Uma olhadinha no futuro...

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Elena abriu os olhos, seus cílios, uma moldura delicada para o azul profundo que parecia conter segredos de tempos imemoriais. O sol derramava-se sobre ela, como se reconhecendo uma antiga amiga, iluminando a pele parda que mantinha um toque sutil da terra que a viu nascer milênios atrás.

Os raios acariciavam sua face com ternura, revelando linhas suaves que contavam histórias de amores antigos e perdas eternas. Elena, imersa em um sono que era mais uma pausa do que uma necessidade, estendeu os braços graciosamente, despertando seus sentidos meio humano-meio dragão para mais um dia na tapeçaria do tempo.

Seu cabelo castanho caía como uma cascata lisa sobre os ombros, um reflexo da paciência e sabedoria acumuladas ao longo dos séculos, seus longos três mil anos de vida. Ao levantar-se, seus pés descalços encontraram o assoalho de madeira rústica, uma ligação com a simplicidade que contrastava com a complexidade de sua existência longeva.

Ela inspirou profundamente, saboreando o aroma fresco que permeava a pequena casa. Cada respiração era um lembrete de que, embora envolta em quase-eternidade, Elena continuava a encontrar beleza nos pequenos prazeres da vida que os mortais tanto apreciavam. O mundo fora da janela aguardava, repleto de possibilidades tão vastas quanto o tempo que ela carregava em seu ser semi-imortal.

Ao se erguer da cama, Elena se dirigiu à janela com uma graça que só o tempo poderia esculpir. Seus olhos encontraram o panorama do Ninho, uma ilha que testemunhou épocas de conflitos, agora transformada em um cenário de harmonia entre duas espécies antigas.

A colina estava viva com a risada de crianças, mestiças e não mestiças, humanas, dragões e meio-humanas brincando em uma dança animada que transcendia as diferenças. Os dragões, antes senhores solitários da ilha, agora compartilhavam seu espaço com seres humanos, construindo lares de madeira que se misturavam organicamente com a paisagem exuberante.

No varal, mães humanas e dragônicas estendiam roupas lado a lado, um gesto cotidiano que simbolizava a coexistência pacífica. O ar estava impregnado com o aroma de comida preparada nas cozinhas que se mesclavam ao ambiente natural do Ninho. As ruas de terra, outrora marcadas pelo sangue de batalhas ancestrais, agora eram caminhos de amizade e colaboração.

Elena sorriu ao contemplar a cena diante de seus olhos semi-imortais. Aquilo não era apenas uma transformação física da ilha, mas uma metamorfose da alma, onde o passado sangrento cedeu espaço a um presente vibrante de convivência entre dragões e humanos.

Ao descer as escadas da casa de madeira, ela sentiu sob seus pés a vibração de uma terra que, através do tempo, aprendeu a aceitar e celebrar a diversidade. Era um Ninho de esperança, onde as asas dos dragões se entrelaçavam com os sonhos dos humanos, e o sol iluminava não apenas o céu, mas também os corações que aprenderam a bater em uníssono.

Elena desceu as escadas da casa de madeira, seguindo o irresistível aroma que envolvia a casa rústica de madeira. Ao chegar à acolhedora cozinha, seus olhos encontraram Emily, sua mãe dragoa em forma humanoide. Os cabelos castanhos e cacheados reluzentes caíam com graciosidade sobre seus ombros, complementando a pele clara e os olhos azuis cristalinos que brilhavam com ternura.

Emily estava imersa na preparação do café da manhã, movendo-se com uma coreografia de mãos habilidosas. O cantarolar suave ecoava no ambiente, uma melodia que era mais do que uma simples canção - era uma expressão de alegria e paz que permeava a cozinha.

Ao perceber a presença de Elena, Emily interrompeu seu canto por um momento, dirigindo um sorriso caloroso para sua filha mestiça.

-Bom dia, minha querida. Como foi sua noite? - disse, sua voz uma melodia por si só.

O sangue em minhas mãos - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora