Capítulo III - Não se ensina coisas novas a um macaco velho

5 0 0
                                    

Como nós sabemos, a senhora Sharon há tempos abandonou seus planos de vingança contra a família Valente e até mesmo o pai. Ela quer viver seus últimos dias de vida de forma tranquila, sem as dores de cabeça do passado. O que, por outro lado, não quer dizer que ela tenha se reconciliado com o pai, por exemplo. Pelo contrário, Sharon, por conta das mágoas de juventude, quer a máxima distância possível em relação ao pai dela.

Contra a indicação das tias que moram em Córdoba (que sabem que isso é algo inútil), Luna quer que Sharon se reconcilie com o senhor Alfredo e assim ela possa voltar a viver na mansão Benson. Mas Sharon se recusa a isso de forma veemente.

Conversa vem e vai, e Luna pergunta à tia sobre o avô.

Luna: "Tia Sharon, não acha que está na hora de reconciliar-se com o vovô?".

Sharon: "Eu, reconciliar-me com o meu pai? Há, você está louca, Luna, onde já se viu?! Eu jamais irei me reconciliar com o meu pai! Quero a maior distância possível dele!".

Luna: "Mas tia, não acha que você tem que deixar essa mágoa do passado para trás e olhar para frente?".

Sharon: "Luna, como já te disse antes, não se ensinam coisas novas a um macaco velho. O mal é sempre lembrado, o bem é tão difícil de ser reconhecido".

Luna: "Mas tia, o senhor Alfredo é o meu avô, o teu pai, você tem que se reconciliar com ele. Está na hora de sermos uma família unida e enterrarmos de vez todas as desavenças e rixas pregressas, ainda mais agora que as meninas nasceram...".

Sharon: "Luna, é tarde demais para isso. Você precisa entender que esse tipo de coisa não se resolve em um passe de mágica. Ainda mais quando estamos falando de alguém que como pai para mim foi um zero a esquerda".

E assim a conversa entre sobrinhas e tia, no fim das contas, não chega a lugar algum. Como vimos, a última coisa que a senhora Sharon quer saber é se reconciliar com o pai dela, a ponto de preferir passar os últimos dias de sua vida em um presídio ou internada em um hospital que morar na mansão junto com o pai, tamanha a mágoa que ela tem em relação a ele. Ela, que no máximo tolerou a presença do pai dela na mansão antes de ser despojada de tudo.

Luna: "Eu não entendo a nossa tia, como ela pode ser tão orgulhosa a esse ponto?".

Sol: "Luna, acho que é como ela disse, esse tipo de coisa não se resolve em um passe de mágica, de uma hora para a outra. E acho que nós devemos respeitar a decisão dela. Entendo a nossa tia, Luna".

Luna: "Como assim, Sol? Não me diga que...".

Sol: "Luna, você deve saber que quando descobri minhas origens, tinha certa mágoa em relação não só em relação aos nossos pais, como também em relação ao vovô. Reconciliei-me com ele, gosto muito dele, mas há algo que me deixa um pouco chateada, e até comentei com a Âmbar a respeito disso".

FLASHBACK – dias dois antes

Sol e Âmbar se encontram, em uma praça bem próxima às dependências do circo. Os ensaios de Sol para a apresentação se encerraram, e ela está muito cansada. Ela quer descansar e está acompanhada de sua cadela ših-tzu Kara. Logo Âmbar a interpela.

Sol: "E ai Âmbar, como está? É uma honra poder encontra-la aqui!".

Âmbar: "Eu digo o mesmo, prima".

Ao ver Âmbar, Kara se anima e pede carinho da parte da loira.

Âmbar: "Então você quer carinho, pequena?".

Sol: "Pelo vista a Kara gostou de você, Âmbar".

Após conversas sobre cachorros, gatos, trabalho e patinação, Sol pergunta à prima sobre o Simon.

Sol: "E o Simón, como ele está, Âmbar? Acho que você e ele formam um belo par".

Âmbar: "Ele está bem, obrigado. Ele está bem empenhado com a banda e com o CD que ele pretende lançar em breve".

Sol: "Tenho certeza que vai ficar incrível, Âmbar. Pode ter certeza que irei comprar um desses".

Âmbar: "É muito gentil da tua parte. Só que, infelizmente, há algo que me incomoda, prima".

Sol: "E do que se trata?".

Âmbar: "Não sei se você sabe, mas a minha madrinha, a senhora Sharon, começou a apresentar problemas de saúde recentemente. Tanto que estamos cogitando transferi-la a um hospital caso a situação se agrave. Tenho passado muito tempo ao lado dela ultimamente, e o problema é que o Simon não tem gostado nem um pouco disso. Até já falou em terminar o namoro caso eu continue me encontrando com a minha madrinha".

Sol: "E o que o teu namorado tem contra a minha tia, Âmbar?".

Âmbar (desabafando e derramando lágrimas dos olhos): "Como você deve saber, o Simon é muito ligado à Luna. E, dessa forma, ele quer que eu me afaste da minha madrinha! Por conta de todo o histórico de maldades dela contra a tua irmã. Sabe Sol, eu gostaria... gostaria que o Simon entendesse... eu o amo muito, ele é um sujeito incrível e desde que o conheci sinto que minha vida deu uma grande virada, mas queria que ele entendesse a minha relação com minha madrinha. A minha madrinha pode ter feito muita coisa errada no passado, mas ela já não quer mais saber de vinganças e coisas do tipo contra a Luna e a família dela. E eu queria que ele entendesse, que bem ou mal foi ela que me criou e me deu um lar nesse tempo todo. E sinto que agora é a hora que a minha madrinha mais vai precisar de mim. Não posso dar as costas a ela, sob hipótese alguma!".

As duas se abraçam de forma terna em seguida.

Sol: "Te entendo Âmbar, e tenho certeza que cedo ou tarde o Simon irá te entender. Nas vezes em que o encontrei, tive uma boa impressão dele. E saiba de uma coisa sempre que precisar de um ombro amigo, pode contar comigo".

Âmbar: "Obrigada, Sol".

Sol: "E a propósito prima, queria lhe contar uma coisa".

Âmbar: "E do que se trata?".

Sol: "É sobre o meu avô. Eu me reconciliei com ele, as mágoas que eu tinha em relação a ele agora já são coisa de outrora, e quero deixa-las lá. Mas há algo que me incomoda nele".

Âmbar: "Já sei. Ele dá muita atenção à Luna e meio que se esquece das outras netas. É isso?".

Sol: "Sim, precisamente. Embora ele seja muito atencioso em conversas por telefone, no último encontro que tive com ele, ele deu muita atenção à Luna ao mesmo tempo em que deu pouca atenção a mim. Contigo ele também é assim?".

Âmbar: "Sim. Tanto que um dos motivos que me fez sair da mansão foi esse. Ele é assim mesmo, e parece-me que desde a infância da minha madrinha e da tua mãe".

FIM DO FLASHBACK

Na festa na mansão, a situação se repetiu: o senhor Alfredo praticamente só deu atenção à Luna, enquanto que Sol e Âmbar foram meio que deixadas de lado por ele. Com as crianças, ele repetiu a dose: deu muita atenção à Marisol, enquanto que Safira estava na mesma posição de Sol e Âmbar. E com as crianças de Ruslan e Helena, praticamente só deu atenção à Kira. E isso, obviamente, deixou Sol com uma pulga atrás da orelha, enquanto que para Âmbar isso não foi nenhuma surpresa.

Sou Sharon: a vida é um pesadelo (Sou Luna 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora