Trabalho informal

18 4 19
                                    

Acordei na manhã seguinte sentindo um cheiro intragável em todo o meu quarto. Imediatamente fui até a janela e a abri, afastando aquele odor. Seria algo morto em minhas coisas, talvez as rações tivessem apodrecido. Fui até a mochila investigar, tinha um cheiro ruim, mas não ao nível do que senti a um tempo atrás. Ignorei a situação, vestindo minhas roupas e armadura, descendo até o salão principal da taverna.

— De manhã cedo já de armadura? — O taberneiro me olhava quando descia as escadas.

— É mais fácil carregar assim — me sentei à frente do balcão.

— O que manda?

— Tava pensando em um café da manhã.

Ele assentiu, virando-se para a cozinha. Enquanto olhava o manejo do taberneiro com a faca, pensei no cheiro dessa manhã, ia comentar sobre mas afastei o pensamento. Em alguns minutos o taberneiro veio com um prato com pães e carne, meu estômago respondeu mais rápido do que minha boca, grunhindo desconfortavelmente.

— Algum plano para hoje? — O taberneiro deixou o prato em minha frente.

Mordi o pão. — Talvez procurar algum trabalho ou missão — mastiguei. — Tem alguma guilda por perto?

— Guildas não são muito comuns aqui em Tur-Tur, se você quer um trabalho deve falar com a guarda.

— Guardas? — Engoli. — Não vi guardas por aqui ontem.

— Eles geralmente ficam mais pelo porto, controlando a entrada e saída de mercadoria.

— Pensei que fosse porto livre.

— E era, mas a Frota tem mudado as coisas recentemente.

— A frota?

Ele suspirou. — Coma garoto, você vai ter um longo dia.

O taberneiro voltou para suas atividades, me deixando com perguntas sem respostas. Sai da taverna antes que o movimento começasse a se intensificar, segui os conselhos do taberneiro e fui atrás da guarda. Pelo percurso vi algumas mercadorias diversas, potes estranhos, livros de cunho duvidoso e algumas ferramentas. Venho pensando a alguns dias se deveria ou não comprar um escudo. Desde quando comecei a me aventurar me vi em várias situações onde uma defesa adicional poderia me livrar de uma cicatriz ou outra, talvez ontem contra aquela abominação, um escudo poderia mudar o rumo do combate. Ainda tenho algumas economias, e um escudo não deve ser tão caro.

— O que tá olhando? — Uma senhora me olhava com desprezo. — Sai da frente.

Ergui uma sobrancelha.

— Vai ficar fazendo cara de taxo? Mandei sair!

A velha alterava sua voz, atraindo a atenção de outras pessoas. Talvez se eu tivesse um escudo, poderia jogar ele na cara dela e sair correndo. Abri um sorriso, esbarrando com ela e seguindo em frente. Encontrei um ferreiro que possuía alguns escudos em exposição, consegui comprar um escudo redondo de madeira por dez peças de ouro. Com minha mais nova aquisição, voltei ao meu objetivo principal. 

A guarda tinha um posto de comando que ficava próximo ao porto, consegui uma missão simples de escolta, que me renderia algumas peças de prata. Para minha surpresa, meu contratante não passava de uma criança, não me surpreendi ao descobrir que a recompensa também erauma mentira de mal gosto. Após ensinar uma lição para o garoto, continuei realizando algumas tarefas simples durante o dia. Entrega, coleta, remoção de ervas daninhas e ao final da tarde, consegui juntar quase duas peças de ouro. O trabalho árduo não me incomodava, já que estava acostumado com o arado e o cuidado dos animais. Voltei para a taverna, jantei e fui para o quarto. Retirei minha armadura e roupa, afinando a espada como de costume, a luz de uma vela iluminava levemente o quarto, que por um acaso era o mesmo que passei a noite anterior. Lembrei de meu dia corrido e o cansaço tomava conta de meu corpo. Deitei, dormindo em questão de segundos.

Caminhos de Atade: A odisseia do guerreiroOnde histórias criam vida. Descubra agora