Enquanto isso na pequena paróquia que tinha ali no hospital, de joelhos em frente ao sacrário, padre Davi rezava, quando ouviu uma gritaria, mais que de pressa ele foi ver o que estava acontecendo, quando deu de cara com Rosa e dona Regina, Davi se escondeu para não ser visto, depois buscou saber o que estava acontecendo, mas ninguém lhe dizia nada concreto. Então ele foi falar com a freira mais velha.
— Eu vi uma jovem mais cedo sendo levada lá pra cima, tá tudo bem com ela?
— Ela está bem, não se preocupe padre Davi.
— Eu só estou comentando caso, precise de ajuda... talvez a jovem queira a presença de um padre nesse momento.
— Eu agradeço a hospitalidade, padre Davi, mas sua presença não será necessária.
— Eu poderia levar uma palavra amiga para ela, fazer umas orações.
— O senhor é muito bom, padre.
— Estou aqui para cumprir a vontade do senhor.
— Eu sei, é que... A ala onde a jovem está só é permitida a presença de mulheres, o senhor me entende, padre?
— Sim, entendo.
Enquanto conversava com a freira, Davi fitava as chaves que davam acesso aos quartos penduradas na parede atrás dela.
Rosa foi cedada por três dias e teve o seu parto sem nem perceber, e quando acordou seu bebê já havia sido levado. Ela chorou tanto, que não se sabe como não desidratou. A jovem se sentia outra pessoa, se sentia oca, uma casca vazia. Ela tinha tido um filho, e não pode pegá-lo e nem vê-lo.
Naquela mesma noite do pesadelo vivido por Rosa, Davi decidiu invadir o seu quarto no meio da noite. Ele estava angustiado sem saber o que estava acontecendo com Rosa. Então por um descuido da freira superior ele roubou as suas chaves. Padre Davi sabia que era perigoso ir no meio da noite até o quarto de Rosa, mas ele estava disposto a saber dela de qualquer jeito.
Ele destrancou o quarto e viu a jovem deitada na velha cama de solteiro. Rosa olhou para o padre com os olhos vermelhos de chorar, seu semblante era triste, e nem se reencontrar de novo com Davi a trouxe felicidade. Ela nem conseguiu chorar, era como se não tivesse mais sentimento.
— Rosa, o que está acontecendo?
— Eles levaram o nosso filho.
Nesse momento, Davi já estava em prantos, as lágrimas amargas caindo descontroladamente pelo rosto, enquanto ele andava de um lado para o outro, nervoso. Davi pedia orientação de Deus para lhe dar coragem, pois ele já tinha escolhido um caminho certo, mas mesmo assim ainda haviam, em seu coração dúvidas. Não, dúvidas de que amava Rosa e seu filho. Mas dúvidas de que seria perdoado por Deus.
— Vamos embora daqui juntos?
— Some daqui, Davi. Você fez eu comer o pão que o diabo amassou, e agora volta achando que eu vou te querer?
— Eu te amo, Rosa. Quero cuidar de você e de nosso bebê. Me aceite de volta, por favor? — Ele segurou a mão dela.
— Levaram o nosso filho, nada mais importa.
— Ainda não.
— Não?
— Ele ainda está aqui, vamos pegá-lo?
— Sim, vamos! — Ela o abraçou.
Na calada da noite padre Davi conduzia sua amada pelos corredores, do hospital. Eles entraram no berçário e lá viram um único bebê. Se aproximaram chorando, um choro de felicidade. O bebê estava sereno, com a respiração lenta e instável, a sua pele tinha uma cor vermelha escura e suas mãos e os pés azulados. Rosa pegou seu amado filho no colo e beijou seu rostinho. Uma das freiras que estava ali estranhou o comportamento e tentou impedi-los, mas Davi contou-lhe que eles eram os pais do bebê.
Mesmo assim ela fez questão de avisar a freira superior e a mãe de Rosa sobre o que estava acontecendo.
Eles enrolaram o bebê num cobertor e foram rumo a saída, quando surgiu dona Regina com o revólver do seu marido.
— Então foi o senhor que desonrou a minha filha. Eu não vou deixar você sair daqui com ela. — Dona Regina disse, com a mão tremendo.
Rosa entrou na frente de Davi e disse:
— Eu o amo, mãe. Por favor, mãe, pare. — Pediu a jovem.
— Eu peço perdão senhora Regina, perdão? Eu amo a sua filha. Não me mate, porque quero viver esse amor. — Pediu o padre.
Dona Regina pensou... E abaixou o revólver. Rosa e Davi passaram por ela feito raio.
Lá fora, estava estacionada a velha rural de cor azul e branco.
— Onde vamos? — Perguntou ela, quando ele abriu a porta da rural.
— Não sei. Só quero ter vocês ao meu lado.
Davi acelerou a rarul na estrada de terra com o coração transbordando de amor.
Não importava para onde iam. Estavam juntos finalmente.
FIM
Não deixe de acompanhar o meu trabalho nas redes sociais @autora_marise
VOCÊ ESTÁ LENDO
O pecado do padre
RomanceDavi, nasceu e foi criado em uma familia religiosa, durante toda a sua infância ele vivia na igreja, estudava religião e foi ensinado que Deus estava acima de todos nós. Davi nunca em nenhum momento chegou a se arrepender ou questionar a sua vocação...