Prestativa

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A pedido da sua mãa, a jovem foi sozinha para a igreja, antes de entrar fez o sinal da cruz na porta. Havia duas senhoras rezando, e ela se aproximou.

— Você deve ser a jovem, Rosa? — Disse padre Ricardo, surgindo de uma porta atrás do altar.

Rosa sorriu quando o viu e concordou com a cabeça.

— Minha mãe disse para vir até aqui.

— Ela me disse que tu viria para me ajudar com a quermesse. Me acompanhe, vamos conversar a sós. — Padre Ricardo virou-se, esperando que ela fosse segui-lo.

Rosa o seguiu até uma sala reservada, com dois sofás simples, uma mesinha, e uma cruz pregada na parede.

— Bem, logo que cheguei fiquei sabendo que os outros padres sempre organizavam a quermesses todo ano, mas como na minha antiga paróquia não tinha nada disso, vou precisar de ajuda, pois como deve imaginar eu não tenho nenhuma habilidade para isso. — Ele explicou, de frente para ela, sentado em um dos sofás.

Rosa sorriu, e colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha.

— Eu posso fazer isso. — Declarou ela, decidida. Ele concordou.

— Fiquei feliz por saber que tu és uma jovem prestativa. Sei que você ajudava bastante o antigo padre, com as questões da igreja, Davi era seu nome, sim?

Rosa estava de cabeça baixa, e o padre Ricardo a olhava para com apreciação.

— Isso mesmo, ele se chamava, Davi.

Pronunciar o nome de Davi, fez Rosa fechar os olhos, e pensar nos momentos que teve ali com ele, ela pensou nos lábios dele sobre os seus. Lambeu os lábios, como se pudesse senti-los tocando os dele.

Ela ergueu os olhos para padre Ricardo e um sorriso sutil apareceu nos seus lábios.

— Aceita um café? — Mostrou com as mãos para o lugar.

— Aceito sim.

O padre Ricardo se levantou, olhou no relógio e saiu.

Quanto a Rosa ficar sozinha, foi tempo suficiente para ela precisar usar uma folha de papel que estava sobre a mesa para abanar-se, tamanho calor fazia ali dentro. A janela era estreita e por ali não passava muito vento.

Padre Ricardo voltou, e lhe entregou uma xícara de café.

— Está bem quente, tome cuidado.

Rosa levou a Xícara até os lábios se lembrando do episódio do café que derramou sobre si, na noite em que foi possuída mais uma vez por padre Davi. Parecia que tudo ali trazia lembrança dele.

O primeiro gole, Rosa saboreou o sabor do café, no segundo o seu paladar foi mudando e ela decidiu parar por ali, mas já era tarde, em frações de segundos ela sentiu um forte enjoo, e pôs a mão sobre a boca.

— Tá tudo bem minha, filha? — O padre perguntou preocupado.

— Sim, eu estou bem. Começamos amanhã, certo?

— Sim.

Padre Ricardo se levantou, e ela também, ficando de frente para ele.

— Obrigado por vir, Rosa.

Sem dizer mais nada, Rosa saiu, deixando-o sozinho. E do lado de fora ela esbarrou em um homem.

— Opa! Você ta bem? — Uma voz veio do lado, e ela olhou para o rapaz bonito que sorria para ela.

— Estou. Perdão por ter esbarrado em você.

— Sem problemas. Não lembra de mim, Rosa? — Ele estendeu a mão para a jovem.

Ela o olhou de cima a baixo tentando reconhecê-lo.

— Fernando Teixeira? — A jovem disse, colocando finalmente a mão sobre a dele.

— Achei que não fosse me reconhecer. — O rapaz colocou as mãos nos bolsos enquanto a encarava.

Eles estudaram juntos desde muito jovens, cresceram juntos, e Fernando havia tido um tipo de paixão por ela durante o fundamental.

— Não sabia que tinha voltado. Lembro que depois que nos formamos você foi para a capital. — Disse Rosa, ele riu.

— Estou só de passagem, vim visitar os meus velhos.

— Legal. Eu já vou indo, Ricardo...

— Será que, a gente pode sair mais tarde pra conversar?

— É que eu...

— Desculpa, você é casada?

— Não. Eu só não posso.

— Tudo bem então!

— Até logo, Fernando.

— Até logo, Rosa.

Quando chegou em casa, Rosa notou que não havia ninguém na casa, a jovem se sentou no velho sofá da sala, e fechou os olhos, com a mão sobre o peito.

O pecado do padreOnde histórias criam vida. Descubra agora