Capítulo dezesseis

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– Você descobriu alguma coisa? – Detlev perguntou ao telefone.

– Não. Eu procurei ele por todos os lados, acionei os meus contatos, mas nada. Atze simplesmente sumiu. – Asher respondeu do outro lado da linha. – Mas tem um cara que, pelo que ouvi dizer, veio da Alemanha junto com ele. Parece que dividiram o mesmo quarto na clínica de reabilitação prisional em Berlim. Estou tentando achá-lo.

Ele estava debruçado no balcão da cozinha trajando apenas um short de moletom. Tinha saído para se encontrar com Joe e explicar tudo que aconteceu, também aproveitou para pedir ao amigo que trouxesse algumas compras em seu carro. Depois ligou para Asher, que estava gentilmente o ajudando a descobrir alguma pista sobre Atze.

– Se descobrir alguma coisa não hesite em me ligar. – Pediu.

– Não se preocupe! – O outro tranquilizou. Detlev tragou o cigarro e suspirou fundo.

– Muito obrigada mesmo, Asher. – Disse finalmente.

– Que nada, Det. Eu estou à disposição. – Respondeu antes de encerrar a chamada.

Detlev respirou pesadamente enquanto observava nada em específico. Ele estava tentando descobrir sobre Atze desde a última vez que eles tinham se encontrado. O desgraçado tinha saído e deixado para trás pontas soltas que faziam a espinha de Detlev tremer. Queria ter ao menos uma mísera ideia do que porra Atze estava aprontando para, pela primeira vez, poder se defender.

Atze nunca trazia boas lembranças a Detlev. A verdade é que, sempre que pensava em Atze, ele sentia uma enorme vontade de se picar. Detlev vivia sua vida em uma negação constante do que um dia ele foi. As noites na Bahnhof Zoo, a quantidade de amigos que Detlev perdeu, a sensação de dormir sem saber se viveria mais alguns dias ou se na manhã seguinte seria a sua vez. Tudo aquilo o assustava muito, mas o que de fato o aterrorizava era a saudade que ele sentia daquela época – ou, pelo menos, do início dela.

Não existe depressão para um recém drogado. O mundo se resume numa mistura de cores e sensações que pintam a realidade e a transformam em algo totalmente novo e condescendente. Ele não se importava com a escola, com os problemas, com a orfandade. Tudo em sua vida se resumia em se encaixar com seus amigos da turma e conseguir alguns marcos para cinco ou seis picadas diárias. Se Detlev ainda estivesse nesse submundo, ele provavelmente teria muito menos problemas do que tinha naquele momento.

Na realidade, Detlev estava com vontade de se picar 24h por dia. Ele apenas ignorava os sinais, as tremedeiras, a coceira que ele sentia por dentro do corpo, o suor frio, a dor de cabeça constante, a indisposição e a fadiga. Mas em momentos como esse, onde ele estava nervoso, era impossível ignorar, ainda mais somando ao fato que ele teve contato com drogas na noite passada, mesmo que codeína para ele não passasse de um nada. Ele estava louco por uma picada, sentia seu corpo latejar de desejo. Ele não iria durar muito tempo desse jeito, sabia que a abstinência só ia ladeira abaixo.

Scheiße! Ich hätte gestern nichts verwenden sollen. (Que merda! Eu não devia ter usado nada ontem.) – Amaldiçoou, sentindo seu corpo começar a suar.

Olhou para trás e encarou a porta entreaberta do seu quarto. Podia ouvir os cochichos de Amanda e Louis, e ficou tentado a se aproximar para bisbilhotar, mas se conteve. A verdade era que o maior problema que Detlev tinha se encontrava deitado na sua cama. Quando Louis apagou na noite passada, Detlev finalmente se perdeu nele. A onda da codeína ajudava, mas não tinha nada ali que já não existisse antes. Observou suas tatuagens negras que pintavam sua pele alva e, pela primeira vez, percebeu que o loiro tinha uma tatuagem curiosa abaixo do pescoço. Eram duas cobras que pareciam se enroscar nos ossos da clavícula e se encontrarem no estemo. Sua mão coçou tanto para tocar que ele se levantou e saiu do quarto. Acabou por fim dormindo no sofá, e ainda estava sentindo o preço que sua coluna pagou por isso.

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