Enquanto ensinava Cedrick na biblioteca, encontrei um livro interessante, com um título que chamou minha atenção.–Isekai, Uma História De Transmigração? -tive que pegar aquilo e ler.
–Ah, é de uma autora que morreu internada em um hospício. -explica Cedrick.
–Por que ela foi internada? -pergunto, meio assustada.
–Ela foi declarada louca, porque dizia ser renascida de outro mundo. Ninguém acreditou, é claro. E essa palavra louca, Isekai? Óbvio que era inventada.
Okay, já engoli em seco aqui.
E eu já vi muitos animes, li muitas light novels e passei a noite lendo apaixonadamente manhwas para entender o que é um Isekai.
–Eu vou ler, é uma história intrigante. -digo, tentando disfarçar com um sorriso.
Vou até Cedrick e vejo que ele já terminou o dever.
Fico satisfeita.
–Muito bem, você é um menino inteligente e aprende bem rápido. Estou orgulhosa.
–Sério? -ele me pergunta, animado, e com olhos arregalados.
–Claro!
Ele me abraça na cintura e eu bagunço seu cabelo.
Cedrick passou a se agarrar a mim com muita facilidade, o que achei bom por um lado, mas preocupante de outro.
Era bom que confiasse em mim, mas ao mesmo tempo é preocupante devido a nossa situação de casados, e ele pode acabar ficando muito dependente por poder ter um adulto com quem finalmente possa contar.
Preciso dar um jeito de socializar esse menino, para que ele desenvolva relacionamentos adequados para a sua idade.
Mas já imagino as expressões dos pais das crianças quando eu disser que sou a esposa do Grão-Duque de 10 anos. Eu não tenho vergonha em admitir que minha expressão de julgamento seria igual, pois se não fosse estaria sendo hipócrita.
Falo para ele que depois vamos jogar um pouco e ele sai para treinar esgrima com um tutor.
Depois de quase enlouquecer resolvendo uma papelada de acordos do Grão-Ducado com o banco, eu pego o livro.
A autora descreve a experiência dela em outro mundo, como alguém vinda dos Estados Unidos, e como foi a adaptação para uma história de época que misturava um pouco de medieval, um pouco do estilo renascentista com uma releitura levemente moderna, a lembrando de um cenário steampunk.
E sim, essas palavras a condenaram a uma vida internada contra a vontade.
Dentre todas as descrições, a melhor descrição para minha impressão do estilo desse mundo é que ele me lembrava um pouco o jogo Eldarya, um Otome Game que fez um relativo sucesso de onde eu vim, um cenário em parte medievalista/renascentista com um designer meio futurista. Então essa autora não errou ao comparar a um steampunk.
Fiquei perplexa com a descrição dela, pois obviamente ela era do mesmo mundo que eu.
No livro, ela explica que bateu fortemente a cabeça e quando acordou, percebeu que tinha vivido uma vida anterior a essa. Foi difícil se adaptar a uma vida e um nome que não era dela e ser taxada de louca.
Tentando entender o que aconteceu consigo, ela viajou pelo mundo querendo as respostas.
Menellia, a autora, diz que encontrou uma coisa chamada Ampulheta Primal.
Isso acendeu uma lâmpada em minha mente.
Me lembrei do extra, em que Lisavetta encontrou essa tal Ampulheta Primal e recebeu uma nova chance de renascer.
E se essa chance tiver alguma ligação com a minha chegada a esse mundo no corpo dela?
Continuei lendo.
A Menellia explica que ao que parece, essa Ampulheta Primal tem alguma relação com o tempo e o espaço entre as dimensões, e só é visível neste mundo, não sendo vista em outros.
Então existem outros mundos, e de certa forma as histórias que lemos são histórias que aconteceram ou poderiam acontecer em outras dimensões, e a Ampulheta guarda essas memórias e as envia para sejam registradas no macrocosmo mental da humanidade.
Quando Lisavetta pediu uma chance de ter uma vida normal com uma família amorosa, a Ampulheta Primal deu essa chance a ela, é o que posso concluir.
Mas o porquê de eu ter chegado aqui?
Continuo lendo, e descubro uma notícia esquisita e aterradora.
Esse mundo tem seu equivalente do Diabo, chamado Senhor Das Trevas por aqui.
Os Isekai, aqueles que podem vir para esse mundo, na verdade estão vindo em corpos que foram consagrados ao Senhor Da Trevas.
Para reparar parte do dano, a Ampulheta Primal traz outra pessoa para esse corpo.
Essa consagração era feita em um terrível ritual, quando a criança tinha seis anos, seis meses e seis dias.
Os adultos que vendiam essas crianças para os rituais ganhavam dinheiro, poder e influência.
Então quando a criança, afetada pelo ritual maldito crescia, geralmente crescia com disfunções psicológicas, como paranoia, possessividade e obsessão excessiva por certos indivíduos, e se o ritual fosse especialmente violento, sexualidade distorcida, ficando ou hiperssexuais, ou com fetiches sobre violência e controle.
Eu deixo cair o livro no chão quando leio isso, pois agora todas as peças se encaixam em minha mente.
Porque quando Lisavetta tinha seis anos, seis meses e seis dias, ela tinha memórias de um ritual esquisito e violento em que sentia muita dor, ela nem sabia o que estava acontecendo.
O pai de Lisavetta a vendeu para o Senhor Das Trevas, e por isso ela ficou tão desequilibrada. Todo aquele jeito surtado e obsessivo vinha do que esse maldito fez com ela quando era uma criança.
Era uma coisa horrível demais em que se pensar, mas agora eu entendia de onde vinha tanta loucura e descontrole.
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𝗖𝗼𝗺𝗼 𝗦𝗼𝗯𝗿𝗲𝘃𝗶𝘃𝗲𝗿 𝓐 𝓤𝓶 𝕽𝖔𝖒𝖆𝖓𝖈𝖊 𝕯𝖆𝖗𝖐
FanfictionEu estava lendo um fanfic de Romance Dark quando de repente entrei na história. Para piorar, entrei justo no corpo da vilã, Lisavetta, que fez coisas horríveis com o protagonista. Agora preciso encontrar uma maneira de escapar e sobreviver. Mas será...