O sangue em minhas mãos - Wenclair

Capítulo vinte e sete.

...Em meio à fazenda cafeeira, uma frágil garotinha suportava o calor sufocante que envolvia o ambiente. O sol escaldante castigava sua pele já marcada pelo trabalho árduo e pelo peso das correntes que aprisionavam seus tornozelos. Cada passo que ela dava era uma batalha contra o cansaço e a dor, mas a esperança de um futuro melhor mantinha sua determinação viva.

A garotinha frágil e esquelética, com apenas seis anos de idade, suportava a fome constante e a exaustão que acompanhavam sua condição de escrava. Seus pés, ainda em desenvolvimento, eram castigados pelas correntes que os aprisionavam, deixando marcas profundas e feridas que sangravam. O peso das correntes parecia multiplicar-se a cada passo, lembrando-lhe constantemente sua condição de escravidão.

Enquanto os filhos do dono da fazenda brincavam despreocupadamente com suas bonecas, a garotinha observava de longe, seus olhos cheios de desejo e uma pitada de inveja inocente. Ela sonhava em ter uma boneca própria, um objeto de afeto e conforto em meio à cruel realidade que a cercava. No entanto, o medo de ser pega roubando a impedia de realizar esse desejo simples. A vida na fazenda não permitia tempo para brincadeiras, apenas para trabalho árduo e sobrevivência.

A garotinha enfrentava não apenas as privações físicas, mas também as humilhações e abusos constantes. Os capatazes, com suas vozes ásperas e ordens cruéis, reforçavam a opressão diária a que ela e os outros escravos eram submetidos. O som do chicote cortando o ar e atingindo suas costas frágeis era uma triste melodia que ecoava em sua mente.

Apesar de sua tenra idade, ela já havia aprendido a ser forte. Ela nutria uma chama interior, um desejo ardente por liberdade e dignidade. Essa chama queimava em seus olhos profundos, mesmo nas noites mal dormidas e nos momentos de maior desespero. Ela sonhava com um futuro diferente, onde todos os seres humanos fossem tratados com respeito e igualdade...

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...A garotinha encontrava refúgio na senzala, onde a dura realidade da escravidão era amenizada pelo carinho e cuidado de Twin, um homem de meia idade que ela considerava seu pai. Embora não conhecesse seus verdadeiros pais, Twin havia preenchido esse vazio em seu coração, tornando-se uma figura paterna amorosa e protetora.

Twin era um homem de meia-idade, de estatura média e estrutura física robusta. Seu cabelo era grisalho, mas ainda em quantidade considerável, um homem negro, seu rosto exibia as marcas do trabalho árduo e das cicatrizes da vida como escravo. Seus olhos eram gentis e expressivos, transmitindo compaixão e determinação. Ele tinha um sorriso suave, capaz de acalmar a garotinha mesmo nos momentos mais difíceis. Apesar das feridas e das marcas em seu corpo, Twin carregava consigo uma aura de força e resiliência.

Sempre quando compartilhavam um momento de relativa calma na senzala, a garotinha se sentava ao lado de Twin, cujo rosto marcado pelo tempo e pelos infortúnios transmitia sabedoria e compaixão. Entre suspiros cansados, ele contava histórias de suas próprias lutas e esperanças, alimentando os sonhos da garotinha de um futuro melhor.

Twin, com sua habilidade e astúcia, ocasionalmente roubava algumas frutas da casa dos senhores para garantir que a garotinha e os outros escravos não morressem de fome. Ele compartilhava as frutas em segredo, distribuindo-as entre as crianças e os mais frágeis. Era um gesto de coragem e solidariedade em um ambiente onde a própria sobrevivência era um desafio diário.

Em suas conversas, Twin instilava a garotinha a importância da resistência e da união entre as pessoas. Ele lhe ensinava sobre a história da humanidade, dos dragões e dos cavaleiros, alimentando sua determinação de um dia libertar-se das correntes e se tornar alguém.

Enquanto a senzala ecoava com a tristeza e a dor dos escravos, a garotinha encontrava um oásis de amor e esperança na companhia de Twin...

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