seven

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S/N SINGER

Susana nos direcionava para o lado de fora, Lu em silêncio e eu com os pensamentos distantes. A ideia de pegar em armamentos de guerra soava estranho para mim. Se me contassem há uma semana atrás que eu estaria em outro mundo, e lutaria numa guerra, certamente eu não acreditaria.

É estranho pensar o quanto minha vida mudou em dois dias. Há duas noites eu dormia na minha cama macia, nos Estados Unidos. Agora, estou dormindo em um chão duro e gelado em uma espécie de caverna em outro mundo.

Em meio a estes pensamentos, minha mente sofre um estalo: eu precisava vestir meus shorts. Não me sentiria confortável em lutar ou me mexer enquanto uso um vestido, sem um short por baixo.

— Ah... podem ir na frente? Tenho que vestir meu short.— disse, fazendo a atenção de Susana se voltar para mim.

Ela estava conversando com um fauno, enquanto esperava ele pegar o melhor arco para mim. Achava que o melhor seria um exagero para uma pessoa que nem sabe manuseia-lo. Mas, a insistência de Susana me fez desistir de tentar argumentar.

Su assentiu com um maneio de cabeça, enquanto Lucy voltava a conversar com o fauno normalmente, depois do seu pequeno momento reflexivo.

Retornei correndo para o quarto, passando em frente a sala da mesa de pedra. Mesmo tendo passado por alguns segundos, pude ouvir gritos da sala. Aparentemente, Pedro e Edmundo discutiam. O que não fazia o menor sentido, já que estavam em concordância com relação a invasão ao castelo.

Em meio a estes pensamentos, vesti meu short preto colado, próprio para exercício físico. Graças a Deus, ele já estava seco e pronto para ser usado. Não ia conseguir me mexer de forma confortável sem ele.

Assim que atravessei o enorme corredor, notei que Susana não conversava mais com o fauno, e que não estavam mais ali. Provavelmente estavam lá fora me esperando. Não queria deixá-los esperar muito, então apertei os passos.

Mas, logo os reduzi quando ouvi alguns gritos de discussão vindos da sala da mesa de pedra.

"Edmundo, você não está entendendo, não é? Por que tem que ser tão teimoso?"— questionou Pedro em um tom de voz firme, o que me fez automaticamente me aproximar um pouco da entrada para tentar ouvir.
Ok, eu sei que isso está errado, mas não pude conter minha curiosidade.

— Pedro, você não entende que isso só vai nos atrasar? Eu não vou gastar minha energia com uma menina que nem se quer tocou em uma espada na vida dela! Isso será uma perda de tempo!— Edmundo rebate, fazendo meu coração gelar.

Eles estavam falando de mim.

— Ela está aqui pela mesma razão que nós.— afirmou Pedro, enquanto Edmundo fica uns instantes em silêncio. — Você precisa ajudar, Edmundo. Você é um dos melhores espadachins que eu conheço.

— Você enlouqueceu? O que você espera que ela aprenda em 24 horas?— Ele solta uma risada de escárnio, e volta a encarar o loiro.— Ah, já sei: a não se matar com a própria espada.

Esse comentário me irritou profundamente, ao mesmo tempo que me entristeceu.

— Edmundo, S/n é especial. Eu sei que é.— Pedro afirma, depois de alguns segundos em silêncio.— Ela não está aqui por acaso. Ela vai nos ajudar de alguma forma.

— Especial?— Edmundo diz, com desdém, soltando uma risada nasal.— Preste atenção: eu não vou me meter!— diz, pausadamente.— Faça o que você quiser, então!

Depois de alguns instantes em silêncio, escuto uma pancada forte em uma superfície dura, fazendo com que eu automaticamente dê um pulo de susto.

— Mas saiba de uma coisa...— Edmundo retoma a fala.— No campo de batalha, se ela estiver morrendo ou algo assim, não moverei um dedo para tentar ajudar!

Quando ouvi essas palavras, foram como um golpe no peito. Senti uma estranha vontade de chorar. E se... Edmundo estiver certo? Não quero atrapalhar. Antes que eu desse por minha própria conta, me afastei da sala com uma lágrima solitária escorrendo pelo rosto.

