Capítulo 2

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Letícia POV.

Falar sobre esses 2 últimos anos desde que voltei de Paris não é assim tão complicado. Resumindo de forma básica e rápida: estou quase formada em Direito e com estágio muito bem remunerado. Eu tenho tudo que eu queria durante esses anos... Menos o Harry.

Tem sido tão complicado depois dele, você não imagina o quanto.

Vivi com a ideia de que é melhor mantê-lo por perto como um amigo do que tentar viver um romance e tudo se perder. Não falar com ele nunca mais tornou-se um medo constante, meio que dar "bom dia" e falar sobre o meu dia a ele virou rotina, e o pavor de perder aquilo me fez ter essa distância confortável.

Confortável uma merda, né? Porque a verdade é que nunca deixei de gostar dele, e de imaginar o que fazíamos e de como seria mágico que morássemos na mesma cidade. Mesmo ele viajando muito, imagina como seria perfeito morar em Londres e saber que mesmo que ele viaje o mundo inteiro, e eu acompanhar em várias dessas viagens, sempre voltasse para casa? Para mim...

Esse tipo de sonho, que tornou-se meus pensamentos durante meses, não é real quando mora-se no Brasil, e mesmo que a resposta seja fácil "Ah, Letícia, ele tem dinheiro para te visitar até se você morasse na China." Dinheiro nunca foi o problema, e sim o fato do meu lugar não ser o mesmo dele. Ele iria passar 15 dias comigo? Um mês? Seja quanto for o tempo, ele depois voltaria para a Inglaterra, eu não quero um namorado que me visite, eu quero alguém que me tenha como o seu "lugar de origem" assim como quero alguém dessa forma para mim, entende?

Não quero viver da saudade, eu tenho pavor dessa palavra desde que voltei de Paris. Eu descobri que ela é a culpada de tantas lágrimas e dores que sinto, claro que possui seu lado bom por me fazer lembrar o quanto fui feliz no passado, mas junto com as lembranças, vem uma nota escrita "Foi uma fase, vocês não irão acontecer novamente."

Expliquei à Mari e à Clara essa minha linha de pensamento milhões de vezes, mas não há, até hoje, nenhuma explicação no mundo que as façam mudar de opinião de que eu sou a "otária" da história em não ficar com quem eu amo. Os sermões delas pioraram depois que voltei de uma viagem do Rio de Janeiro.

A turnê do One Direction veio ao Brasil no mesmo ano que voltei de Paris, acabei perdendo dois dias de aulas importantes para passar quatro dias com o Harry, e sinceramente... Foi mágico. Eu estava com tanta saudade olha só essa palavra infeliz na minha vida desde o começomeus sentimentos estavam tão frescos dos toques dele... Não considero melhor que Paris porque no Brasil o tempo foi menor, mas foi diferente, eu não era mais uma desconhecida, eu era alguém que ele também estava com saudade, e nem posso descrever com palavras certas como seus olhos ficaram brilhantes quando ele abriu a porta do seu quarto para me encontrar sorridente, quase chorando e com a minha mala do lado.

Depois dessa viagem mágica eu nunca mais o vi e as coisas foram decrescendo. As "coisas" que digo é o nosso relacionamento. Culpo-me um pouco, sei que o Harry se afastou bastante de mim por causa do escudo que ergui entre nós. Eu não aceitei nenhuma viagem para o exterior com ele, e também evitei ele vir até aqui para me ver. Ele conseguia todas as soluções para os meus problemas até eu precisar ser franca e dizer que não queria ficar com ele.

É... Aquele dia foi bem complicado, e lembro-me muito bem, foi pouco mais de oito meses depois da nossa viagem para o Rio de Janeiro. Estávamos em um vídeo chamada, no mês de março, ele queria que eu viajasse para Los Angeles e passasse uma semana com ele. Esse era o vigésimo convite dele, acho eu, e eu sempre a minha desculpa era "não posso por causa das aulas", mas no mês de julho tenho todo o mês de férias, e foi então quando, no calor do momento, e na minha falta de desculpas, soltei esta frase mentirosa elevada ao infinito, mas tão cheia de evidências para ele.

Lembro-me de como ele ficou calado quando eu o disse, ele nem piscou os olhos, e tenho dúvidas se ele respirava também. A reação dele me surpreendeu quando começou a gritar, dizendo "Mas eu sempre fiz tudo por você e é isto que recebo? Por que não de disse antes?", claro que ele exagerou em algumas conclusões, até disse que eu estava brincando com os sentimentos dele e tudo mais.

