26. Destinados a reencontros

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Hackey Shoukill

-- Se você morrer de infecção antes de acharmos qualquer um deles, eu vou atrás de você.

Ameaça era minha melhor arma no momento.

Enrolando o braço de Kuina na faixa, eu já havia a ameaçado diversas vezes. Ameacei sua família, seus cachorros, sua casa, seus filhos e eu nem sei se ela tem alguma dessas coisas. Eu só não preciso ficar sozinho agora.

Kuina- Não sou nenhuma covarde, não vou te deixar agora. -- sorriu levemente

Cortei a faixa, finalizando o curativo.

-- Espero que honre isso.

Me levantei, colocando as coisas numa caixa e a deixando em cima de uma espécie de cômoda naquele quarto de hospital. Kuina estava sentada em um banquinho deixado ao lado da cama de coma, ela observava a cama abandonada com um olhar carinhoso e destemido, pelo que ela me falou, sua mãe estava no hospital na última vez que ela a viu.

-- Ela te aceitou bem?

Ela se virou para mim com um sorrisinho.

Kuina- Nem teve que fazer esforço para me chamar de "filha", ela foi quem mais me acolheu.

Sorri e pousei uma mão em seu ombro, acariciando levemente.

Kuina- Ela é minha mãe e meu pai. ... Eu vou voltar para casa. Eu preciso vê-la outra vez.

Assenti, concordando.

-- Nesse caso, vamos nessa.

Me afastei de seu ombro e peguei sua bolsa, colocando em mim. - Já que, aparentemente, eu virei mordomo de minha parceira.

Kuina- Eu me abri para você, agora é sua vez.

Me virei novamente para ela com uma sobrancelha arqueada. Mesmo confuso, ri de sua cara.

-- Eu não tenho nada para me abrir. Quero dizer, minha mãe está num caixão e meu pai é um alcoólatra fudido, então... -- dei de ombros

Kuina- Certo... E sobre essa sua cicatriz?

Arqueei as sobrancelhas, surpreso com a pergunta. Passei a lingua na minha bochecha inferior, um pouco desconfortável com a questão repentina. Toda vez que tocam nesse assunto, sinto como se estivessem invadindo meu corpo e pensamentos.

-- Facada. -- respondi simples

Cruzei os braços e me encostei na parede, tentando convencer a mim mesmo de que eu não me importava mais com o assunto.

Kuina- Assalto?

-- Pai ciumento. Na formatura de 5° ano um pai de uma amiga minha achava que eu estava dando em cima da filha dele, eu tinha fama de favelado por ter aprendido palavrão com meu pai desde muito pequeno e quase nunca ser visto com responsável, apenas minha irmã. Os filhos diziam isso aos pais e eu não era bem visto... Bom o suficiente para você?

Kuina- Ele esfaqueou uma criança do 5° ano?

-- Ele esfaqueou a criança favelada que estava com supostas segundas intenções com sua filha.

Kuina- S/n sabe disso?

-- Se sabe? Ela estava lá. Foi ela quem cuidou de mim enquanto ligavam para o papai. ... Eu não gosto de ver meu próprio sangue até hoje.

Ela ficou em silêncio por um momento, olhando ao chão, digerindo o acontecido. Antes que ela me olhasse com pena, cortei o assunto.

-- Precisamos ir, não podemos perder o tempo.

𝙳𝚎𝚜𝚝𝚒𝚗𝚎𝚍 𝙵𝚘𝚛 𝙳𝚎𝚊𝚝𝚑: ᴵᴹᴬᴳᴵᴺᴱ 𝑪𝒉𝒊𝒔𝒉𝒊𝒚𝒂Onde histórias criam vida. Descubra agora