Capítulo vinte e oito.

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Xavier caminha pelo corredor da academia, sentindo a opressão da maldição em suas costas. As marcas negras se espalham lentamente, parecendo uma manifestação física dos efeitos sombrios que o atormentam. A cada passo, ele manca com dor, lembrando da semana em que a crise havia passado e o efeito do sangue de dragão já não o aliviava mais.

Ele continua a andar no silêncio da madrugada, pode-se perceber a exaustão em seu rosto. A solidão dos corredores vazios amplifica a sensação de desespero que o assola.

Enquanto Xavier observa a lua cheia pela grande janela da torre da academia, um instante de serenidade o envolve. Ele fecha os olhos, permitindo-se uma breve pausa para respirar profundamente. Apesar da sensação de queimadura em seus pulmões, ele se conecta com a atmosfera ao seu redor.

O som da natureza ao lado de fora encontra uma maneira de penetrar nas paredes da academia. Mesmo àquela hora tardia, quando a maioria está imersa em um sono profundo, a vida continua lá fora. Xavier pode ouvir o sussurro do vento nas árvores, o farfalhar das folhas e os cantos distantes dos animais noturnos.

A melodia natural parece oferecer um alívio temporário à sua condição aflitiva. Enquanto o som envolvente o cerca, Xavier se permite ser transportado para um mundo além das marcas negras e da dor que o assola. Por um breve momento, ele se perde na conexão com a natureza, deixando de lado a opressão que sente em seu corpo.

A lua cheia continua a brilhar intensamente, lançando uma luz prateada no corredor da academia. Xavier abre os olhos novamente, renovado e reafirmado por esse breve encontro com a natureza.

Xavier sente uma pontada aguda em seu peito, fazendo-o parar bruscamente e segurar-se na pilastra próxima. Enquanto ele tenta conter a dor, um som abafado de grito seguido por um ruído rápido ecoa pelo corredor. A princípio, Xavier pensa que pode ser apenas um rato ou um produto de seu delírio causado pela dor intensa.

Ele endireita sua postura, olhando ao redor com uma mistura de curiosidade e apreensão. No entanto, quando Xavier olha para trás, sua visão é imediatamente atraída para as marcas de garra profundas na parede que dá acesso ao corredor. Seu coração dispara enquanto ele tenta compreender o que pode ter causado aquelas marcas.

De repente, uma mão surge rapidamente no mesmo local das marcas, parecendo se debater contra alguma força invisível. Xavier fica paralisado, seus olhos fixos na visão perturbadora diante dele. O som cessa e tudo volta a ficar em silêncio, exceto pela batida frenética do coração de Xavier ecoando em seus ouvidos.

Um calafrio percorre sua espinha enquanto ele tenta processar o que acaba de presenciar.

Xavier pensa em ignorar o acontecimento, convencendo-se de que ele não pode ajudar, de que é fraco e frágil demais para lidar com aquela situação. Ele acredita que sua presença apenas atrapalharia e que seria melhor deixar essa tarefa para outros.

No entanto, ao olhar novamente para a janela, seu próprio rosto refletido pela luz da lua, ele tem uma visão de si mesmo.

Naquele momento, Xavier se lembra de quem ele realmente é. Fraco, um ser frágil e atormentado pela maldição, mas acima de tudo, um príncipe.

Ele se lembra de sua honra, de sua determinação em enfrentar os desafios, independentemente de suas limitações físicas. O resgate de sua própria identidade é como uma chama acesa dentro dele.

Apesar da dor que ainda o consome, Xavier toma uma decisão. Ele dá o primeiro passo, dolorido, e depois o segundo, movendo-se em direção ao corredor assombrado. Seu corpo responde com urgência, correndo em direção ao desconhecido, como se sua honra e seu propósito estivessem guiando cada passo.

O sangue em minhas mãos - WenclairOnde histórias criam vida. Descubra agora