→ Capítulo V ←

251 17 8
                                    

"Tiro meu disfarce

Estou vivendo a vida de outra pessoa."

Alone Again - The Weeknd


Zuko

Dizer como eu me sinto nunca foi muito a minha praia. Desde cedo eu fui ensinado a não deixar tudo que sinto preso na garganta, o diálogo sempre foi algo muito prezado na família, a compreensão, o amor. Mas sempre senti que deixar transparecer minhas fraquezas seria perigoso demais e seria minha destruição.

Sempre disse para mim mesmo: "Seja frio e sério, ninguém precisa saber que está ferido. Guarde sua dor para você."

Tsc.

Então, percebe-se o motivo de eu nunca falar como me sinto, nunca ver necessidade em fazer outras pessoas saberem de todas as merdas e problemas de um cara de vinte e cinco anos, quando ele aparentemente só está servindo para conquistar garotas e dar passes vips para festas em uma fraternidade, que tinha uma vida fácil.

Eu era somente um mediador, num mundo de fantasia. Tudo que importava era o que eu poderia fazer com esse aprendizado de anos, se tornou fácil demais manipular e entender o que as pessoas queriam. Tudo que eles querem é álcool, sexo e regalias. Eles precisam de alguém que presida esse circo todo, que proporcione a todos o melhor que a mentira e a ilusão podem ofertar.

Porém, tudo que eu quero é paz.

Em meio a todo esse tumulto, aprendi que não tem necessidade alguma de expor minhas fraquezas, de dizer como eu realmente estou, sei que isso acabaria com todas as expectativas que as pessoas tinham sobre mim, que meu tio tinha em mim.

Se ninguém sabia a realidade, aqui estava ela: eu era um bastardinho, um fracasso, uma falha. Eu sabia bem disso e às vezes eu me orgulhava da fama que eu tinha. Aparentemente para todo mundo eu era um ser sem coração, então resolvi encarnar este personagem e aos poucos ele foi se fundindo em mim.

Porém, eu não precisava ser lembrado de que era um fracassado. Eu estava bem com isso, conseguia conviver bem com aquele fato. Mas isso não significava que aceitava o fato de ser um fardo. Conviver é uma coisa, aceitar é outra totalmente diferente.

Talvez eu estivesse apreensivo demais pelo fato do meu aniversário estar chegando. Faria vinte e seis dali um mês e eu estava morrendo de medo, apesar de ninguém saber daquele detalhe. Eu ficaria mais velho e o vazio que havia dentro do meu peito só aumentaria, era mais um ano que se passaria sem que eu soubesse o que de fato havia acontecido com minhas origens. De saber quem eu sou.

Apesar de minhas indagações e lamentações, a música estava estupidamente alta no prédio simples há apenas dez quadras do campus. Sing Se, a fraternidade do fogo. Mai achou que isso fazia algum sentido, mas pra mim é um monte de merda sem sentido. A única coisa positiva são de fato as festas e as garotas, mas ultimamente isso tudo também vem se tornando batido.

– Poxa, obrigado por ter permitido a minha entrada e a da minha namorada. Você é o cara!

Eu apenas levantei a garrafa de cerveja na direção dele como em um brinde imaginário. Eu nem sequer lembrava o nome dele ou da namorada dele, me lembrava apenas dele ter ficado na minha turma de matéria extra ano passado. Mas a garota era bem gostosa e ficava sorrindo de modo sugestivo pra mim, então eu liberei a entrada deles. A dívida seria cobrada em outro momento.

A decoração de três festas atrás permanecia intacta, quase nunca se era dado o trabalho de organizar o ambiente, gente bêbada não nota detalhe. Bufei pela milésima vez só naquela noite. Todo mundo parecia se divertir e tudo era extremamente atrativo para eles, então por que eu não via graça nenhuma?

Good For You (Zutara Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora