seventeen

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EDMUNDO PEVENSIE

Eu não consegui dormir. E se consegui, eu não percebi. Porque eu só me lembro de permanecer com os olhos abertos e encarando o teto por um tempão.

Pedro nem percebeu quando saí, e muito menos quando eu cheguei. Ainda bem, porque eu não estava a fim de dar satisfações a ele. Não estava com cabeça para isso.

Uma poça de água havia se formado ao meu redor. Isso não podia ser real. Não parecia real. Eu realmente desejava que tudo aquilo tivesse sido um sonho. Mas o chão úmido não me permitia pensar assim.

Assim que escutei meu irmão se mexer, eu fechei os olhos e fingi estar dormindo. Afinal, se ele me visse naquele estado, que explicação eu poderia dar? Preferi fazer isso, e pensar em algo mais tarde.

Depois de algum tempo, escutei passos que ficaram cada vez mais distantes, até que eu parasse de ouvi-los. Abri uma fresta do olho, para conferir se estava sozinho. Relaxei os ombros quando percebi que ele tinha saído.

Passei as mãos pelo rosto, cansado, e toquei levemente meus cabelos, percebendo que só estavam meio úmidos. Minhas roupas estavam ainda úmidas também. Engoli em seco, sentindo o arrepio na espinha causado pelo frio das roupas molhadas.

Esperei alguns cinco minutos, e resolvi ir lá fora. Estava entediado, e meus pensamentos giravam em torno das mesmas coisas.

Quando pisei meus pés em um ponto em que dava para ver a fogueira, notei minhas irmãs, Sr Tumnus e Caça Trufas, — aparentemente tinham acabado de se juntar a eles —  Caspian e seu tutor sentados ao redor dela. Pedro não estava aqui.

Onde ele poderia estar? Espere, S/n também não. Engoli em seco, sentindo um incômodo dentro de mim.

Assim que me dei conta, notei os olhos de Lucy me perfurando. Ela me fitou de cima a baixo, percebendo os meus imperceptíveis fios úmidos. Engoli em seco, sem saber o que fazer. Será que ela sabia?

Olhei para o lado de fora, onde toda a cena tinha acontecido, e percebi o tempo meio fechado. Entre ficar aqui e receber um sermão de Lúcia e ir lá fora reviver minha mais nova insegurança, eu não sabia o que era pior.

No fim, acabei escolhendo a segunda opção. Balbuciei um bom dia, quase inaudível, para as pessoas ali presentes e saí andando, sentindo o olhar da minha irmã queimar as minhas costas

Assim que senti os leves raios de sol no rosto, suspirei. Olhando para minha direita, alguns minotauros e centauros treinavam, simulando uma luta com suas espadas. Suas famílias estão psicologicamente muito abaladas com toda esta situação e as perdas que tivemos há alguns dias anteriores. Eu realmente espero que tudo isso acabe bem.

Olhando para minha esquerda, ao longe, pude perceber duas silhuetas. Só foi necessário eu dar uns três passos para que eu conseguisse reconhecer rapidamente a quem elas pertenciam. Minha garganta se fechou.

S/n estava sentada no ombro de Pedro, enquanto pegava uma fruta que não consegui identificar. Ela sorria, nervosa. Mas teve uma hora em que ela quase caiu para trás. Meu irmão a pegou e a colocou no chão antes que isso acontecesse.

Fechei os punhos. Meu irmão segurava firmemente sua cintura, enquanto encarava seus olhos. Eles estavam tão perto que eu quase que ia lá, e faria algo a respeito. Mas antes que eu fizesse, parei para pensar. Ontem não teve importância. Não deveria ter importância.

Estava prestes a ir embora, mas as próximas cenas congelaram meus pés no chão, de tanto choque.

Pedro a beijou. E ela retribuiu. Aquilo soou como uma facada no peito para mim. Era como se eu pudesse escutar cada pedaço do meu coração caindo e quebrando.

flipped.- Edmundo Pevensie & S/nOnde histórias criam vida. Descubra agora