12. Um mês

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Maya Matthews

Viver sob a máscara de traição era um fardo que eu carregava a cada dia na comunidade inimiga de Negan. Um mês se passou desde que me infiltrei, e durante esse tempo, mergulhei nas dinâmicas e segredos obscuros do grupo. À superfície, eu era uma aliada, uma cúmplice nos planos que tramavam contra o Santuário, mas nas sombras, carregava o segredo e a lealdade a Negan.

A noite estava densa quando deslizei silenciosamente pelos limites do acampamento hostil. Cada passo era calculado, cada som abafado pelo manto da escuridão. A adrenalina pulsava em minhas veias, pois a tarefa que me aguardava era crucial para o Santuário.

Encontrei Negan em um local predeterminado, distante das patrulhas noturnas. Seu olhar, uma mistura de expectativa e cautela, encontrou o meu quando emergi das sombras. O encontro era clandestino, um pacto silencioso entre aliados improváveis.

— Maya, você está bem? — ele questionou em um sussurro, seus olhos escrutinando cada detalhe do meu rosto.

— Estou bem. — Minha voz era um murmúrio, quase perdido na noite. — Preciso te contar algo importante.

Nossos passos nos levaram a um lugar mais isolado, longe de qualquer possível ouvido curioso. Sob o véu das árvores, revelei as informações que coletei sobre os planos da comunidade inimiga. Detalhes sobre o ataque planejado, as estratégias que planejavam empregar e os pontos fracos que poderíamos explorar.

— Eles pretendem atacar o Santuário daqui a três noites. — As palavras fluíram, carregadas de urgência. — Temos que estar preparados.

Negan assimilou as informações com uma expressão calculista. O peso da responsabilidade pairava entre nós, e cada palavra era um prego no caixão da traição que construí para me infiltrar.

— Você está arriscando muito ao fazer isso, Maya. — A preocupação em sua voz era palpável.

— Eu sei, mas Alexandria e o Santuário estão interligados agora. Se um cai, o outro também. — Expliquei, reforçando a importância da nossa colaboração.

O olhar de Negan se encontrou com o meu, e em silêncio, compreendemos a complexidade da dança traiçoeira que estávamos executando. Cada decisão, cada passo, moldaria o futuro incerto que enfrentávamos.

— Como estão todos? — Perguntei com receio de descobrir algo que não queria, a morte de alguém, qualquer coisa ruim.

— Estão ótimos, Carl sente sua falta, me diz o tempo todo que isso é loucura que temos que buscar você de volta, mas sabe como é, Carl sendo Carl. — Negan respondeu com uma pitada de humor.

Um peso se instalou em meu peito ao ouvir sobre Carl. Era uma mistura de saudade e algo mais intenso, Carl fazia meu coração bater forte mas a última lembrança que tinha dele, era dele beijando Enid e aquilo ainda vinha na minha mente.

—Melhor eu voltar pra lá— Não falei nada sobre Carl, apenas fugi outra vez desse assunto— Negan? Tem pessoas boas lá, você não vai matar todos, vai?

— Você tá arriscando sua vida para me ajudar, me diga quem eu tenho que matar pra conseguir a lealdade deles.

Ele iria fazer exatamente o que fez na série com Glenn e Abraham, coisa que não aconteceu nessa realidade com o grupo de Alexandria mas iria acontecer em outro, eu deveria sentir compaixão mas eu não conseguia, os líderes dessa comunidade eram pessoas horríveis, abusadores, pedófilos e nem os próprios habitantes estavam seguros perto deles.

A noite envolvia a comunidade inimiga de Negan quando retornei ao meu disfarce, escondendo a verdade por trás de uma expressão calculada. Meus passos eram silenciosos, quase como se temesse ser ouvida pela própria escuridão. No entanto, por baixo do exterior impenetrável, a tensão crescia. A missão de traição pesava em meus ombros, mas também sabia que cada passo que dava se tornava uma peça crucial no jogo contra aqueles que ameaçavam Alexandria e o Santuário.

