Capítulo 1

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Clara POV

Música dos meus últimos anos:

"Se estiver se perguntando
Se me importo, eu não me importo
É a minha festa e eu farei o que eu quiser "

Essa música é da Jessie J, e ela por inteiro corresponde ao meu pensamento desde Paris.

Quando cheguei da viagem cortei o cabelo na altura do ombro e fiz mais mechas loiras, escutei músicas de cantoras mais feministas, como Jessie J e Beyoncé.

Doei e vendi a maioria das minhas roupas, dei espaço a outras de estilos que nunca havia usado. Comprei mais saltos, acrescentei batons fortes e escuros às minhas maquiagens... Aposentei o: "quero fazer o seu estilo", para o: "ei, eu tenho o meu próprio estilo, se não gosta, é só não olhar".

Depois de Paris eu me transformei em uma mulher mais forte, mais segura, mais autossuficiente e sobrevivente. Eu me tornei uma mulher melhor, que agora de fato tenho orgulho de ser, porque mandei para o inferno, ou para qualquer outro lugar que não vai voltar, a minha preocupação sobre a opinião dos outros.

Confesso que estive um pouco revoltada nas primeiras semanas, não aceitava conversas prolongadas nem com os meus amigos próximos da faculdade, pra mim todos eles eram machistas.

Após alguns meses encontrei horário para malhar algumas vezes na semana, eu descarregava todo o meu estresse nas aulas de lutas. A musculação parou de ser o essencial para mim e parti para o muay thai.

Na primeira aula o professor fez o aquecimento e iniciou com resistência física –como abdominal, pé de chinelo e corrida­– ensinou também o básico de chutes e murros, e a combinação entre eles. Até que na segunda semana de aula, nós partimos para o treino com o saco.

Lembro que o professor disse: "soquem o saco colocando a técnica e a força", eu deveria ser profissional e seguir o que o professor disse, mas quando ele apoiou o saco no ombro e indicou com a cabeça para que eu começasse, o rosto do Lukas apareceu no tecido de couro preto. Depois o rosto do Bernard e do Niall, meus momentos com eles e as vezes que eu chorei, sofri e me entreguei ao nada.

Meus murros estavam acelerados e constantes, eu mal lembrei de usar a perna, eu só soquei, soquei, soquei....

"Pronto, pronto!" O professor meio que gritou e eu parei. Ofegante e com as bochechas vermelhas. Meus dedos doíam e eu tirei as luvas para encontrar os nós dos meus dedos vermelhos, obviamente não fui à aula seguinte.

"Desculpa" eu disse e em seguida sai da sala, diante de olhares curiosos voltados para mim. Eles não sabem o quanto estou cansada desse tipo de olhar.

Não pude evitar, as aulas de muay thai tinham como propósito "de descarregar". Estou num processo de transformação, modificando meu jeito de pensar e agir, para isso preciso limpar do meu corpo, todo o veneno e vestígio do passado.

Lembro-me de beber o resto d'água da minha garrafa e ir pegar a minha bolsa na parte dos armários quando o professor se aproximou de mim e perguntou se estava "tudo bem" - não, não estava tudo bem-, e mesmo assim eu afirmei com a cabeça e retribui com um sorriso indiferente.

"Tem certeza?" -ele insistiu.

"Sim, professor, eu tenho".

"Muitas pessoas procuram os esportes de lutas por causa do emocional, mas esse não é o rumo certo para a situação, se esse for o seu caso, eu aconselho outro tipo de ajuda".

O que?! –pensei.

"Não é o meu caso", fechei o armário com força e coloquei a mão na cintura –ato meio infantil, mas tem coisas que não consigo controlar- , "O que você quer dizer com isso? Está insinuando que devo procurar um psicólogo? Você não sabe nada sobre mim!".

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