Enfim, a audiência começa. Mas primeiro de tudo Gabriel pergunta aos visitantes como que eles ficaram sabendo que ele conheceu a senhora Benson. Luna responde que alguns dias antes eles estiveram no hotel Le Grand Paris e lá tiveram uma audiência com dois velhos amigos do senhor Agreste, André e Audrey Bourgeois. E que, entre outras coisas, eles descobriram que Sharon não apenas lançou um disco em Paris, como também participou do filme "Solidão", que foi dirigido pelo senhor Bourgeois antes dele se tornar Prefeito da Cidade Luz.
FLASHBACK
Logo que Audrey conheceu Sharon, ela apresentou à argentina sua grande amiga Emilie Graham de Vanilly. Tal como aconteceu com Audrey, Sharon também estabeleceu amizade com Emilie.
Emilie provem da família Graham de Vanilly, uma família aristocrática do norte da França, mais precisamente da região do Rio Reno, cujas raízes remontam aos tempos de Carlos Magno (r. 768 – 814). À época, eles se destacaram nos enfrentamentos contra os saxões na atual Alemanha e os ávaros na atual Hungria e em decorrência disso ganharam títulos de nobreza e possessões no atual nordeste da França. Desde então passaram a servir lealmente aos reis da França. E assim o foi até 1789.
Por conta do caos advindo da Revolução Francesa a família Graham de Vanily perdeu muito de seu prestígio e posses de outrora. À época, muitos dos membros da família foram mortos e executados na guilhotina por serem monarquistas. Outros lograram aquilo que Maria Antonieta e Luís XVI não lograram: fugir para o Sacro Império Romano Germânico (atual Alemanha) e lá conseguir abrigo.
Com a ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, parte deles voltou à França e recuperou parte do prestígio e dos bens de outrora, embora sem os mesmos títulos de nobreza de antes. Entretanto, os Graham de Vanilly até hoje possuem algo que nem mesmo o caos revolucionário do ocaso do século XVIII foi capaz de lhes privar: os anéis gêmeos Graham de Vanily. Estas joias têm sido passadas de geração em geração há séculos, e lendas circulam a respeito delas, em especial no que tange à origem delas.
Não se sabe ao certo o que eles são de fato, mas há quem acredite que eles tenham alguma relação com o tesouro do Reno, de onde saiu o terrível anel de Nibelungos. Sim, o mesmo tesouro que em um passado distante era do terrível dragão Fafner. O mesmo Fafner que aterrorizou as florestas do norte da Europa durante certo tempo até ser vencido em combate pelo herói Siegfried.
Siegfried não só tornou-se imortal ao se banhar no sangue do dragão, como também se apossou do tesouro do Reno. Até que certo dia ele foi morto em decorrência de uma tocaia ao ser atingido em um ponto nas costas entre as omoplatas (o ponto do fraco do herói, visto que uma folha caiu no local enquanto banhava-se no sangue de Fafner) por uma lança. O executor de Siegfried foi Hagen de Tronje, um dos vassalos do rei burgúndio Gunther.
Após ter dado cabo de Siegfried, Hagen teria levado de Worms, então capital do reino dos burgúndios, 144 carros cheios de ouro até um local desconhecido no rio Reno. E desde então o destino do tesouro do Reno tem sido envolto em mistérios e lendas. Ninguém sabe onde todo esse montante de ouro se encontra. Há quem acredite que isso não seja mais que uma lenda das sagas e épicos escritos durante a Idade Média, entre eles a Saga dos Volsungos e a Canção dos Nibelungos (ambas do século XIII), que depois serviram de inspiração para o compositor alemão Richard Wagner (1813 – 1883), no século XIX, criar a Tetralogia do anel (1848 – 1874).
Diferente de Sharon e Audrey, Emilie não tinha um histórico familiar problemático e ao longo de seus anos escolares era uma garota popular, ainda que um tanto tímida e reservada. E, a despeito de suas origens familiares aristocráticas, jamais se utilizou desse fato para tirar vantagens sobre seus colegas (que muitas vezes carregam sobrenomes referentes a profissões de ofício, típicos de pessoas comuns), e nem regalias e privilégios perante os diretores das escolas. Afinal, hoje em dia a família Graham de Vanily não passa de um bando de nobres caídos que de nobreza praticamente só mantêm a partícula de no sobrenome e mais algumas posses na Renânia.
