10. Sentimentos reais

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Maya Matthews

Carl se aproximou, o peso de sua expressão refletindo as cicatrizes daquela noite tumultuada. Ele pediu para conversar, e, ao se sentar ao meu lado na cama, senti a gravidade do momento.

- Maya, eu preciso te agradecer. Se não fosse por você, eu... eu não sei o que teria acontecido. Você salvou minha vida.

Olhei no olho dele, reconhecendo a sinceridade de sua gratidão. Respondi com simplicidade:

- Carl, eu não fiz nada que você não faria por qualquer um de nós. Acho que isso é comum aqui, não?

-Sim... É que... - Foi a primeira vez que eu vi ele gaguejar em todo esse tempo aqui, ele mordia o lábio inferior como se estivesse pensando no que iria falar.

- Você não veio me agradecer né?- Perguntei e ele suspirou negando com a cabeça.

Enquanto falávamos, notei uma hesitação no olhar de Carl, como se algo mais estivesse pairando no ar. Ele suspirou, parecendo incerto sobre como expressar o que estava sentindo.

- Maya, tem algo que eu preciso te dizer... Eu não sei explicar direito, mas é como se... eu sentisse algo por você. Algo que eu não entendo.

Seu tom era honesto, e eu percebia a confusão em seu olho. Diante da intensidade do mundo ao nosso redor, sentimentos emergiam de maneiras imprevisíveis. Encarei Carl, reconhecendo a complexidade da situação e deixando um silêncio pairar, consciente de que aquilo podia mudar muita coisa entre nós.

- Você é insuportável, me irrita mais que qualquer um no mundo inteiro e mesmo assim, não consigo parar de pensar em você - Ele completou e eu pude praticamente ouvir meu coração de tão rápido que ele batia.

Um rubor de surpresa e envergonhamento coloriu meu rosto enquanto processava as palavras de Carl. Contudo, olhei no olho dele, deixando a sinceridade guiar minha resposta.

- Carl, em meio a toda essa loucura, é estranho... mas eu também sinto algo. Eu gosto de você, de uma forma que eu não esperava.

O nervosismo permeava minhas palavras, mas a autenticidade do momento prevalecia.

A proximidade de Carl aumentou, suas mãos suavemente acariciando minhas bochechas. A tensão no ambiente, um eco das incertezas da minha estadia desse mundo. O olhar dele encontrou o meu, e em um momento de impulso mútuo, nossos lábios se uniram em um beijo.

-Não- Me afastei quando dei conta do que estava acontecendo- A Enid, não é justo com ela.

- Eu não namoro a Enid, ela que sempre força isso, como se não aceitasse que a gente teve um namoro de criança aos catorze anos e que não ia voltar a acontecer- Explicou e eu suspirei ainda sim preocupada.

- Antes de qualquer coisa, você precisa conversar com ela, independente de ser algo forçado por ela ou não.

Carl assentiu, compreendendo a necessidade da transparência. A tensão permanecia no ar, mas a decisão de enfrentar a realidade era inegável.

-Ah mas me dá outro beijo, eu tô todo quebrado e vim aqui me declarar pra você, eu mereço - Brincou fazendo biquinho e eu dei um beijo na bochecha dele, fazendo ele rir.

Foi a primeira vez que vi o lado mais infantil de Carl, a risada tomava conta do quarto enquanto fazíamos cócegas um no outro, senti a risada escapar, rompendo com as preocupações temporariamente.

No entanto, quando chegou a minha vez de retribuir, Carl fez uma expressão de dor, me deixando instantaneamente preocupada.

- Tô tirando uma com a sua cara, sua idiota!- Ele disse, soltando uma risada contagiante.

Ri junto, aliviada pela brincadeira inofensiva mas fingi estar ofendida, fazendo ele vir me dar beijos na bochecha.

-Eu acho que te trocaram por outro Carl lá em Woodbury, cadê o mal humor?- Perguntei fingindo analisar ele e ele deu de ombros.

