Capítulo nove

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Louis sentiu o coração palpitar, completamente desgovernado. Teve o nariz invadido pelo cheiro característico de Detlev, um cheiro floral, boêmio e completamente indecente. Tinha o aroma da noite, da cena, da bagunça, de noites não dormidas, de boates com luzes pulsantes. Hesitou um pouco antes de retribuir. Ele não iria fazê-lo, mas parecia estar sendo puxado por um imã, um imã que sugava o seu corpo, sua alma e sua sanidade. Passou os longos, tatuados e musculosos braços pelo corpo desnudo de Detlev. Inspirou mais forte com o nariz enterrado no pescoço do moreno e sentiu os pelos dele eriçarem. Ficaram assim por alguns minutos antes de se afastarem milimetricamente, ficando cara a cara.

Detlev podia sentir o hálito mentolado de Louis e Louis conseguia sentir o cheiro do cigarro de hortelã de Detlev. Eles estavam tão próximos que chegava a ser obsceno. As batidas dos corações de ambos lutavam violentamente contra seus peitos.

Um zumbido tirou os dois do transe, era o celular de Louis. Ele tirou do bolso do seu jeans e olhou de soslaio, dando de cara com o nome de Axel brilhando na tela. Aquilo foi como um balde de água fria: era aquilo que Louis era, um cobrador. Ele estava ali para fazer Detlev pagar, para torturá-lo, para fazê-lo ter medo, nada nem ninguém jamais mudaria isso. Ele simplesmente não podia fazer aquilo. Se afastou bruscamente e pigarreou.

– Foi muito bom nossa sessão de sinceridade, mas acho melhor lembrá-lo de quem eu sou. Não sou seu amigo, Detlev. Não me toque assim novamente. – Ele avisou sombriamente, levantando-se da cama. Detlev o olhou com um olhar confuso e sobrancelhas franzidas. – Não suma de novo. Axel não vai tolerar uma próxima vez.

Ele viu os olhos do moreno escureceram.

– Claro. Obrigada mais uma vez e desculpe pelo abraço. – Falou firmemente. Levantou-se com dificuldade da cama e Louis quase o alcança para ajudá-lo, mas se conteve. Detlev mancou até a porta e parou ao lado dela. Seu olhar outrora acalorado havia se tornado hostil.

– Até o próximo pagamento. – Bradou. Louis caminhou em passos largos sem dizer nada e não parou até estar do lado de fora do prédio, ignorando a fisgada chata que sentiu no peito ao deixar um Detlev machucado e vulnerável para trás.

 Louis caminhou em passos largos sem dizer nada e não parou até estar do lado de fora do prédio, ignorando a fisgada chata que sentiu no peito ao deixar um Detlev machucado e vulnerável para trás

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Uma semana havia se passado desde a última vez que Detlev viu Louis. O corte na barriga estava consideravelmente melhor e o moreno odiava admitir que talvez ele devesse a vida ao homem.

Ele ficou de certo modo abalado com a partida prematura do loiro. Depois de um tempo, acabou se arrependendo de ter confidencializado uma parte importante e privada de sua vida para alguém tão filho da puta e agradeceu ao seu próprio bom senso de não ter falado sobre Leiche. Ele era uma pessoa muito importante para ser citada em uma conversa com alguém que não daria a mínima. Louis tinha feito Detlev recobrar uma parte da sua vida que estava enterrada há muito tempo, e desde a última conversa dos dois, o moreno estava sendo golpeado com lembranças que evitava pensar.

Os dias jogados nas ruas sujas de Berlim, as picadas nos banheiros públicos e as mortes quase diárias de todos os amigos de Detlev assombravam suas noites. Ele ainda se lembrava da última vez que vira Leiche e de como ele estava quebrado física e psicologicamente. Ninguém nunca se importou ou sequer pensou sobre os sentimentos de uma pessoa toxicômana. Todos sempre enxergaram a vida dos viciados como algo banal e vadio, como nos filmes: adolescentes irresponsáveis que se divertiam, se drogavam e adoravam suas vidas vagabundas. A verdade era um iceberg grande e submerso.

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