Desde tenra idade, Emilie era fascinado pelos filmes que via em casa e todo o glamour que eles envolviam. O fascínio era tanto que ela, contrariando o desejo dos pais, chegou à conclusão de que o destino dela era ser atriz. Sempre que tinha uma peça na escola lá estava ela, querendo participar das peças. E nisso conseguiu grande destaque.
Naturalmente, ela decidiu que à época em que se formou do colegial que o mundo do cinema era o destino dele. Ela então passou a estudar artes cênicas, junto daquele que anos mais tarde veio a se tornar o Prefeito de Paris: André Bourgeois. Só que enquanto que André estudava para ser um diretor de cinema, Audrey queria ser atriz. Tal qual Sharon e Audrey, os dois também estudavam na Nanterre.
A despeito das três estudarem em cursos diferentes, isso não as impedia de fazerem projetos em conjunto: Audrey ajudava Emilie com os figurinos de suas peças e pequenos filmes, que por sua vez eram ajudados por Sharon na parte de negócios e finanças, que por sua vez recebia a ajuda de Audrey com os figurinos das apresentações musicais e de Emilie com a parte de produção dos shows... Resumindo a ópera, uma mão ajudava a outra.
Como vemos, havia uma sinergia entre as três a despeito dos diferentes cursos que elas estudavam. Dizia-se à época inclusive que as três eram amigas inseparáveis. Conforme o tempo passou Emilie foi se enturmando com Audrey e Sharon, ela foi conhecendo mais gente do curso de moda de Audrey e do curso de matemática financeira de Sharon. E em uma dessas a beldade loira conheceu um homem chamado Gabriel Agreste, enquanto que Audrey, por seu turno, conheceu André. Já Sharon, por seu turno, não se interessou por ninguém dos cursos das amigas. Afinal, o coração dela era de Bernie e ninguém mais.
Gabriel Agreste era um homem de uma família de classe média parisiense que à época estudava moda junto com Audrey, e tinha amizade de longa data com pessoas como André Bourgeois e Bob Roth (que à época tinha acabado de se formar e deu seus primeiros passos no mundo da produção musical). Certa vez, em uma visita à sala do curso de seu amigo André, ele reparou em uma moça de longos cabelos dourados e olhos esverdeados. E ela encantou o jovem Gabriel Agreste, por sua beleza, ternura e simpatia. Tal moça era ninguém menos que Emilie Graham de Vanily.
Desde aquele momento, Gabriel Agreste, até então um homem muito reservado e pouco afeito a relações amorosas, se apaixonou perdidamente por Emilie. Passou a sonhar acordado com a imagem dela em sua mente. Chegou a lutar contra esse sentimento por um tempo, mas viu que se tratava de uma luta vã e no fim se deu conta de que estava perdidamente apaixonado por Emilie.
Sem saber ao certo como se aproximar de Emilie, Gabriel, sabendo da amizade de Audrey e Sharon com Emilie, resolveu procura-las.
Gabriel Agreste: "Sharon, Emilie, gostaria de conversar com vocês".
(...)
Audrey de início não bota fé na iniciativa de Gabriel, por achar que estava fadada ao fracasso pelo fato de Emilie ser de uma família de origem nobre e Gabriel ser de uma família de classe média. Mas Sharon não pensava o mesmo que sua amiga, e após pensar um pouco dá uma ideia a Gabriel.
Sharon: "Gabriel, o que você acha de chamar a Emilie para tomar um sorvete contigo na Pont des Arts. Dizem que o sorvete do André Glacier é ótimo. Acho que ela vai gostar".
Gabriel gostou do conselho de Sharon e a agradece. E o resto é história.
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Sou Sharon: a vida é um pesadelo (Sou Luna 5)
Teen FictionContinuação direta de "A irmã perdida". A enigmática Sharon Benson. Durante certo tempo ela foi uma das mulheres mais distintas de toda a Argentina, se não a mais. Quais serão os segredos e mistérios que ela guarda? Como que se deu a "trajetória da...