AYANNA SCHMIDT
Minha vinda foi tranquila.
Depois da despedida com a senhora Ofélia passei o caminho inteiro até o aeroporto pensando na possibilidade de Kamila vir atrás de mim ou da Ofélia.
Cheguei no aeroporto atrasada, por sorte consegui fazer o check in e subi no avião. Passei a viagem inteira inquieta com a possibilidade do que viria a seguir, Josie realmente me aturaria, não que eu fosse uma pessoa difícil de lidar mas tinha vícios e a última vez que nos vimos pessoalmente eu tinha 5 anos, ainda era a princesinha da titia mas agora eu era quebrada, uma pessoa destruída com nada além de sonhos.
Será que me encaixaria nessa nova vida?
Será que me enturmaria?
Será que ficaria fora de encrencas?
Será que ela ainda teria fé em mim, em que eu pudesse me tornar algo bom?
Será que daria orgulho a ela?
Eram tantos "serás" e "porquês" que consumiam minha alma e mente, e esses mesmo motivos me importunavam mantendo-me acordada. Eu pensava tanto que conseguia ouvir as engrenagens do meu cérebro se movendo, podia sentir a ansiedade me consumindo aos poucos e a abstinência consequente aumentava, precisava tanto de uma bêbada ou um cigarro. Minha perna se movimentava frequentemente de cima para baixo.
- Senhoras e senhores, por favor apertem os cintos, nós vamos pousar.
A voz da aeromoça ecoou por todo o avião fazendo com que todos colocassem seus cintos.
Depois de já termos pousado, esperamos a voz com a confirmação que poderíamos nos levantar.
O avião estava quase vazio e eu ainda arrumava minhas coisas, quando peguei tudo comecei a ir para fora do avião, mas antes que eu conseguisse sair alguém esbarrou em mim.
- Ai.- resmunguei massageando meu ombro
- Perdão.- uma voz grossa e rouca disse.
Levantei meu rosto para ver quem era, mas antes que eu pudesse olhar o rosto do homem que esbarrou em mim ele saiu andando apressado, sumindo diante ao interior do aeroporto.
- Idiota.- disse seguindo meu caminho.
Eu estava encostada em uma parede ao lado de fora do aeroporto, esperando minha tia enquanto fumava o cigarro que eu tanto almejava durante o percurso até a Itália. O cigarro acalmava meus nervos e pensamentos compulsivos, eu digo que se eles não se calassem logo ou cessacem pelo menos por alguns minutos horas de preferência, eu enlouqueceria.
Olhando ao redor comecei a reparar nas pessoas que não se pareciam pessoas, elas pareciam máquinas, todas com seus rostos fechados como se não houvessem motivos para felicidade, elas pareciam tão perturbadas quanto eu, o que se passava na vida delas?
O que as deixariam tão amarguradas, ao ponto de andarem com as caras tão amarradas?
Mas uma coisa me chamou a atenção, uma família para ser mais específica. Uma criancinha com os cabelos pretos abraçava um homem tão forte que parecia querer nunca mais soltá-lo. A frente dos dois tinha um outro homem, ele era mais velhos, suas rugas diziam isso, o mesmo usava um paletó preto com uma camisa social branca acompanhada de uma gravata, seus cabelos eram pretos com alguns fios brancos, olhos verdes claros, corpo magro e definido; estaria mentindo se dissesse que esse homem não era incrivelmente atraente. Mas nada se comparava com o menino que estava abraçado com aquela menina; ele era a cópia fiel do homem que agora estava ao seu lado, provavelmente pai e filho, a única diferença entre os dois era a altura, e a cor dos cabelos.
Seus cabelos curtos eram castanhos escuros, olhos puxados verdes, lábios finos e avermelhados, nariz fino, maxilar marcado, um pouco mais forte. Ele usava um paletó all black, sem gravata, com alguns botões da sua camisa social abertos, dando total visão do seu peitoral forte. E Deus sabe o que minha mente perversa foi capaz de imaginar, sem que eu percebesse ele também me estudava cautelosamente, podia sentir uma pontada entre minhas pernas fazendo com que eu as apertasse, traguei meu cigarro mais profundamente enquanto encarava seus olhos penetrantes, ele simplesmente me deu um sorrisinho de canto voltando sua atenção ao mais velho.