Precisei escutar tudo calada, e foi péssimo porque era como se eu concordasse com tudo que ele estava dizendo, mas na realidade eu não queria chorar na frente dele, eu não quis me render aos meus sentimentos e permitir que entrássemos mais nisso, sabendo eu que um dia iria acabar de forma trágica, e sinceramente, eu não suportaria esse tipo de dor. Era melhor acabar com aquele sentimento enquanto tínhamos tempo.

Sacrifiquei o meu bem-estar para poupá-lo de se envolver mais comigo, achei melhor que ele ficasse magoado comigo, achando que eu não o amava, e deixasse-me para que ele vivesse melhor.

Nunca insinuei que ele me deixasse para encontrar outra pessoa, até me dói pensar ele dormindo com outra garota, mesmo sabendo que isso acontece, e chamando-a de "amor" enquanto pede a toalha que esqueceu antes de entrar no banheiro, mas mesmo sem dizer propriamente as palavras a ele, eu dava, novamente, todas as evidências para ele sair com outras mulheres e seguir sem mim.

Foi nesse enredo da minha burrice inteligente inteligente ao menos para mim que começamos a nos falar menos. Eu o vi se afastando cada vez mais e não fiz nada. Ele demorava a responder minhas mensagens e às vezes não atendia minhas ligações, fiquei arrasada até perceber que comecei a fazer o mesmo que ele.

Tive momentos de crises em que achei que nunca mais voltaríamos a nos falar normal, com conversas de horas e brincadeiras. Até senti falta das nossas discussões por besteiras, mas dias iam e vinham e ele voltava a falar comigo, dizendo que "sentiu saudades" podemos apagar essa palavra do dicionário, por favor? e tínhamos outras dessas conversas que só posso definir como "nossas", e ele estava presente na minha vida de novo.

Lembro também que em uma das nossas discussões ele me disse que eu o deixava louco, e às vezes acho que sou louca mesmo. Eu sempre dizia a ele "não podemos ser mais do que amigos" e dias após, ou até na mesma conversa, eu explodia dizendo "QUEM É AQUELA BITCH QUE VOCÊ SAIU ONTEM A NOITE?"

Hahahahahahahaha...

Não sei por que parece engraçado contando agora se antes eu chorava quando via fotos dele saindo de restaurante com alguma modelo, modelo tal que estava no meu lugar de ter o privilégio de compartilhar um assunto legal e risadas com o meu homem. Meu homem, isso mesmo, é como eu o chamo de vez em quando, e ele até gosta.

Nossa, agora que percebi como essa conversa parece daquelas de amigas que se encontram na rua e passam horas conversando. Espero que não tenha lhe entediado.

Enfim, eu não tive nenhum outro namorado depois do Harry, é difícil encontrar alguém que eu me interesse o suficiente, é difícil competir com ele. Também, mesmo que eu não pareça tão melancólica, eu ainda choro por esse inglês, especialmente quando bebo. Ainda ligo para ele de madrugada quando tenho um pesadelo que o envolva, ligo também quando tenho um sonho bom, ligo-lhe para desejar boa viajem ou bom show.

Nunca mais tive um diário falando sobre ele ou sobre qualquer coisa, e ele ainda continua sendo o amor da minha vida.

Ainda continuo sentindo falta dele para me aquecer nas noites frias, sinto saudade de quando ele beijava-me na região da minha tatuagem quando tirava minha blusa antes da gente fazer amor, sinto falta de quando ele me acordava já com um copo da Starbrucks na mão, ainda ecoa nos meus ouvidos a forma que ele chamava meu nome em um gemido cheio de luxúria, posso sentir nos meus dedos o contorno dos seus lábios eu adorava fazer isto quando deitávamos pra dormirHarry cantando uma das suas músicas favoritas, apenas ao som do violão, ainda continua sendo as minhas músicas prediletas.

Sinto falta de tantas pequenas coisas que me torturam sempre que paro para lembrar, muitas vezes nem preciso parar. Por isso que não suporto a "saudade", eu tenho vivido nela, habitada em uma casa de medo, que não aceitar abrir a porta para a liberdade, e nem deixa a luz da tentativa ilumina-la.

Confesso que por culpa do meu pessimismo, talvez eu esteja deixando de viver a melhor coisa da minha vida. Mas como sempre, deixo que forças maiores do destino apareçam e me levem de volta para ele, ou me levem para um lugar que eu possa finalmente sentir-me soltando fogos de artifícios de felicidade, e que façam esse tempo difícil sumir por completo, e não apenas periodicamente até outra onda de lembranças atingir-me.

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