23. Are we friends or are we more?

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MARÇO, 2019

Alguns dias atrás

Faltavam poucos dias para que completasse oficialmente um ano que eu morava nos Estados Unidos.

Enquanto no Brasil era carnaval e cada vez que eu abria o Instagram tinha que ver todos os meus amigos se divertindo... Eu, que estava na outra extremidade do continente, só trabalhava. Quero dizer, não me entenda mal; acho que a essa altura já deu para perceber que eu gosto do meu trabalho, gosto do que faço, gosto da ideia de ir para West Hollywood e passar dirigindo pela calçada da fama todos os dias. Não há o que reclamar sobre isso.

Mas dizer que eu não queria quatro dias de folga para me afogar em álcool com meus amigos enquanto beijamos bocas de procedência duvidosa era mentira. Não que na minha situação atual eu fosse beijar alguém, já que Harry não saia da minha cabeça. Viu? Até para explicar sobre minha deprê por não estar com meus amigos eu tenho que o mencionar.

A melhor parte do carnaval não era nem todos aqueles dias de festa em que eu mal dormia ou comia, só bebia e ficava acordada o máximo de tempo possível; a melhor parte era que meu irmão odiava.

André nunca gostou de carnaval. E sabe qual era a melhor parte dessa melhor parte? Sim, as melhores partes ainda têm melhores partes. Um pouco confuso, mas juro que faz sentido. E era a melhor da melhor porque eu tinha um motorista particular; corrigindo, um piloto particular. André me levava e me buscava para todos os bloquinhos e festas nessa época do ano. Todo mundo sabe que o trânsito em época de carnaval é o caos instaurado, e é claro que uma moto facilita o acesso a qualquer parte da cidade, então eu sempre estava no foco de qualquer bagunça muito rápido e nunca tinha que me preocupar em como eu ia embora ou se eu tinha bebido demais, porque ele não gostava de ir, ou seja, então ele não estaria bêbado e poderia me buscar sempre que eu ligasse. Era perfeito!

Me lembrar do carnaval e, mais especificamente das caronas na moto de André, me fizeram pensar por onde anda a minha Hondinha. Bem, ela não é mais minha. Espero que seu novo dono dê tanto valor a ela quanto eu. Eu poderia cantar When I Was Your Man do Bruno Mars. Tudo bem, agora eu estou rindo sozinha ao comparar um término de relacionamento à venda da minha moto. Bem, de qualquer forma, eu espero que seu atual dono lhe dê todas as suas horas disponíveis para cuidar de você, Hondinha. Espero que ele segure sua mão, ops, guidão, assim como eu segurava e te leve para todas as festas, ou trabalho, tanto faz. Ou melhor, espero que você leve seu dono para onde ele precisar ir, assim como você me levou. Nunca me esquecerei que a minha moto me levou até Harry, até seu show. E lá vem o bendito aparecendo de novo nos meus pensamentos!

Droga! Que saudades de um passeio de moto. Eu amo dirigir por essa ou qualquer outra cidade de madrugada, mas andar de moto às quatro da tarde em um sol escaldante também tem o seu valor. Como quando você está em um lugar abafado e abre uma janela, aquela primeira lufada de ar fresco que vem de fora. No Brasil, apesar de proibido, a viseira levantada do capacete enquanto você pilota é a janela aberta. A música que sai do painel do carro é substituída pelo ruído do vento que é abafado pelo acolchoado do capacete. A mão direita que costuma descansar no câmbio de marcha passa a contrair e relaxar o músculo ao usar o acelerador e, às vezes, o freio da roda dianteira.

Em um impulso, peguei o celular e, com um clique rápido nas chamadas recentes, o número de Harry já chamava.

- Boa tarde, babe.

- Ei! Tá fazendo o quê?

- Eu estou ótimo, Elizabeth, obrigado por perguntar! E você, como está? - Dei uma gargalhada diante do tom ofendido.

Mistérios do Destino // H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora