Caminho alternativo

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Enquanto andava pela trilha consegui notar ao longe a fumaça de uma fogueira, me esgueirando ao máximo consegui observar ao longe um acampamento de cultistas. Eles vestiam roupas pretas e usavam máscaras de horror, alguns deles comiam algo que não conseguia discernir, apenas levantando a máscara deixando a boca à vista. A fogueira estava cercada pelo que pareciam ser oito ou sete cultistas e outros talvez estivessem em ronda.

Seguir pela trilha seria perigoso, derrotar alguns bandidos não era um desafio tão grande, já que esses grupos não possuem uma coordenação muito boa, mas cultistas. Eles são assassinos a sangue frio que servem a reencarnação do deus dos mortos, reunidos com o único objetivo de espalhar o caos por onde pisam. Decidi me afastar do caminho e tentar um atalho pela floresta, tenho evitado isso desde o começo já que existe uma grande possibilidade de perda, já que seres mágicos e criaturas habitam as árvores. Em um suspiro prolongado, segui floresta a dentro.

Marquei minha posição com alguns riscos pelas árvores, para que conseguisse encontrar o caminho de volta se necessário. O meu plano envolvia realizar uma volta pela esquerda do acampamento, pela outra extremidade da trilha. Já que não possuía um mapa, qualquer ponto de referência era válido, marquei algumas pedras pelo caminho e um pequeno riacho em uma clareira, ao qual peguei um pouco de água para ferver mais tarde. Os animais matinais seguiam com suas vidas, ignorando ou não a minha presença, resolvi fazer uma breve pausa para recuperar meu fôlego, andar pela floresta é um desafio ainda mais com uma armadura pesada e equipamentos excedentes em minha mochila. Ainda conseguia lembrar vagamente o caminho que fiz, estou à procura de algum rio corrente ou nascente que me leve até a próxima cidade já que onde há água, há pessoas.

Depois de minha pausa, continuei o caminho por algumas horas, o cansaço era palpável e meus pensamentos intrusivos tomaram conta de minha cabeça, antes do cair da noite consegui encontrar um rio corrente, comemorei mentalmente e montei acampamento. Com medo dos cultistas ainda estarem por perto, resolvi não acender uma fogueira essa noite.

Os mosquitos infernizavam minha vida, nem mesmo consegui me focar em afiar minha espada, troquei a água novamente e enquanto a noite se arrastava conseguia ouvir os sons dos animais noturnos. O vento soprava as folhas das árvores de forma melódica e os feixes da luz, refletidos pela lua, trespassavam a folhagem. Meus olhos despencavam pelo cansaço, mas o medo me fazia acordar, faltava pouco tempo para a próxima cidade, só precisava aguentar um pouco mais. Tentei manter a postura afastando os pensamentos intrusivos com memórias de meu treinamento com meu pai, o meu árduo trabalho gerou frutos, assim como a farta safra daquele ano, entretanto não existe nada ruim que não possa ficar pior.

O ruído noturno foi rasgado por um berro sibilante das profundezas da floresta. Meus olhos se arregalaram em resposta e saquei minha espada imediatamente, pensando em qual criatura seria capaz de emitir esse som gutural. Acendi uma tocha buscando ao redor a fonte do som, mas não encontrei nada além de alguns vermes. Peguei minha mochila e segui o caminho com cautela, olhando de canto a canto enquanto descia o rio.

Um caçador experiente saberia a resposta, mas não preciso ser um caçador experiente para saber que me afastei demais da segurança da trilha. Enquanto descia por algumas pedras consegui enxergar olhos amarelados que me observavam dentre a escuridão, a criatura me espreitava e com movimentos lentos tentei me afastar. Talvez ele não tivesse me visto, talvez o seu alvo fosse outro, porém sabia que não.

Os olhos amarelos me enxergavam como nada menos do que alimento, como um caçador rondando sua presa. Os olhos desapareceram e o silêncio tornou-se presente.

Uma árvore à minha direita pendeu em minha direção, me joguei para trás buscando abrigo deixando a tocha cair. A criatura se mostrou lentamente, sendo iluminada pelo brilho fraco da tocha que se extinguiria em pouco tempo. Uma monstruosidade com pelugem marrom enegrecida e uma grande cara de coruja em um enorme corpo de urso. 

Não tinha como fugir e eu sabia disso, mal tive tempo de me preparar antes de receber um avanço brutal da criatura. Suas garras rasgam o meu peito me desnorteando no processo, olho para cima a tempo de ver seu bico afiado vindo em direção a minha cabeça, me esquivo antes do último segundo evitando a morte certa.

Vejo o brilho da tocha se extinguindo e aqueles olhos amarelos me cercarem. Cuspo sangue, empunhando minha espada com as duas mãos e avançando em direção a pata direita da criatura, acertando e perfurando a pele dura com força. Com a espada presa em sua pata a aprofundei movendo-a e rasgando a pele do urso coruja o derrubando no processo. A criatura urrou, tomei fôlego me preparando para seus ataques. 

Aparei suas garras pesadas que me arrastaram com facilidade, porém mesmo caída e avariada a criatura ainda teve forças para rasgar minha pele com seu bico. Pressionei meus olhos me empurrando para longe com a força que ainda tinha, o sangramento fazia minha vista nublar a tontura me fez titubear. O urso coruja tentou se erguer, mas antes que conseguisse, me apoiei em minha espada e avancei com voracidade, me agarrando no único fio de esperança que encontrei. Com o balanço da corrida cortei a pata traseira da aberração, que respondeu com um urro virando-se para me atacar, agachei desajeitadamente mas o suficiente para que o ataque passasse, contra-ataquei lateralmente, cortando a pele e ficando de frente aos olhos amarelos da criatura, que não demonstraram medo ou hesitação. Aproveitando do descuido, manobrei a espada e ataquei com uma estocada no crânio do animal, que em resistência se ergueu, me levantando enquanto segurava a espada. O balanço me jogou para longe, fazendo com que colidisse contra uma árvore, e antes que minha consciência esvaísse, consegui ver a criatura ceder para o lado sem vida.

Caminhos de Atade: A odisseia do guerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora