A espada e o mentor

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Depois daquele dia na clareira a relação entre eu e meu pai ficou estranha, me mantive em silêncio durante o fim do dia e até mesmo na manhã seguinte quando acordei para cuidar do arado.

Depois do almoço, quando coloquei o chapéu de palha para cuidar dos animais, meu pai apareceu vestindo uma roupa de couro e empunhando uma espada curta.

— Onde está sua espada? — Ele olhou para mim.

Corri até meu quarto, pegando a espada de baixo de minha cama e sacando-a. Observei o fio cego e meu reflexo no aço, um sorriso bobo se formava em meu rosto deixando a falha em meu dente evidente. Embainhei minha espada, voltando para o encontro de meu pai. Os dias que se sucederam a um treinamento exaustivo me deixavam extremamente feliz. Aprendi tudo que meu pai sabia, desde como manobrar uma espada até os cuidados básicos.

Enquanto meu pai afia a lâmina cega de minha espada, o observei com dúvida.

— Pai...

— Diga.

— Como você sabe de tudo isso?

Ele afiava a espada com passadas longas e lentas. A espera me deixava ansioso, mas prestava atenção a cada movimento.

— Já fui jovem um dia e fiz coisas das quais me orgulho e me arrependo — ele mergulhou a lâmina em água, voltando a afiá-la. — Me lembro como se fosse ontem quando fui expulso de casa porque queria algo a mais, sempre soube que o que meu pai queria para mim não condizia com o meu futuro.

Ele olhou para o fio da lâmina, vendo seu reflexo, assim como fiz quando peguei a espada no rio. Meu pai colocou a espada de volta na bainha, colocando-a em meus braços.

— Você lembra a mim filho, mas saiba que o caminho que quer seguir é tortuoso, e que vão existir momentos em que toda a sua coragem será posta a prova — ele tocou em meu ombro, olhando no fundo dos meus olhos. — O mundo é um lugar mágico, mas também é um lugar horrível, queria te proteger de tudo isso.

Ele sorriu balançando a cabeça e batendo levemente em meu ombro. Consegui ver ternura em seus olhos castanhos e naquele momento, senti meu peito se aquecer. Toda e qualquer dúvida sobre o meu futuro se esvaiu, assim como aquela tarde tranquila de verão. 

Caminhos de Atade: A odisseia do guerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora