindo minha garganta se fechar de nervoso, as palavras que eu tanto temia dizer estavam me sufocando.

Se eu não perguntasse agora, nunca saberia.

- Bom, você quer ir comigo? - Cortei sua fala em agudo esganiçado. - Digo, viajar comigo. - Tentei consertar melhorando a voz. - Eu sei, sei que você tem uma agenda cheia e horários meio loucos, e é meio esquisito eu levar um cara que eu pego para viajar comigo para casa dos meus pais nas férias, é esquisito, não é? Mas antes disso somos amigos, certo? Mas também não quero que você fique achando que eu estou achando algo. - Parei de falar porque comecei a perder nas palavras de novo. - Espero que isso faça sentido. É estranho, eu sei. - Eu repeti. - Porque você consequentemente conheceria meus pais. Mas somos amigos, não é? - Eu repeti de novo. - Amigos conhecem a família de amigos. - Eu disse explicando para tentar ME convencer, porque toda a minha paranoia tinha a ver com o ato de conhecer pais. Na minha cabeça se você apresenta seus pais é porque quer algo sério.

- Sim, amigos conhecem a família de seus amigos... - Harry disse devagar com cara de quem estava tentando entender o modo como eu estava agindo.

- É só porque eu queria que você me conhecesse de verdade, conhecesse essa parte do meu mundo, assim como você me permitiu conhecer o seu. Seria legal ter você comigo. – Continuei um pouco afobada, brevemente me recordando como Harry abriu sua casa, sua vida e seu coração para mim. - Além disso, onde eu moro é muito calmo, é quase interior, tenho certeza que ninguém vai te reconhecer e nem te incomodar, eu sei que você não se importa com os fãs, mas também sei que não é sempre que você gosta que saibam onde você está... Ah! Você me entendeu... Mas lá nós poderemos sair para onde... - Harry colocou os dedos nos meus lábios e me pediu em um gesto mudo que parasse de falar. - Quisermos. - terminei a sentença em um sussurro, sentindo seus dedos quentes ainda em meus lábios, e os olhos verdes sustentando o meu olhar surpreso devido a interrupção.

Lá estava eu, mais uma vez, atropelando as palavras. Fiquei com medo de tudo ter soado muito pior do que eu ouvi. Só o que me faltava era que ele pedisse para repetir tudo porque não havia entendido nada. Eu não teria coragem de repetir tudo o que eu disse.

- Onde você morava. - Harry enfatizou com um sorrisinho de lado. - Você está falando demais.

- É o que? - Meu olhar passou de surpreso para confusão total em segundos.

Eu podia jurar que Harry tinha nos lábios um sorrisinho presunçoso de quem segura uma gargalhada, e senti meus ombros cederem levemente, se fosse em qualquer outra situação, essa atitude teria me feito relaxar instantaneamente. Mas eu estava falando sério, por isso tentei não dar tanta atenção, mantendo a postura que condizia ao quão sério eu queria transmitir estar.

- Você disse que onde você mora é calmo e eu te corrigi, porque você não mora mais lá, você mora aqui, babe. - O sorriso de Harry foi se alargando conforme falava, parecia que ele estava se divertindo com toda a situação, ao contrário de mim, que estava visivelmente angustiada.

Eu sempre amei o fato de ele me chamar de babe, desde que nos conhecemos. Nunca foi um apelido exclusivo meu, ele sempre chamava as pessoas assim, era um jeito dele, de ser carinhoso. E, mesmo que não seja um vocativo exclusivo para mim, eu me sentia importante para ele, porque significava que ele queria ser carinhoso comigo, que eu estava inclusa nas pessoas que ele queria tratar com cuidado.

- Estou falando sério, Harry... - Eu disse, suspirando audível.

Harry já me conhecia o suficiente para saber que eu odiava que ele fizesse palhaçadas quando eu estava falando sério. E aquele momento, para mim, era crucial. Ou ele dizia o tão temeroso "não" e eu entenderia como a rejeição que já previa, tal rejeição que significava que: por mais que ele realmente não pudesse, ele também não fazia tanta questão de estar comigo durante aqueles dias em que eu me ausentaria, já que eu estive com (e por) ele em mais dias do que posso contar, ou, ele diria "sim". Simples assim!

- Tudo bem. Que dia vamos mesmo? - Sorri. Foi automático. Não pude conter o meu mais largo sorriso após ouvir essa simples sentença. - Como eu estava dizendo antes de você me interromper. - Continuou Harry. - Eu quero estar onde você estiver. Eu quero ir com você, Lizzie. - E sorriu simples e leve.

Eu fiquei tão preocupada em ouvir uma resposta negativa, que foi a única pela qual me preparei. Claro que eu tinha uma pequena faísca de esperança de ele dizer "sim", mas a parcela que não acreditava que isso fosse possível, era muito maior.

Quando Harry e eu nos conhecemos, tivemos uma afinidade que foi instantânea, foi questão de tempo para que desenvolvêssemos intimidade, em todos os sentidos. Mas nesse caminho, junto com a química que descobrimos ter juntos, também criamos um laço de amizade muito maior do que qualquer coisa física. Havia muito carinho, acima de tudo.

- Tudo que estamos vivendo nesses últimos meses... é... eu não sei... - Harry fez uma pausa enquanto parecia escolher quais palavras utilizar para definir todos os momentos que tivemos juntos, e também separados, mas sempre em contato, desde que nos conhecemos.

Ele sempre agia assim quando queria contar algo sério sobre como estava se sentindo. Foi do mesmo jeito quando nos beijamos pela primeira vez.

- Harry Styles, você está me pedindo em namoro? - Eu sempre perguntava isso brincando diante de qualquer mínima demonstração de afeto que partisse dele.

- Não. - Me surpreendi. Era a primeira vez que ele negava aquela pergunta de forma séria. Ele sempre ria quando eu falava.

- Não? - Imitei depois de sua longa pausa dramática.

Aquele foi início da conversa mais sincera que já tivemos.

Toda a dificuldade de chegarmos naquele ponto de conversa que eu tanto evitara, por nunca dizer o que eu realmente queria dizer, foi que abriu portas para o desenrolar de tantos outros assuntos sobre nós... E por isso, quando percebi, estávamos planejando mais uma viagem, e dessa vez, para minha casa.

Mas não foi aí que a nossa história começou e nem tudo saiu como planejamos. 

Mistérios do Destino // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora