Recomeço

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Acordei atordoado, meu corpo não parecia funcionar normalmente. Meus olhos se adaptaram à escuridão, e com certo esforço consegui me virar para o único foco de luz naquele lugar úmido e fedorento. Um grupo de pessoas estranhas se reuniam ao redor de uma fogueira, uma anã encheu um copo com uma bebida e passou para um homem ao lado. Eles conversavam sobre alguma coisa, mas suas falas eram emboladas e desconexas.

Minha mente estava sendo bombardeada por perguntas, mas só conseguia me lembrar de uma lâmina atravessando meu peito antes de perder a consciência. Tentei me levantar, sem sucesso, ainda sentia muita dor, olhei para baixo e percebi que meu peito estava coberto por bandagens. Não consegui ser a pessoa mais furtiva nessa situação e eu sabia disso.

— Veja só — Uma mulher surgiu das sombras, ela tinha pele pálida e cabelo loiro liso, duas mechas escapavam do coque e ficavam em seu rosto. — Erevan, a princesinha acordou.

Não consegui esconder a repulsa em meu rosto. Agora com o grupo alerta não conseguiria fugir com facilidade, e essa ferida não me deixaria agir tranquilamente, mas eu não podia ficar parado, tinha que pegar a minha espada, mas onde está minha espada?

— Está se sentindo bem? — Erevan se aproximou, ele era idêntico à mulher, pele pálida e cabelo loiro liso. Ambos eram elfos.

Limitei-me a afirmar com a cabeça.

— Ótimo, — Erevan tocou em meu peito, fiz menção a me afastar entretanto a dor me manteve parado — lembra onde está e seu nome?

Fiquei quieto. Erevan suspirou.

— Não precisa ter medo, salvamos sua vida, o mínimo que poderia fazer é responder às perguntas.

— Não pedi para ser salvo...

— Então ele fala — a mulher de pele pálida encostou-se na parede — e por algum motivo não gostei nenhum pouco da sua voz displicente.

Quando menos notei a anã que estava perto a fogueira se aproximou, estava cercado.

— Olha — o semblante de Erevan era calmo. — Eu sei que você não pediu para ser salvo, mas nós te salvamos e tudo que quero saber é se tá tudo bem com você agora, entendeu?

Alguma coisa nesse elfo lembrava a minha mãe.

— Gilbert...

— O que?

— Meu nome é Gilbert, Gilbert Aragorn.

— Prazer Gilbert, eu sou Erevan Liadon e essa é minha irmã gêmea Shava, — a elfa respondeu com um menear — essa aqui...

— Eu sou Barbena Runehammer prazer! — Ela me cumprimentou com um forte aperto de mãos. — Você por um acaso seria filho do velho Hector?

— Co-como você sabe o nome do meu pai?

Os olhos da anã tomaram cor, ela abriu um largo sorriso e ergueu o copo com bebida estranha para o alto.

— Oh ho então aquele velho carrancudo teve um filho? Humanos são mesmo como areia na praia. Venha, vamos beber!

Barbena me puxou, fazendo com que meu corpo todo respondesse à dor. Erevan tomou a frente da situação e não me lembro ao certo o que aconteceu depois, mas quando me dei por consciente ele estava ao meu lado, segurando minha mão e falando algumas palavras.

— Que a benção de Bahamut cure suas feridas e aqueça a sua alma — as palavras de Erevan soavam como um bálsamo em meu corpo, uma noite calorosa ao redor de uma fogueira, com amigos e boa comida.

Ele pôs com cautela a minha mão sobre o saco de dormir.

— Obrigado — disse fraco, surpreendendo o elfo.

— Não foi nada... Como tá se sentindo?

— Ainda dói um pouco, mas vou ficar bem.

— Que bom, fico feliz — ele sorri. — Então, pode me dizer o que faz aqui em baixo? Se lembrar é claro, e se não for nenhum grande segredo também.

Ao fundo os demais bebiam e comiam distraidamente. Barbena conversava com o homem de manto misterioso que não me foi apresentado, enquanto Shava afiava sua lâmina de canto. Com um pouco de dificuldade e a ajuda de Erevan me sentei.

— Bem, eu sou um aventureiro. Mais precisamente um guerreiro. — Erevan ouvia atentamente. — Recebi uma missão da guarda de Tur-Tur para realizar uma manutenção no esgoto... — Olhei para o lado, tudo bem que eles pediram para limpar e me deram um esfregão, mas ele não precisa saber disso. — Então pensei em reativar a área de tratamento, quando fui atacado por uma gosma ácida... E depois... — Minha mente divagou, lembrei da espada em meu peito e da máscara. — Fui atacado covardemente, por uma pessoa com uma máscara...

— Pera... Máscara?! Como era essa máscara?

— Não me lembro... — A essa altura os outros já haviam percebido o teor da nossa conversa. — Não vi direito, tava meio escuro... Mas era uma máscara branca.

— Então o culto de Vecna realmente está aqui — a voz grave pertencia ao homem encapuzado. — Nossas fontes eram confiáveis no fim das contas.

— Culto... de Vecna? — O que faziam aqui em baixo? Olhei para Erevan perplexo.

— Bem, é um culto devoto ao deus dos mortos, Vecna. Eles usam máscaras e mantos pretos...

— ... Sim, — interrompi — eu sei, já ouvi sobre mas o que tão fazendo aqui nos esgotos?

Erevan se encolheu um pouco, abatido. Antes que pudesse me desculpar, o homem de manto me respondeu. — Temos informações que levam a acreditar na existência de ruínas em alguma parte do subterrâneo, essas ruínas podem conter um artefato importante para o culto. — O homem se senta com pompa. — Viemos aqui para capturar o artefato primeiramente.

— Artefato? Ruinas? — Neguei — em um esgoto?

— Não necessariamente.

Barbena passou o braço em meus ombros, virando a caneca com bebida. — Tur-Tur foi criada em cima de um lugar véi podi. Bla! Bla! Bla!

— Barbena, se for tomar a parte da explicação, que explique com o mínimo de decência.

— Não enche o saco Balthazar, encha a caneca. Mais bebida!

As informações eram demais para minha cabeça, tentei assimilar enquanto os dois discutiam. Foi então que Erevan veio até mim, portando minha espada. Por um momento esqueci daquele caos.

— Isso aqui é seu né?

— Um anjo... — Murmurei.

— O que?

— Nada! — Peguei a espada com cuidado. — Obrigado.

— Não foi nada. Bem, se quiser você pode vir com a gente.

— Negativo — Shava que até então estava em silêncio se pronunciou. — Nosso grupo já funciona muito bem sem um peso morto.

— Irmã!

— Shava, mais uma pessoa na linha de frente não vai atrapalhar — disse Barbena. — Além do mais, não podemos deixar ele sozinho aqui.


— Não me oponho à presença do guerreiro. Ele pode conter informações de imenso valor.


— Bem são três a um..


Shava deu de ombros.

— Quero saber desde quando viramos uma democracia?

— Desde sempre — Erevan segurou minha mão. — Então o que diz?

Fiquei assustado a princípio, mas logo sorri. — Tudo bem, acho que posso ficar até me vingar do mascarado.

— Ótimo! — Não escondeu o ânimo em sua voz. — Descanse, vamos partir em meia hora.

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⏰ Última atualização: Sep 01 ⏰

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