Detlev dirigiu pelas ruas de Skid Row em uma velocidade muito alta para quem sequer tinha carteira de motorista. Desviou de um ou dois drogados que atravessavam a rua de forma desatenta, fazendo os pneus cantarem. Louis de vez em quando resmungava algo sobre Detlev não estar tomando cuidado com seu carro, o moreno por sua vez apenas sorria e dizia que tudo ficaria bem. Chegaram muito rápido na casa dele.
Detlev praticamente arrastou Louis pelas escadas até chegar em seu apartamento, deixando um rastro horroroso de sangue pelos degraus. Sentia seu coração palpitando contra a carne em completo desespero. Quem ele estava tentando enganar? Ele não cuidou nem de si mesmo em sua vida, e agora estava querendo remendar o que sobrou de alguém? O sentimento de inconsequência que Detlev tinha quando o assunto era Louis o incomodava profundamente. Ele sabia que a relação deles tinha invadido um campo estranho, as coisas tinham se perdido em algum lugar. Louis deveria cobrar ele, bater nele, talvez matá-lo. Detlev constantemente amaldiçoava o loiro pelo fatídico dia que ele o ajudou e tudo se tornou um borrão.
– Louis? – O chamou assim que deitou seu corpo machucado na cama. – Pelo amor de Deus...
– Det... – Ele disse com dificuldade, estava muito mal e perdia muito sangue. Detlev sentiu o coração afundando quando o escutou pronunciar seu apelido. – Eu estou... estou morrendo...
– Não, Lou. – Ele usou o apelido também, tentando transmitir uma paz que não existia. – Eu não vou te deixar morrer, eu vou cuidar de você, eu prometo. Igual você cuidou de mim.
Ele não fazia ideia de como faria isso. Correu pela casa e procurou tudo que poderia ser usado. Despejou tudo na cama ao lado de Louis e observou sua mesa de cirurgia: vodka, fio dental, seringa, colher, limão, dois comprimidos de codeína, agulha e panos limpos. Observou o rosto pálido de Louis e viu que estava praticamente inconsciente. A cama aos poucos se encharcava mais e mais com seu sangue carmesim. Ele respirou fundo e apertou os punhos.
Podia não saber nada sobre medicina, mas sabia tudo sobre se drogar.
– Louis, me desculpe. – Adiantou, tirando um comprimido de codeína da cartela e colocando em cima da estante. – Mas isso é para o seu bem.
Pegou a garrafa de vodka e bateu com força em cima do comprimido, transformando ele em pó. Colocou o conteúdo na colher, pingou algumas gotas de limão e alcançou o isqueiro no bolso, acendendo em baixo do objeto. O líquido aos poucos se tornou uniforme e esverdeado, então pegou a seringa e sugou tudo.
Louis arregalou os olhos – que estavam transparecendo pânico – ao ver a cena e tentou se mexer, relutando. Detlev se aproximou e acariciou seu rosto numa tentativa de acalmá-lo. Ele sabia como era assustador a sensação de estar quase morto e depender de alguém claramente incompetente para viver.
– Shh... – Sussurrou. – Vai ficar tudo bem.
Louis tentou responder algo, mas ele não conseguia mais falar. Detlev se aproximou hesitante e depositou um beijo em sua testa. Eles se encararam profundamente por alguns segundos, quando de repente Louis tossiu uma quantidade preocupante de sangue.
– Merda, merda, merda! Das ist eine beschissene Scheiße! (Isso é uma merda fodida!) – Detlev xingou. Ele estava o perdendo, sabia disso. Era claramente uma hemorragia externa. – Eu não vou conseguir fazer isso sóbrio.
Agarrou a mão esquerda com a direita e começou um movimento de abrir e fechar. As únicas veias boa de Detlev eram as das mãos. As suas veias do braço eram duras como pedras devido a quantidade excessiva de picadas que ele já havia dado. Quando uma em questão saltou, ele enfiou a agulha como um especialista. Despejou todo o líquido em um tiro rápido e pôde sentir o efeito da droga caindo sobre si como um raio. Balançou a cabeça de um lado para o outro como se estivesse ligado em uma tomada. A sensação de potência sobre-humana dominou seu corpo violentamente. Ele era capaz de qualquer coisa e sabia disso. Sem delongas, preparou a segunda dose da droga. Ele só tinha uma seringa, então abriu a garrafa de vodka e a esterilizou de uma forma muito vadia.
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Sex, Drugs, Etc.
RomansaDepois de uma infância e adolescência difícil e violenta, Detlev tem uma dívida centenária e um histórico criminal impossível de ser apagado. Trabalhando dia e noite no Olimpo, ele tenta incessantemente pagar o que deve e se manter limpo da heroína...