Dois corações apaixonados

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A manhã estava nublada, com nuvens cinzentas no céu, não havia nenhum raio de sol. Um pequeno frio ensaiava uma tempestade matinal, mas para a surpresa de todos não caiu nenhuma gota. De tarde a expectativa era a mesma, e nada aconteceu. No entanto o céu estava mais cinzento, e uma friagem como nunca havia feito na cidadezinha, fez com que os moradores colocassem um pouco mais de roupa. Os homens voltaram cedo da lavoura, as mulheres ficaram recolhidas dentro de casa, algumas crianças tentaram estudar, mas o padre achou melhor que eles retornassem a suas casas para não pegarem um resfriado.

Havia um certo cansaço na fisionomia do padre, pequenas olheiras denunciavam um noite mal dormida, e seu pensamento vagava em outro plano procurando uma resposta para sua inquietude. Até o inicio da missa, não fez outra coisa, senão pensar confinado dentro da igreja.

Rosa ficara em casa guardando-se do frio, e também passou a tarde toda pensando. Ela refletiu, conversou com Deus a sua maneira, e pedia um sinal de ajuda. Queria apenas um sinal para tomar a atitude que o todo poderoso achasse certa. Seu coração teimava, mas ela pensou, não parou de pensar. Chegou a pensar que a chuva seria um castigo, que poderia haver uma forte tempestade, devastando todo o local, principalmente sua casa. Algumas senhoras famosas por conhecerem o tempo na região afirmavam que a chuva iria ocorrer apenas no outro dia, apesar de nunca ter visto nada igual em mais de um século.

No domingo seguinte Rosa não teve como não ir a missa.

O altar já estava pronto, e padre Davi já estava esperando a igreja encher. As pessoas chegaram em um mutirão só. Todos se acomodaram, e ao ver Rosa, sentiu um frio percorrer sua espinha. Ela sentiu um calafrio, e se aproximou segurando uma bíblia de braços dados com a mãe, e foram sentar juntos com os vizinhos da casa em frente à dela bem na primeira fileira, para desespero dos dois corações apaixonados.

A missa iniciou-se, o olhar de ambos denunciavam uma agonia, incertezas. Tentaram se evitar durante toda a missa. Ela olhava para baixo, ele olhava para os bancos de trás da igreja. Mas algumas vezes os olhares se cruzaram. O silêncio existia apenas para os dois, as palavras que o padre Davi falava não tinham sentidos, ela não ouvia nada do que ele dizia, estava compecetrada em seus pensamentos.

O padre Davi sentou-se, e anunciou a hora de comungar. Uma pequena fila foi se formando. Esperava que Rosa fosse receber o corpo de cristo mais uma vez, mas ela não podia, e nem se achava digna de recebê-lo. Como o padre queria ouvir uma palavra sequer daquela boca sem pintura alguma, mas a sua amada permaneceu sentada ao lado dos pais, e assim foi até o fim da missa.

[...]

Nas missas que se seguiram, o padre Davi mal via a hora de que tudo se acabasse e Rosa fosse embora dali. Trancava a Igreja imediatamente após a saída do último fiel e se recolhia à sacristia para confessar seus pecados. Aquela moça te perturbava de tal forma que as orações eram entrecortadas com cenas infernais e que te afundavam cada vez mais em pecado. Sempre que ele se lembrava de Rosa sentada diante dele implorava a Deus para que o livrasse daquele demônio e chorava amargamente por sentir desejos proibidos aos olhos do Senhor.

Algumas semanas passou e enfim chegou o dia de casar Renata e Henrique, padre Davi fez toda a celebração e final de tudo foi convidado a comparecer na festa de casamento, mas o padre recusou. Os poucos convidados foram deixando a igreja, mas ele notou que Rosa continuava ali, a moça estava ajoelhada entre os bancos fazendo uma oração.

O pecado do padreOnde histórias criam vida. Descubra agora