O almoço

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Em seus pensamentos com o corpo de cristo na sua boca, Rosa estava querendo matar-se, ela estaria cometendo o maior dos pecados: receber a hóstia com a alma impura naquele momento. Mas ela pensou que esse momento sagrado de intimidade com Deus a pudesse confortar de seus pensamentos intrusivos.

A missa acabou, e lentamente, algumas pessoas foram voltando para as suas casas. O padre Davi observava a moça que ao perceber o seu olhar sobre ela, sorriu.

O jovem padre desviou o seu olhar e olhou para a imagem de Cristo pendurada no altar, e pediu perdão em silêncio. Depois ajudou o coroinha a arrumar o altar.

Uma parte das pessoas que ficaram vieram cumprimentar o padre Davi, te elogiaram pela missa e perguntou se ele daria continuidade a todos os trabalhos que seu antecessor desempenhava e que havia deixado incompletos. Ele, claro, afirmou que tudo continuaria como antes e que daria continuidade a todos os trabalhos em andamento, de modos a tornar a perda do seu antecessor o menos dolorosa possí­vel. Todos pareciam satisfeitos com o novo padre.

O jovem padre foi convidado pelos pais de Rosa para almoçar em sua casa, e assim ele ficou sabendo como era o nome da mulher que mexeu com seus pensamentos mais íntimos. Padre Davi compareceu já começando a se interessar pelas vidas das pessoas da pequena comunidade. Pareciam todos gente muito boa e de muita fé. Ele estava feliz por estar ali.

Durante o almoço, a dona da casa perguntou se ele poderia continuar dando a assistência que o antigo padre vinha dando à sua filha, preparando-a para o casamento. Ele disse que sim, que faria tudo o que fosse possí­vel para ajudar e que só precisava saber sobre o que eles estavam tratando, para dar uma continuidade, dentro do que fosse possí­vel. Perguntou onde eles costumavam se reunir para tratar deste assunto e foi informado que sempre era na sacristia da igreja, um local sagrado e livre dos pecados do mundo. Concordou e pediu para Rosa estar lá ainda naquela tarde.

Terminado o almoço, o jovem padre ficou mais uma hora conversando com a famí­lia, agradeceu e voltou para sua casa, que ficava anexa à igreja e tinha um acesso direto à sacristia. Davi foi se deitar-se. Dentro do quarto sem o peso da batina, ele pegou a bíblia e rezou alguns pais nossos, e umas dezenas de credos. Pediu mais uma vez perdão à Deus, e deitou-se na cama para tirar um cochilo.

E no meio da tardes lá estava o jovem padre esperando a moça, que logo apareceu.

Ela chegou muito respeitosa, beijou a sua mão e ele te ofereceu assento numa cadeira. Ficaram sentados um de frente pro outro, ela sempre de cabeça baixa e parecendo um pouco tí­mida...

— Bem, Rosa, me fale um pouco sobre o que você estava tratando com meu antecessor, para tentarmos dar continuidade. Espero poder ajudar.

— O padre André me falou das responsabilidades de uma esposa para com a casa, os filhos e o marido.

Então eles conversaram sobre afazeres domésticos, cuidado com os filhos, e o padre Davi deu algumas dicas de como a jovem Rosa poderia ser uma boa esposa, pois a mesma estava prometida ao filho do prefeito, um jovem um pouco mais velho que Rosa, um casamento arranjado pelos pais da moça. Durante toda a conversa os dois não esconderam o desconforto, e quando finalmente Rosa saiu, o padre Davi respirou aliviado.

Rosa chegou em casa, e foi ajudar a sua mãe e a sua irmã mais nova preparar o jantar, enquanto o seu pai sentado numa poltrona, preparava o seu cigarro com tabaco, e ascendeu, esperando a mulher ou as filhas o chamar. Rosa, na beira do fogão, lembrava do padre Davi, e sentiu outra vez um calor dentro dela. O olhar do padre não saía da sua cabeça.

O pecado do padreOnde histórias criam vida. Descubra agora