Eu os observei por mais um tempo enquanto caminhavam até uma SUV preta, ele deu um aceno antes de entrar no carro, me fazendo bufar uma risada.
Sem que eu percebesse já me encontrava no banco do passageiro no carro da minha tia, ela tinha falado algo que eu não havia prestado a mínima atenção.
- ... eu estava tão ansiosa para sua chegada, pequena Ynna, você não sabe o quanto.
- Estou feliz de estar aqui com a senhora de novo, tia.- lhe ofereci um sorriso sem dentes.
- Então, pequena, quando chegarmos pode ir ao seu quarto descansar chamarei alguém para levar um lanche até você. Amanhã teremos um jantar importante com alguns... sócios que eu gostaria de lhe apresentar, está tudo organizado, spa, salão, roupas e sapatos. Então terá de acordar cedo.- Jogou a bomba no meu colo oferecendo um sorriso acolhedor?
- Hum, claro, tia, não vou te decepcionar.- não podia negar qualquer ideia dela, aliás eu estava aqui pela sua bondade.
O resto do caminho foi silencioso, chegamos na mansão, desci do carro, peguei minha mala e me despedi da tia Josie e fui em direção ao meu quarto.
A mansão continuava igual, sempre em tons pastéis como branco, creme e dourado. Ainda tinha quadros meus espalhados pela casa, tinha boas lembranças da minha infância aqui. Me lembro que passava quase todas as tardes com uma menina, acho que ela era filha de alguma funcionária. Seria bom reencontrá-la novamente.
Cheguei no meu quarto, peguei um pijama e segui até o banheiro, ligando a banheira, planejava um banho bem demorado.
Entrei na banheira sentindo a água morna em contato com a minha pele, relaxando meus músculos tensos e doloridos, fazendo com que qualquer cansaço físico fosse embora deixando apenas o mental.
Fiquei quase uma hora dentro da banheira, fiz o típico banho Premium, com direito a depilação, esfoliação, lavar e hidratar meus cabelos. Eu me sentia renovada, tinha secado meus cabelos com um secador sabendo que não secariam até que eu fosse dormir, meu cabelo estava brilhante, sem frizz com um aspecto vivo.
A comida já havia chego e eu também já tinha comido, não pensei que estivesse com tanta fome.
Já deitada na minha cama peguei meu celular respondendo somente às mensagens da dona Ofélia perguntando se eu havia chego, se estava bem e se fui bem recebida. O resto das mensagens eram irrelevantes, algumas perguntavam se era verdade que eu tinha ido embora, para onde eu tinha ido, que as festas não seriam as mesmas sem mim, a cidade ficaria chata e desanimada. Alguns casinhos meus falando que sentiram saudade de ter uma noite comigo. As únicas mensagens que me pareceram sinceras foram as dos ficantes, porque o resto eram pessoas curiosas procurando algo para fofocar e espalhar por toda a cidade.
O único "amigo" que eu tive era o meu traficante, passávamos várias tardes juntos, apenas curtindo a brisa. Pode parecer deprimente mas em cidade pequena é difícil achar alguém que realmente se importe com você ou sua amizade sem estar atrás de fofocas ou coisas para comentar. Eu não ligava para a amizade deles eu curtia durante uma noite ou festas mas depois se tornavam estranhos para mim, até porque querendo ou não eu estava louca demais para poder lembrar de seus rostos, a única coisa que me faria saudade naquela cidade era Ofélia, a biblioteca, meu traficante e as festas tirando isso lá era uma merda.
Levantei pegando meus remédios na minha necessaire junto com uma garrafa no frigobar e voltei para cama, tomei os mesmos me aconchegando na cama esperando o sono vir.
...

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The Perfect Confusion
RomantizmEla nasceu em uma cidade pequena, enfrentando a dolorosa rejeição de sua mãe. Determinada a encontrar seu próprio caminho, Ayanna Schmidt decidiu deixar o lugar que deveria ser seu lar e buscar um novo começo. Buscou ajuda de sua tia paterna para in...