Fecho os olhos com força, enquanto as palavras de Edmundo ecoam na minha mente. Não é como se eu me importasse com o que ele pensa sobre mim, mas... não sei. Tenho medo de ser só um encosto, uma inútil e só atrapalhar.

Mas, e agora? O que posso fazer? Ficar aqui, enquanto as palavras de Edmundo Pevensie ecoam na minha mente? Remoendo letra por letra? Não.
Enquanto eu estou aqui, pessoas me esperam lá fora. Que acreditam em mim, e que se dispõem a me ajudar.

Limpo algumas lágrimas que escorrem pelo meu rosto. Vou me esforçar o máximo que eu conseguir. Simplesmente, tentarei varrer as palavras que acabei de ouvir para de baixo de um tapete.

Respiro fundo, antes de retornar minha caminhada com os olhos fixos para os raios de sol que começam a bater no meu rosto, conforme me aproximo da saída da tumba.

Assim que piso na grama macia e fofinha, noto que Susana me aguarda ao meu lado esquerdo.

— Desculpa a demora.— Respondi, esboçando um sorriso amarelo.

— Relaxa!— Susana sorri, simpática.— Agora vem, sem perder tempo.

Eu sorrio aliviada ao perceber a forma como as irmãs Pevensie me ajudavam, juntamente com o fauno que logo Su me apresentou como sr. Tumnus, um dos líderes dos arqueiros.

Começamos com um pequeno aquecimento e alongamento, para que os movimentos fossem melhor executados. Logo em seguida, Susana veio me ensinar a maneira certa de segurar o arco.

— Você direciona seu corpo para seu alvo.— Ela explica, apontando para um alvo improvisado a nossa frente. Tinham vários outros espalhados por todo o território.— Exige certa concentração. No meio da batalha, é difícil se concentrar. Mas você precisa se concentrar em onde está mirando, e lembrar de se direcionar para o alvo.

Ok. Não parece ser difícil. Ela explica que, se quero atirar a uma grande distância (de cima para baixo), a mira é como uma parábola. Geralmente, é um movimento executado com vários outros arqueiros de uma vez, explicou ela.

Agora chegou a hora de eu tentar acertar um alvo. Escolho um específico, e volto minha atenção para ele.

Lucy me observa, com cautela, assim também como o fauno e Susana. Isso me faz ficar um pouco nervosa, mas eu tento me concentrar na mira.

Estiquei o elástico do arco com uma flecha em mãos, e olho para o alvo. Assim que solto o elástico, observo o caminho que a flecha faz.

Simplesmente, ela acerta distante, no alvo de trás do que eu tinha mirado, fazendo com que eu me frustrasse e sentisse minhas bochechas queimarem.

Susana me deu outra flecha, seguida por uma e mais outra. E eu não tinha acertado nenhuma. Mas, mesmo assim, Susana e Lúcia permaneciam me incentivando.

Desta vez, a flecha acertou o grande círculo do alvo que eu tinha mirado, fazendo-me ouvir comemorações pouco atrás de mim. É... não acertei no meio, mas pelo menos acertei o alvo que eu queria. Olhei para as meninas e o fauno, que batiam palmas, felizes com o meu progresso.

Respirei fundo, e me concentrei quando Susana me deu outra flecha. Mirei em um alvo um pouco a minha diagonal direita, e puxei o elástico.

Quando o soltei, a flecha parou perto do círculo vermelho central, de certa forma tocando este e um pouco do branco ao redor deste.

— Parece que você está pegando o jeito!— Afirma Susana, entusiasmada, enquanto ouço mais palmas, fazendo-me sorrir tímida.

No instante em que olho para trás, empolgada, noto que não estão só as meninas e o fauno me assistindo: Pedro, Caspian e Edmundo estavam parados um pouco mais distantes das meninas, com um semblante admirado.

...

flipped.- Edmundo Pevensie & S/nOnde histórias criam vida. Descubra agora