A espada na árvore

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Escondi a espada em uma clareira afastada do vilarejo e toda a tarde, depois de cumprir com minhas obrigações, eu ia até aquela árvore, subia em seus galhos e pegava a espada cega guardada em seu tronco.

Nos primeiros dias mal conseguia levantá-la, não lembrava dela ter esse peso. Brandi a arma por dias a fio, me acostumei com a carga e em algo em torno de um mês aprendi a desferir golpes desengonçados contra a árvore. O tronco até então intocado era pintado como uma aquarela pelos meus ataques, dia após dia.

Durante meses minha vida se baseou em cuidar do arado, regar as plantas e somente então ir para longe do vilarejo treinar com minha espada cega. Não levou muito para meu pai notar minhas saídas constantes e então, em um fatídico dia, me seguir. Nunca fui muito bom em esconder minha presença, mas nunca pensei que isso fosse necessário, então apenas segui saltitando de felicidade até a árvore, subi em seus galhos e peguei a espada.

No meio de meus movimentos desengonçados, meu pai surgiu com o seu olhar de desaprovação, mas o que saiu de sua boca não foi nada do que eu esperava. Ainda lembro claramente de suas palavras quando deixei a espada cair com o susto.

— Você manobra a espada como quem brinca com um ancinho, não tem técnica nem força para manter o peso da arma em equilíbrio — ele virou-se voltando para casa. — Amanhã começarei a te ensinar.

Fiquei parado, sem reação. Meu pai me olhou de canto, suspirando lentamente. — O que está esperando vamos para casa, e traga sua espada.

Caminhos de Atade: A odisseia do guerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora