Capítulo LXII - Solidão (parte III)

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Na época do lançamento, o filme "Solidão" fez um considerável sucesso em termos de bilheteria e em diversos países europeus foi veiculado em salas de cinemas. Milhões foram ver ao filme, que recebeu dublagens em idiomas como o alemão, o italiano, o holandês, o inglês e até mesmo o húngaro e o polonês. Cópias em fitas VHS do filme foram lançadas no mercado europeu. Mas, por conta do fato de que pouco após o sucesso do filme André Bourgeois tornou-se Prefeito de Paris não foi possível um melhor e mais adequado trabalho de marketing do filme. E, depois do sumiço da atriz principal do filme, apenas uma cópia em DVD foi lançada, que está em poder de Gabriel Agreste.

Na verdade, o próprio Gabriel, aproveitando-se de sua influência no mundo da moda e de amizades como personalidades importantes como André Bourgeois e Bob Roth, mexeu os pauzinhos por trás das cenas para que não houvesse lançamento em DVD do filme. E assim não houve mais lançamentos e divulgações relacionadas ao filme, tanto dentro da França quanto fora dela. Na Internet, ao se fazer uma busca pelo filme, o máximo que se pode encontrar são pequenos trailers e quando muito pequenas cenas do filme de no máximo pouco meio minuto de duração. Além disso, pode se encontrar também algumas músicas do filme.

E assim nós podemos ver o quão impactante foi a "morte" de Emilie para Gabriel, que nele causou um impacto tão ou mais devastador quanto para Sharon foi ter sido preterida por Bernie em favor da irmã e depois o incêndio na mansão Benson.

Dessa forma, pode-se muito bem dizer muito bem que da mesma forma que há um Gabriel antes e depois da "morte" de Emilie, há uma Sharon antes e depois da perda de Bernie para a irmã e do incêndio na mansão. E não só isso: tanto para Sharon quanto para Gabriel, tais episódios foram as grandes facadas que tomaram da vida, facadas essas que os feriram profundamente por dentro e marcaram suas vidas para todo o sempre.

E é por isso que após a grande facada que tomou da vida Gabriel Agreste se tornou o Hawk Moth e de tudo tem feito para tirar sua amada Emilie do estado de coma em que há tempos se encontra por meio do poder dos miraculous da joaninha e do gato negro.

Mas por hora voltemos ao filme dirigido por André Bourgeois há muitos anos. O que poucos sabem é que "Solidão" guarda toda uma história por trás de sua produção.

FLASHBACK – A HISTÓRIA POR TRÁS DO FILME

André, assim como Emilie, se formou em Artes Cênicas pela universidade de Nanterre. Os dois estudaram na mesma turma durante cerca de cinco anos. Nesse ínterim, ele e seus amigos fizeram alguns filmes amadores, em que geralmente André era o diretor de filmagem deles e Bob Roth era quem cuidava da parte sonora.

Tão logo se formou da faculdade, André Bourgeois resolveu dobrar as apostas ao fazer sua primeira aventura no mundo cinematográfico, dessa vez em nível profissional, o filme "Solidão". Um filme que contou com um massivo investimento e patrocínio, cujo roteiro o próprio André escreveu junto com alguns amigos com os quais estudou artes cênicas. Outro amigo dele de longa data, Bob Roth, cuidou da sonoplastia e das músicas de fundo do filme, assim como da trilha sonora do filme.

Enquanto escrevia o filme ele pensou em algumas pessoas para estrelar o filme, e no fim escolheu para interpretar o papel principal do filme a jovem Emilie Graham de Vanily. A mesma Emily que estudou junto com o próprio André na turma de Artes Cênicas da Nanterre.

Certa hora, André chegou até Emilie (que à época iniciou seu namoro com Gabriel Agreste) com a proposta de estrelar um filme. A beldade loira, após ouvir o que André tinha a lhe dizer, não apenas aceitou a proposta, como também ajudou André a conseguir patrocinadores para o filme. Afinal ela, por ser de uma família de origem nobre e com certo prestígio social, também tem seus contatos e amizades influentes no meio que foram de grande ajuda para André fazer o filme.