Na manhã seguinte, a luz do sol iluminava a comunidade. Encontrei Derek no ponto de encontro designado para nossa missão de busca por comida. Ele era um jovem da minha idade, alguém que, ao longo do último mês, se tornara uma peça vital do quebra-cabeça que construí para me infiltrar. Nossos olhares se encontraram, e o silêncio entre nós parecia carregar a complicada dança de lealdade e traição.

— Maya, como foi lá fora? Na última missão?— Derek quebrou o silêncio, seu olhar cheio de curiosidade e preocupação genuína.

— Foi... complicado. — Respondi de maneira vaga, sem revelar a verdade por trás das palavras.

Conversamos sobre a missão, os detalhes da busca por suprimentos essenciais para manter a comunidade. Derek era alguém que eu podia confiar, e cada palavra trocada entre nós era uma forma de manter essa confiança intacta mesmo que ele não soubesse a verdade.

As folhas crocantes sob nossos pés ecoavam na densa floresta, enquanto Derek e eu nos aventurávamos sob a filtragem dos raios de sol dançantes. A atmosfera silenciosa era preenchida apenas pelos murmúrios suaves da natureza ao nosso redor, proporcionando um refúgio momentâneo da tensão constante.

Derek, com seu jeito charmoso, lançou um olhar em minha direção, seu sorriso sugerindo um flerte inocente.

— Você sabe, seus olhos ficam incríveis à luz do sol. — Derek comentou, provocando um rubor suave que se espalhou pelas minhas bochechas.

Soltei uma risada nervosa, me sentindo ser pega de surpresa pelo elogio improvisado enquanto passávamos por um lugar iluminado.

— E você,  Derek, até que é bonitinho quando tenta ser apaixonante. — Respondi com um sorriso travesso, apreciando a leveza do momento.

O flerte entre nós era como uma pausa na narrativa complexa de nossa missão, chegamos em uma cidade próxima, estava abandonada e o som dos zumbis era a única coisa que vinha dela, entramos com cuidado em uma das casas e por sorte, havia bastante comida enlatada.

A necessidade de encontrar mais comida nos levou ao segundo andar daquela construção abandonada. O cheiro de mofo pairava no ar, e cada passo era acompanhado pelo rangido sinistro do assoalho. Enquanto investigávamos um dos quartos, uma onda de zumbis, ocultos até então, emergiu da escuridão.

Cinco deles avançaram rapidamente, suas mãos estendidas ansiosas por carne fresca. O pânico se instalou, e o som das entranhas famintas deles reverberou no ambiente sufocante. Estava cercada, incapaz de escapar da investida inesperada.

Em um ato de coragem, Derek subiu para o segundo andar ao ouvir os grunhidos frenéticos. Ele agiu com velocidade, empunhando uma arma improvisada. Seus movimentos eram precisos, mirando nas cabeças dos zumbis com determinação. Conseguiu neutralizar a ameaça, mas eu já estava à beira do abismo, presa em um canto pelos mortos-vivos.

Derek se aproximou, a expressão de alívio pintada em seu rosto quando percebeu que eu ainda estava ilesa. O agradecimento que pulsava dentro de mim encontrou uma saída quando, impulsivamente, o abracei com força. O calor do abraço era uma mistura de gratidão e sobrevivência.

Ele correspondeu ao gesto, seus braços me envolvendo com firmeza. Então, em um momento imprevisível, os lábios de Derek encontraram os meus em um beijo inesperado. A surpresa inicial cedeu lugar a uma sensação de calor, e por um breve instante, eu esqueci o último acontecimento mas logo me afastei, lembrando toda a situação de estar sendo uma infiltrada na comunidade dele e o mais importante, eu não tinha o direito de brincar com os sentimentos de ninguém, eu sabia que meu coração já batia por alguém, por mais que esse alguém não merecesse.

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