-Amanhã ele volta, hoje tô sedado demais pra ficar com raiva do mundo.

O tempo avançou, e a exaustão do dia pesou sobre nós. Adormecemos juntos, buscando refúgio momentâneo nos braços um do outro. No entanto, o descanso foi interrompido por pesadelos intensos que me assombravam.

O rosto do Governador, sua presença sinistra, tudo se desdobrava em imagens aterrorizantes. A agonia dos eventos passados ecoava nos recessos da minha mente, transformando o sono em um campo de batalha particular.

De repente, acordei em sobressalto, envolta em lágrimas e soluços sufocados. Carl percebeu meu tormento e me abraçou com firmeza, oferecendo um conforto real em meio à escuridão do pesadelo.

-O que aconteceu? Você estava praticamente gritando- Perguntou e eu senti meu corpo tremer.

-Eu tive um pesadelo- Respondi ofegante e não demorou muito para Carl entender o que estava acontecendo.

- Estou aqui, Maya. Não vai acontecer de novo. Você está segura agora. - Ele sussurrou palavras de consolo, e eu me agarrei a ele, me permitindo encontrar abrigo em seus braços enquanto o rastro do pesadelo se desvanecia.

Ao despertar no dia seguinte, vi que Carl estava sentado no sofá ao lado da minha cama, me observando, senti a necessidade de esclarecer algo que pairava na minha mente.

- Carl, você passou a noite toda acordado me observando? - Perguntei, curiosa e surpresa.

Ele sorriu levemente, admitindo:

- Sim, queria ter certeza de que estava bem depois dos pesadelos.

A ternura daquelas palavras tocou meu coração, e eu agradeci com um sorriso antes de seguirmos com nosso dia. Mais tarde, ao caminhar pelos arredores, percebi Negan em um momento de introspecção.

- Alguma coisa te preocupa, Negan? - Perguntei, abordando ele de maneira cautelosa, não queria que ele decidisse que agora poderia ser inimigo de Alexandria e fazer as maldades que fez no episódio em que ele chega na série.

Ele olhou para mim, seus olhos refletindo uma mistura de pensamentos.

- Às vezes, me pergunto se todo esse poder que conquistei vale a pena. - Negan confessou, deixando transparecer uma vulnerabilidade rara.

Ofereci um conselho sincero:

- A lealdade verdadeira vem do respeito, não do medo. Nem sempre a violência é a resposta.

Negan refletiu sobre minhas palavras, e por um breve momento, percebi uma faceta menos austera em sua expressão. O peso das escolhas ecoava em seus olhos, e eu sabia que, mesmo em um mundo tão implacável, podíamos plantar sementes de mudança.

-Ta gostando de Alexandria?- Perguntei e ele riu concordando.

- O santuário é uma coisa mais séria, planos, muitos homens juntos, já aqui não, aqui tem algo que não vejo a muito tempo... Família- Respondeu olhando para Glenn e Maggie que se beijavam na frente de casa.

-Eles são um casal bonito não são? - Perguntei olhando também pro casal.

- Muito, Glenn me contou que iria ser pai e eu percebi que lugares como esse merecem ser protegidos, um filho não merece crescer sem o pai e um pai não merece ver um filho morrer.

Um Negan totalmente diferente do que eu conhecia, eu até gostava dessa versão dele e me acalmava em saber que ele não iria esmagar a cabeça de ninguém.

-Quem sabe, eu não encontre mais uma esposa, não é mesmo?- Fez piada e eu fiz cara de nojo.

- Só se as mulheres daqui enlouquecerem, velhote- Debochei e ele riu comigo.

Meu celular que estava no meu bolso vibrou, eu havia pego ele pra tirar fotos das pessoas daqui, caso eu fosse forçada a voltar pra casa novamente, me afastei de Negan e quando olhei o celular, havia uma mensagem, uma mensagem da minha madrinha.

"Me diz se está bem, estou preocupada e com saudades, volta pra casa filha, eu te amo!"

Wake Me Up • Carl Grimes Onde histórias criam vida. Descubra agora