Uma vez escolhida Emilie, André procurou outras pessoas para participarem do filme, entre elas Sharon, Audrey (sua então namorada) e a jovem aspirante à esgrimista Tomoe, além de mais alguns figurantes. As três também aceitaram participar do filme após negociações com os representantes comerciais da produtora Graham Films, uma produtora cinematográfica do norte da França que pertence à família de Emilie, cujo símbolo é um par de anéis prateados. O presidente da Graham Films é um tio paterno de Emilie, Michel Louis II Graham de Vanily.

Emilie, que por sua vez contou com todo o apoio de Gabriel para participar do projeto, ganhou o papel da jovem Catherine Meyssan, uma jovem alegre e de personalidade radiante, mas que ao mesmo tempo por dentro se sentia muito sozinha. Sharon, por seu turno, interpretou a moradora de rua Brigitte Dupont. Tomoe interpretou a artista de mangá Rumiko Takeda, que se mudou para a França há pouco tempo e que encontrou na arte dos desenhos de quadrinhos orientais como uma válvula de escape à solidão interna que ela mesma sentia por dentro de seu âmago. E Audrey, por seu turno, interpretou a socialite Agnes Chamack. Uma crítica de moda igualmente solitária e antissocial, que a despeito de seu grande prestígio no mundo da moda sentia um grande vazio por dentro.

Em determinada cena do filme, Catherine Meyssan está andando pelas margens do Rio Sena com uma sombrinha nas mãos, quando encontra debaixo de uma das pontes que cortam o rio que banha a Cidade Luz a moradora de rua Brigitte Dupont. Segundo o roteiro do filme, Brigitte Dupont e sua irmã, Laila, se apaixonaram pelo mesmo homem, Bertrand Gachot. Mas ao fim de tudo quem levou a melhor foi a irmã Laila, com a qual constituiu família com Bertrand.

E, quando tudo indicava que as coisas não poderiam ficar ainda piores, elas ficaram: com o tempo Laila descobriu que Brigitte também era apaixonada por seu marido. Uma briga feia entre as duas teve lugar, ao fim da qual Brigitte foi despejada e passou a viver como uma indigente de rua. E desde que virou uma indigente, recebeu toda a indiferença da família e passou a ser tratada como uma párea.

Ao ver Brigitte deitada na ponte tendo apenas a roupa do corpo e a coberta com a qual dorme, Catherine se compadece dela e chama-a para uma conversa.

Catherine: "Olá, senhora. Qual o teu nome?".

Brigitte: "Meu nome...? Eu me chamo Brigitte. Brigitte Dupont".

Catherine: "Brigitte Dupont... então me diga, o que você faz aqui? O que a fez tornar-se uma moradora de rua?".

Brigitte: "É uma longa história".

Brigitte explica toda a sua história para Catherine. Não apenas lhe contou como que ela foi reduzida a tal situação, como também lhe contou a respeito do quão difícil e penosa é a vida de uma moradora de rua como ela e do fato de que a família dela trata-a como uma pária que por conta de uma briga feia entre irmãs não pode nem ao menos ousar colocar os pés na casa dela.

Brigitte: "Minha jovem, você não sabe como é difícil a minha vida de moradora de rua, em especial nos dias de inverno, todo o frio e fome que passo. Mas o pior de tudo é que a minha família me trata como se eu não existisse! Como se eu fosse uma pária que deve arder no inferno! Como eu os odeio!".

Catherine: "Entendo como se sente, mas saiba de uma coisa: você não está sozinha nesse mundo. Eu sou de uma família rica, mas há vezes que eu me sinto tão solitária por dentro quanto você. Saiba de uma coisa: riqueza não é sinônimo de felicidade".

Logo as duas criam uma conexão entre si: de um lado, as agruras da vida de uma moradora de rua. E de outro, a solidão que uma jovem rica sente a despeito de toda a riqueza material que possui. Um verdadeiro encontro de dois mundos que se juntam em uma só em uma cena emblemática.

FIM DO FLASHBACK

Sou Sharon: a vida é um pesadelo (Sou Luna 5)Onde histórias criam vida. Descubra agora